Psicologia e Religião são debatidos em evento realizado pelo CRP-MG

A primeira edição do Psicologia em Foco de 2016 aconteceu nesta quarta-feira, 18/2, e teve como tema “Psicologia e a Religião: contornos e limites necessários entre fé, ciência e profissão”. O debate integra os eventos preparatórios para o 9º Congresso Regional de Psicologia (Corep). Para abordar o assunto, foram convidados a psicanalista Samyra Assad, membro da Escola Brasileira de Psicanálise e da Associação Mundial de Psicanálise e diretora da Clínica d’ISS, e René Dentz, filósofo, professor universitário e Psicanalista. A mesa foi coordenada pelo psicólogo e conselheiro do Conselho Regional de Psicologia – Minas Gerais, Túlio Picinini.

Na abertura, Túlio Picinini enfatizou a importância de se debater os campos da Psicologia e da Religião de forma qualificada, com atenção aos argumentos apresentados publicamente. “A nossa finalidade hoje é retomar este tema promovendo a qualificação da discussão política dentro da Psicologia. Não falo de política no sentido partidário, eleitoral, mas política como arte da negociação para a vida em um espaço comum, em um objetivo comum. Isso se aplica a todo esse processo do Corep e do Congresso Nacional da Psicologia”, reforçou.

Samyra iniciou sua fala tratando da relação entre religião e humanidade. “Nós nos deparamos com a presença da religião nas nossas vidas de várias formas, seja para cumprir como uma referência aos desamparados; para introduzir rituais que agregam as pessoas; ou transmitir uma crença voltada para a salvação do espírito. Ainda nos dias atuais, ela demonstra ser uma face de poder sobre o mundo, tal como o Estado Islâmico”, explicou.

A psicanalista também disse que no Brasil existem situações em que a religião se coloca como um desafio para a prática da psicanálise. “É possível perceber que valores religiosos influenciam na formação de leis e políticas públicas, como a cura gay e a tentativa de regulamentar a psicanálise”, completou. Para Samyra, o país tem muitas dificuldades para garantir a laicidade do Estado. “Podemos perceber isso por meio da realização de cultos no Planalto Central, bem como termos a maioria da bancada do Congresso Brasileiro composto por uma determinada fatia da religião, que pode influenciar, segundo seus próprios dogmas, grandes e diversos campos da sociedade brasileira, em nome de uma suposta verdade absoluta”, afirmou.

Teologia contemporânea – Oferecendo outro ponto de partida, o professor René Dentz considera que a religião, a partir das proposições oferecidas pela teologia contemporânea, pode ser pensada como um elemento de emancipação: “Hoje falamos de uma teologia queer, uma teologia gay, que tenta mostrar que o cristianismo, de forma alguma, é contrário a qualquer diversidade sexual, que questões ligadas à sexualidade não são centrais. É preciso desconstruir os discursos machistas, racistas da bíblia. Esse tipo de teologia pode ser benéfico à sociedade e para todas as áreas psíquicas”, afirmou.

Quando se fala em Deus, o filósofo explica que na, contemporaneidade, o conceito também mudou. “Não vale mais na teologia falar de um Deus absoluto. É uma postura de interpretação e sentidos. Ao invés de se pegar a figura de um Deus pleno, se tem um Deus desconhecido, vazio, e é nesse vazio que se encontra a construção dos sentidos”, explicou. Para ele, por essa nova perspectiva, Deus não tem nada a ver com a moral, então é possível pensar em um Cristianismo que dialoga e que não vê problema em aceitar as possibilidades humanas. “Essa proposta que a Teologia de hoje tem de pensar em um Deus fraco é uma missão difícil para o entendimento de alguns, mas é um caminho de grandeza, que por meio do diálogo, nos permite pensar mais no outro”, concluiu.



– CRP PELO INTERIOR –