Saúde da mulher negra está mais ameaçada que nunca a partir da pandemia

Interseccionalidade e ancestralidade foram conceitos que mereceram destaque em transmissão no Youtube

Em transmissão realizada no canal do Conselho Regional de Psicologia – Minas Gerais (CRP-MG), no YouTube, nesta quarta-feira (10), com o título Viveremos! Saúde da mulher negra em tempos de pandemia, as comissões de Orientação Psicólogas(os) da Saúde e de  Relações Étnico-Raciais convidaram as psicólogas Áquila Bruno, doutoranda em Psicologia Social (UFMG), mestra em Educação (UFMG) e especialista em Saúde da Família ( Residência Multiprofissional em Saúde da Família/ PUC-Minas); Laila Resende, fundadora do Projeto Abayomi em Belo Horizonte; e Liliane Martins, conselheira coordenadora da Comissão de Direitos Humanos da autarquia, para elencar e refletir sobre as principais implicações do contexto atual na vida das mulheres negras utilizando os marcadores de raça, gênero, sexualidade e territorialidade.

Ao abrir o evento, Lourdes Machado, conselheira presidenta da atuarquia e responsável pela mediação da live, chamou a atenção para o fato que mesmo diante dos discursos de igualdade no Brasil, a sociedade se vê em situação de grande desigualdade na saúde, muito marcada pelo racismo e relatou: “no Conselho Estadual de Saúde, onde represento o CRP-MG, estamos elaborando em plenárias, diversas propostas para a Conferência Nacional das Mulheres considerando como ponto importantíssimo a saúde da mulher negra”.

A primeira convidada a expor suas ideias foi Áquila Bruno. Para ela, as lutas das mulheres negras é muito anterior à pandemia; resulta do extenso processo de colonização dos corpos e saberes. “A pandemia trouxe vários efeitos para o país com resultados desastrosos e violentos, mas é importante fazer um diálogo com os marcadores de raça, gênero e territórios. A primeira vítima da Covid-19 foi uma mulher negra e idosa que utilizava três conduções para trabalhar, onde ficava de domingo a quinta-feira sem ir em casa. Ao mesmo tempo temos que lembrar que são as mulheres negras que mais ocupam o grupo de desempregadas da população brasileira. Vejam que o passado colonial sobre nossas trajetórias, as violências vão se reatualizando e criando outros modos de produzir o silenciamento, as feridas e os traumas”, assinalou a psicóloga. Ela também colocou alguns dados para corroborar sua fala, tais como: no primeiro semestre de 2020, conforme o Núcleo de Estudo da Violência da Universidade de São Paulo, 75% das mulheres assassinadas no Brasil eram negras.

Na sequência, a fundadora do Projeto Abayomi, em Belo Horizonte, se apresentou colocando a ancestralidade como um dos pontos centrais na saúde das mulheres negras. “Neste momento de instabilidade, quando estamos perdidas e confusas em nossas jornadas gosto de evocar o significado de Sankofa, que é representado por um pássaro, cuja cabeça é voltada para cauda: ‘retornar ao passado para ressignificar o presente e construir o futuro’. Isso nunca fez tanto sentido e foi tão necessário para nós”, concluiu Laila Resende.

A conselheira do CRP-MG, Liliane Martins, foi a última a propor reflexões antes da interação com o público. Iniciou explicando que enquanto uma mulher negra, lésbica, psicóloga e vinda dos movimentos sociais gostaria de colocar para o debate a importância de considerar como se dá a violação dos direitos humanos das mulheres negras, mas a partir da interseccionalidade. “Como nos aponta Djamila Ribeiro, a partir do Atlas da Violência, acharmos que não existe racismo no Brasil não muda o fato que em 2013 pessoas negras foram remuneradas em seu trabalho com 54,7% do que recebiam as  pessoas brancas. Ainda temos que lembrar que as mulheres negras são as que mais estão desempregadas. Djamila ainda diz que o fato de acharem que o machismo não existe não muda o fato que a cada 5 minutos uma mulher seja agredida no Brasil”, discorreu a psicóloga que ainda assinalou “a soma dessas opressões são divisores sociais, mostrando a dificuldade do acesso à educação, à saúde, ao trabalho formal, à segurança pública, à liberdade de ir e vir. Uma opressão não se sobrepõe à outra, mas estão interligadas”.


Confira a live completa: 

 



– CRP PELO INTERIOR –