10 set Os avanços e impasses da clínica dos autismos esteve em pauta no Psicologia em Foco
“A clínica dos autismos: avanços e impasses” foi o assunto discutido nesta quarta-feira (9/9) no Psicologia em Foco – ciclo de eventos que o Conselho Regional de Psicologia – Minas Gerais (CRP-MG) realiza semanalmente às quartas-feiras, sempre as 19h, em sua sede, em Belo Horizonte. A psicóloga e psicanalista Tânia Ferreira expôs o tema e a conselheira do CRP-MG, Anna Christina da Cunha Pinheiro, mediou o debate, que constou também na programação da III Mostra Mineira de Práticas em Psicologia “A psicologia e seus fazeres: valorizando a profissão”. Clique aqui para ver as fotos do evento.
Tânia Ferreira iniciou explicando que o tema do debate está no plural porque há vários tipos de autismos. Segundo ela, não deve haver pressa para concluir um diagnóstico de autismo, mas ao mesmo tempo é necessária atenção a sinais como um bebê com olhar difuso, que não olha para a mãe durante a amamentação, a falta de respostas a estímulos, a vocalizações.
“Há também casos de alguma alteração sensorial como surdez ou cegueira, de maus tratos ativos que podem responder como autismo. Um certo autor falava das crianças que viviam nos campos de concentração e respondiam àquele isolamento e sofrimento intensos com o autismo. Mas não é uma doença. É um trabalho de resposta ao sofrimento psíquico de uma pessoa. Muitos consideram como deficiência e na verdade seria: dê eficiência”, classificou a psicóloga. Outro tipo citado por Tânia Ferreira é o chamado auto funcionamento: pessoas que conseguem ter uma competência muito elevada em uma determinada aérea de conhecimento.
Em todos eles, conforme ela explicou durante o Psicologia em Foco, os sinais são de falta de respostas, movimento de fleping (giro em torno do próprio corpo), movimentos estereotipados, olhar difuso e atordoamento com a voz (voz ameaçadora). “O tratamento requer sempre muita atenção e delicadeza utilizando recursos como gravar a fala no celular e passar para o autista, cantar e não olhar diretamente. Devemos acolher do jeito dele, demandando o mínimo possível dessa criança. Quanto menos demanda, mais a possibilidade de ficar sem crise. O autista, às vezes fica enlouquecido quando está suportando mais do que poderia. Uma voz de comando, por exemplo, é um imperativo insuportável. Temos que ser o mais acolhedor possível e fazer uma aposta que há tratamento”, pontuou Tânia Ferreira.
O sofrimento dos pais – A conselheira do CRP-MG, Cláudia Natividade, que participou do debate indagou a expositora sobre como tem sido a referência dessas crianças no sistema público de saúde e também, sob a perspectiva da psicanálise, como é a relação da criança com a mãe e como é a conduta dos pais.
Segundo Tânia Ferreira, o sistema público em Belo Horizonte e Betim, onde ela tem experiência, possui uma equipe complementar nas unidades básicas de saúde. “Todo centro de saúde é uma porta de entrada e se ali não tem uma equipe complementar, irão referenciar a criança para o local mais próximo. Mas sabemos que pela quantidade de situações e problemas ainda é pouco. Ainda precisamos avançar muito para que possamos acolher estas crianças onde elas estejam”, explicou.
Com relação ao autista e a família, ela fez questão de pontuar que o psicólogo é o “a menos um que não”. “Somos o a menos um que não julga, a menos um que não faz leitura moral, a menos um que não vai colocar os pais na parede, a menos um que não fica nessa leitura que a mãe é quem provocou o autismo na criança. Ela sofre imensamente já que aquele não é o filho ideal mas abraça esse filho real. A mãe do autista o ama e ele a ama do jeito dele. Não há nenhum desamor ali. Conforme minha experiência, os pais que se ausentam o fazem por não suportar o sofrimento. O corpo é a sede da angústia. Nosso papel enquanto psicólogos é suspender as evidências, as aparências, para acolher o que chega. Temos que ter uma leitura clínica para cuidar disso e não moral”, disse Tânia Ferreira.
Tratamento necessário e possível – Ao concluir sua participação no Psicologia em Foco, Tânia Ferreira pontou que é preciso acreditar no tratamento do autismo e que o psicólogo deve estar aberto a ir onde for necessário para realizar seu trabalho. “Estou agora em uma perspectiva de trabalhar com os pediatras para que possamos detectar o autismo o mais precocemente possível. A escola também é um lugar fundamental para irmos. Devemos construir com as pessoas da educação saídas importantes de inclusão. Temos que chamar para nós. Somos parte de uma rede de cuidados. Não vamos recuar frente a essa clínica que é difícil, às vezes, quase insustentável. Mas nós sabemos fazer com muita delicadeza e ética”, finalizou.
Anna Christina da Cunha Pinheiro encerrou o evento reiterando o convite para uma clínica ética, inclusiva e sem julgamentos.