Alegria e resistência nas ruas Belo Horizonte

O Dezoito de Maio – Dia Nacional da Luta Antimanicomial, foi comemorado, este ano, excepcionalmente no dia 16 de maio, em Belo Horizonte. As ruas da cidade foram tomadas por centenas de cores e mais de 3 mil pessoas, que manifestaram pela inclusão social e o protagonismo dos portadores de sofrimento mental e pelo fortalecimento da rede dos serviços substitutivos em saúde mental.

Com o tema “Se não nos deixam sonhar, não os deixaremos dormir”, a manifestação político-cultural teve sua concentração na Praça da Liberdade. Os carros de som e as seis alas do desfile-manifestação arrastaram milhares de pessoas pela Av. João Pinheiro, Av. Afonso Pena, Rua da Bahia e Av. Andradas, finalizando com um emocionante abraço dos manifestantes à Praça da Estação.

Desde 1987, o movimento antimanicomial instituiu a data 18 de maio como Dia Nacional da Luta Antimanicomial. “Este ano, comemoramos 26 anos da Luta Antimanicomiale o tema é ‘Resistência’, devido ao alarde que temos vivenciado com relação a práticas retrógradas de retorno ao manicômio. A cidade está cada vez mais sem voz e a diferença não tem mais lugar dentro da sociedade”, declara Bárbara Ferreira, psicóloga do Consultório de Rua e componente da equipe de desinstitucionalização do Hospital Sofia Feldman. Ela defende que a resistência que o movimento antimanicomial deve fazer nos dias atuais é em prol da diferença, da liberdade e da responsabilidade.

O movimento da Luta Antimanicomial em Belo Horizonte e Região Metropolitana há 16 anos inova ao realizar um ato público no formato da festa popular mais conhecida do Brasil, o carnaval. A escola de samba “Liberdade Ainda que Tam Tam” é uma estratégia do movimento para provocar reflexões sobre o lugar social da loucura em seu encontro com a arte e o pensamento. Formada por trabalhadores, usuários e familiares da rede de saúde mental da Região Metropolitana de Belo Horizonte e cidades do interior do estado, a “Liberdade Ainda que Tam Tam”desfilou radiante este ano, tocando e cantando o samba-enredo: “Psiu, psiu, estou ouvindo vozes”.

O samba foi criado coletivamente pelos usuários do Centro de Convivência São Paulo, durante as oficinas de artes plásticas, artesanato e música. Em sua letra, frases que provocam reflexões acerca das diferentes formas de ver e estar no mundo: “Delirar delirô eu entendi / Pus o dedo no futuro, fiz um furo na razão / Que cheiro é esse? É a indiferença na drogolândia de todos nós. (…) Dando uma volta ou meia, prá você me encontrar / Na teimosia do sonho que encantou /Do amor que tu me tens de tão belo a dor passou”.

Juliano da Silva, usuário do Centro de Convivência Arthur Bispo – CERSAM Leste (Centro de Referência em Saúde Mental), e autor de sambas da manifestação em anos anteriores, fala sobre a importância dessa luta para os portadores de sofrimento mental. “O dia da Luta Antimanicomial significa muito, porque as pessoas que têm transtorno mental estão sendo vistas como pessoas importantes para a sociedade”. Juliano explica que o formato de um desfile de carnaval dá a oportunidade para o portador de sofrimento mental mostrar sua arte e o que ele sabe fazer de bom.

A manifestação é organizada pelo Fórum Mineiro da Saúde Mental, composto por trabalhadores, usuários e familiares da rede de saúde mental de todo o estado, pela ASUSSAM (Associação dos Usuários dos Serviços de Saúde Mental de Minas Gerais) e representantes de conselhos de classes, entre eles o Conselho Regional de Psicologia – Minas Gerais. Participam também representantes de movimentos sociais, culturais e outras organizações da sociedade civil.

Em coro com o movimento antimanicomial, Virgílio de Matos, advogado e professor universitário, garante que a manifestação é uma oportunidade única de desmistificar a falsa ideia de que os loucos são perigosos e que não devem estar nas ruas. “Fica demonstrado, pelo menos uma vez por ano, que lugar de louco é na cidade! É ocupando os espaços, falando e se manifestando”.

Para Silvia Maria Soares Ferreira, integrante da ASUSSAM (Associação dos Usuários dos Serviços de Saúde Mental de Minas Gerais), o serviço substitutivo, pautado na liberdade e na cidadania, traz maior dignidade no tratamento porque é contrário à lógica manicomial. “Esse ‘tratar trancando’ propicia muito mais a violação de direitos do que um serviço que tem como pauta a cidadania e os direitos das pessoas com sofrimento mental”,afirma.

Em Belo Horizonte, no Dia Nacional da Luta Antimanicomial de 2013, as ruas do centro da cidade foram tomadas por milhares de manifestantes, loucos e engajados, incomodando alguns, tocando outros e provocando muitos para a necessidade de resistir, por uma sociedade sem manicômios.

Veja AQUI outras fotos da manifestação.



– CRP PELO INTERIOR –