Nota explicativa sobre apresentação de coaching em novela

A respeito da apresentação da atividade de coaching como intervenção terapêutica na novela “O outro lado do paraíso”, da Rede Globo de televisão, o Conselho Regional de Psicologia – Minas Gerais (CRP-MG) vem a público declarar extrema preocupação com os eventuais equívocos de interpretação que possa causar diante da complexidade do tema em questão que é o abuso sexual intrafamiliar e os prejuízos psicológicos que acompanham as vítimas e o adoecimento dessas famílias.

O coaching não é uma profissão reconhecida e não está vinculado a nenhuma formação universitária específica. Trata-se, segundo o Instituto Brasileiro de Coaching, de “um processo de desenvolvimento humano que usa de técnicas da Administração de Empresas, Gestão de Pessoas e do universo dos esportes para apoiar pessoas e empresas no alcance de metas, no desenvolvimento acelerado e, em sua evolução contínua”. No entanto, a novela em questão sugere como “solução rápida” e como uma “ferramenta para extrair a verdade” a prática do coaching para acessar o bloqueio sexual oriundo de abusos sexuais sofridos na infância.

O CRP-MG ressalta que tal prática não é ferramenta adequada para lidar com problemas psíquicos, transtornos mentais ou qualquer outro tipo de fragilidade emocional que demande cuidado e tratamento, tal como indica a novela. O tratamento psicológico, sim, é capaz de interferir na perpetuação do sofrimento, trazendo reestruturação e resiliência para as vítimas de abuso.

Dada a repercussão e o tamanho da audiência de uma novela em horário nobre na emissora, levar um tipo de informação como esta pode induzir a erros graves na conduta, intervenção e no tratamento de pessoas psiquicamente fragilizadas e adoecidas, agravando problemas e sintomas. A Rede Globo de televisão e outros quaisquer responsáveis pela novela incorrem, nesse caso, em falta ética grave contra a sociedade.

Além disso, com essa conduta equivocada, a Rede Globo desrespeita os profissionais da Psicologia e sua profissão, que é devidamente qualificada por meio de curso superior específico e regulamentada por Conselho, mais habilitada e indicada para tratar da terapêutica de casos como o da personagem.

Belo Horizonte, 5 de fevereiro de 2018
XV Plenário do Conselho Regional de Psicologia – Minas Gerais

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