22 jan Entrevista: “Defendemos o compromisso com um conhecimento psicológico capaz de desenvolver competência técnica e a consciência cidadã”
Para refletir sobre os principais desafios da nova gestão do CRP-MG, a conselheira presidenta do XVI Plenário, Lourdes Machado, concedeu entrevista e ressaltou a contribuição da Psicologia para as principais conquistas da saúde brasileira.
CRP-MG – É possível eleger o ponto mais forte desta gestão?
Lourdes Machado – Pretendemos uma gestão ampliada e plural e para além das 28 pessoas que compõem o atual plenário do CRP-MG, que colaboradoras e colaboradores, trabalhadoras e trabalhadores do Conselho, instituições parceiras, movimentos sociais façam parte de um trabalho coletivo em prol dos compromissos e propostas que fazem parte da nossa carta programa, elaborada durante a campanha.
CRP-MG – Na visão deste Plenário, como está a Psicologia brasileira enquanto ciência e profissão?
Lourdes Machado – Estamos sofrendo ataques relacionados ao posicionamento do compromisso social que temos assumido na sociedade, à defesa dos Direitos Humanos, do Sistema Único de Saúde (SUS), do Sistema Único de Assistência Social (Suas), das conquistas da luta antimanicomial, da formação presencial em Psicologia, da educação democrática; ataques a toda ação das psicólogas e psicólogos no combate ao racismo, à LGBTIfobia, ao sexismo e preconceitos de toda ordem. O atual plenário congregou esforços em defesa da nossa ciência, ética e profissão. Defendemos o compromisso com um conhecimento psicológico capaz de desenvolver competência técnica e a consciência cidadã, que preze pela pluralidade de referenciais epistemológicos, teóricos e metodológicos, como um fator intrínseco ao crescimento e ao desenvolvimento do nosso ofício; que o Conselho Regional de Psicologia seja comprometido e aliado às entidades científicas e profissionais da Psicologia em Minas Gerais num trabalho de qualificação e valorização do exercício profissional, lutando por condições justas e dignas de trabalho; um Conselho que esteja perto da categoria, conheça as diversas situações de trabalho e dialogue com os verdadeiros protagonistas de suas atividades, respondendo aos seus questionamentos e anseios, na sede, subsedes e municípios do interior, mantendo o compromisso com a interiorização das atividades do Sistema Conselhos de Psicologia; que respeite as diferenças políticas desta categoria; que faça uma gestão plural para os e as 36 mil profissionais do Estado. Que lute
pela ampliação de campos de atuação da Psicologia e sua respectiva formalização em legislação, assim como pelo fortalecimento e reconhecimento de sua produção científico-acadêmica.
CRP-MG – Psicólogas e psicólogos vem dando exemplo de práticas democráticas ao estabelecer como soberanas para a gestão dos conselhos profissionais da classe as decisões tomadas nos Congressos Regionais de Psicologia, realizados a cada três anos. No bojo dessas propostas sempre se mantêm presentes ações políticas. É uma característica da Psicologia se implicar nas temáticas sociais e políticas? Por quê?
Lourdes Machado – Ao longo das décadas a Psicologia vem sendo convocada a defender as políticas públicas e segue reafirmando seu compromisso com a universalidade destas políticas como resultado do processo democrático. É nesse sentido que a Psicologia no Brasil foi uma das profissões presentes na construção da Reforma Sanitária e da Reforma Psiquiátrica antimanicomial. Nesse grande movimento foi possível a expressiva transformação da atenção à saúde mental em nosso país, que humanizou os atendimentos e criou espaços de promoção da dignidade humana para usuários e suas famílias, e com isso possibilitou que toda a sociedade pudesse ter um novo olhar para os transtornos mentais. Não é demais afirmar que ainda precisamos avançar nas conquistas e reinserção social e autonomização das pessoas, por isso seguimos na construção dessa mudança paradigmática. Reconhecemos que esse conjunto de avanços teve a participação de diversos segmentos da nossa profissão que contribuíram para a construção de uma Psicologia laica, crítica, diversa, antirracista, antisexista, democrática e com forte preocupação social e compromisso com a cidadania, humanização e emancipação humana.
CRP-MG – Para encerrar, hoje, dia 23, inicia o processo de elaboração do Planejamento Estratégico da gestão do CRP-MG para os próximos anos. Qual a expectativa do Plenário para esse trabalho?
Lourdes Machado – Construímos ao longo da campanha 12 princípios fundamentais* e 12 propostas prioritárias. Estas propostas foram elaboradas em consonância com as deliberações do Corep e CNP 2019 e também com a contribuição de psicólogas e psicólogos que interagiram conosco. Assim, nossa expectativa no Planejamento Estratégico é que além destas 12 propostas e respeitando os nossos princípios fundamentais possamos planejar ações para nortear o mandato 2019/2022. E que acima de tudo que possamos reafirmar nosso compromisso e empenho com uma Psicologia que contribua para a construção de uma sociedade democrática, igualitária e justa, que assegure os direitos fundamentais; uma Psicologia que busque condições dignas de trabalho aos seus profissionais, que possibilite amplo acesso aos serviços psicológicos e que contribua para a redução de estigmas e preconceitos de qualquer natureza.
*Princípios fundamentais:
1 – Somos a favor de uma Psicologia que contribua para a construção de uma sociedade democrática, justa e menos desigual, lutando para reduzir os preconceitos e garantindo o amplo acesso aos serviços psicológicos.
2 – Lutamos pela ampliação dos campos de trabalho da Psicologia e pela sua respectiva regulamentação, contribuindo para a produção científico-acadêmica e para a qualificação técnica de seus profissionais.
3 – Defendemos uma Psicologia que respeite a liberdade de credo e culto religioso no âmbito particular, mas que, no exercício da profissão, esteja fundamentada no conhecimento científico.
4 – Respeitamos a diversidade, as diferenças individuais e a multiplicidade das subjetividades humanas.
5- Não entendemos como deficiência, patologia, problema, distúrbio ou transtorno, aquilo que é apenas diferente, pouco usual ou não hegemônico socialmente.
6 – Defendemos uma Psicologia ética e comprometida com os diferentes processos de subjetivação, devendo ser solidária e empática frente a qualquer tipo de sofrimento humano e enfrentar todas as formas abusivas de medicalização ou patologização da vida.
7 – Acreditamos numa Psicologia capaz de evoluir científica e tecnicamente, pautada na pluralidade e complementaridade de referenciais epistemológicos, teóricos e metodológicos.
8 – Defendemos a atuação conjunta entre o Sistema Conselhos, o Sindicato e outras entidades científicas e profissionais da Psicologia, para qualificar, valorizar e defender o exercício profissional, lutando por condições e relações mais justas de trabalho.
9– Sustentamos uma gestão que adote estratégias para se aproximar cada vez mais dos profissionais, em todas as regiões do estado, nos mais diversos contextos de atuação, garantindo a interiorização das ações.
10 – Não acreditamos em uma Psicologia neutra ou imparcial, mas sim uma Psicologia comprometida, engajada e crítica ao seu próprio fazer e às questões históricas, políticas e sociais.
11- Consideramos fundamental a defesa das conquistas do SUS, do SUAS, da Luta Antimanicomial, a defesa dos Direitos Humanos, bem como o combate a LGBTIfobias, racismo, machismo e toda forma de discriminação.
12- Queremos um Conselho onde todas e todos participem e por isso propomos além dos membros da chapa um acompanhamento por meio de um coletivo ampliado.