31 jan Atendimento continuado é foco de psicólogas (os) que estão atuando em Santa Maria
Mapeamento será feito para facilitar atendimento pós-tragédia a parentes de vítimas de outras regiões do Rio Grande do Sul.
O Código de Ética do Psicólogo estabelece que faz parte do dever ético-profissional “prestar serviços profissionais em situações de calamidade pública ou de emergência, sem visar benefício pessoal” (Art.1º, item d). Foi com o ímpeto de cumprir seu dever como psicólogo que André Luiz Loro Reppetto, que atua em Santa Maria, se voluntariou.
“Cheguei segunda-feira de manhã ao Centro Desportivo Municipal. A princípio, participei de várias frentes diferentes de trabalho. Demandas no centro, com atendimento domiciliar. Agora, comecei também a atender na parte clínica, recebendo as pessoas no centro que foi montado aqui no CAPS”, disse Reppetto.
Desde domingo (27/01), após o incêndio na boate Kiss, em Santa Maria (RS), mais de 200 psicólogas (os) voluntárias (os) atuam diuturnamente para acolher familiares, sobreviventes, equipes de Saúde e Segurança Pública aos atingidos pela tragédia, que vitimou, até o momento, 235 pessoas e deixou mais de 140 feridos. Os profissionais estão divididos em sete equipes, atuando no amparo aos familiares desde a ajuda na identificação dos corpos até o momento da aceitação da perda.
De acordo com dados oficiais do Conselho Regional de Psicologia do Rio Grande do Sul (CRP-07) e da Associação Brasileira de Psicologia em Emergências e Desastres (Abrapede), somente em Santa Maria existem 180 profissionais atuando. O restante se encontra nos municípios vizinhos, cujo número ainda não foi divulgado.
O CRP-07 possui uma lista com 500 psicólogas (os) cadastradas (os) para atendimento voluntário, que poderão ser acionadas (os) a qualquer momento.
Trabalho continuado
De acordo com a conselheira do CRP-07, Vânia Fortes de Oliveira, que também integra a Subsede de Santa Maria, o CRP se organiza para proporcionar um atendimento continuado às famílias, por pelo menos mais seis meses, especialmente nas cidades de origem das vítimas. Por isso, o Conselho está cadastrando psicólogas (os) voluntários .
“Como têm pessoas de todo o estado, vamos mapear as regiões e os profissionais para que eles possam continuar atendendo essas pessoas em continuidade. O CRP tem um cadastro para atendimento continuado a longo prazo”, disse, informando que o cadastro de voluntários pode ser feito pelo site www.crprs.org.br/voluntarios.
De acordo com ela, em Santa Maria, no momento, não há a necessidade de novos profissionais se deslocarem até a cidade. Os voluntários poderão ser acionados nas próximas semanas. Em Porto Alegre, a Secretaria Municipal da Saúde está acompanhando novas demandas e, se necessário, irá acionar os voluntários.
Atendimento integrado
O Conselho Federal de Psicologia (CFP), juntamente com o Conselho Regional de Psicologia do Rio Grande do Sul (CRP-07), a Subsede de Santa Maria e a Abrapede, têm disponibilizado equipes para acolher os parentes dessas pessoas neste momento difícil.
Rosana Dório, presidente da Abrapede, que mora em Brasília, chegou à cidade no domingo (27/1). Na segunda-feira começou a organizar as equipes e orientar os trabalhos das psicólogas (os). Segundo ela, existe uma preocupação com o luto público. “Alguns moradores das ruas afetadas pelo desastre trazem à cena da dor de maneira contínua e intensa, mas nem sempre autorizam o espectador a demonstrar seu abalo.”
Um caso que denota este luto público é de um motorista de taxi que conversou com um grupo de psicólogos enquanto trabalhava. “Ele nos contou que na noite do incêndio levou três ou quatro jovens para a festa e se perguntava se tinha contribuído para estas perdas. Na verdade, ele tem clareza de que isso não é uma questão real. Mas apesar disso, ele sente uma certa angústia”, disse Rosana.
A presidente da Abrapede disse ainda que o triste episódio abalou muito o grupo de taxistas da cidade, principalmente os que estavam próximos a boate Kiss. “Eram os que estavam no ponto que ajudaram a socorrer as vítimas e as levaram às pressas para os hospitais. Apesar de toda a dor, é possível perceber como a população é solidária”, destacou.
Microequipes coordenadas por psicólogas (os) e membros das redes de saúde e coordenação estadual de Saúde Mental estão atuando no Hospital de Caridade, no cemitério Santa Rita de Cássia e no ginásio de esportes de Santa Maria. Além disso, o CAPS Caminhos do Sol, na Avenida Borges de Medeiros, 1897, está fornecendo atendimento psicológico 24 horas para familiares das vítimas do incêndio.
Psicologia defende voz de atingidos por desastres na elaboração de políticas públicas
Para organizar as políticas públicas de prevenção de emergência e desastres, bem como de atenção aos atingidos, foi criado, em 2011, com o apoio do CFP, o Movimento Nacional de Afetados em Desastres (Monades).
O movimento é formado por lideranças comunitárias de vários estados brasileiros, como Rio de Janeiro, Santa Catarina, Goiás, São Paulo, Piauí, Pernambuco e Mato Grosso.
O CFP defende que o governo, na elaboração das políticas públicas, ouça o lado dos atingidos, pois são os que mais conhecem a realidade de suas comunidades.
A Psicologia colabora em situações de emergências e desastres, como a ocorrida na Região Serrana do RJ, em 2011; na Região do Morro do Baú (SC), em 2008, e a tragédia ocorrida no último dia 26, em Santa Maria, prestando atendimento psicológico às vítimas e aos familiares.
Além disso, colabora nos processos de organização comunitária e social para o fortalecimento do protagonismo das populações afetadas na definição dos seus projetos de cidadania e na prevenção de desastres construindo, com outros atores sociais, estratégias de enfrentamento que minimizem danos materiais e humanos.
Fonte: site do CFP