Psicólogas, professora e comunicólogo refletem sobre a importância da Comunicação Não Violenta nas escolas

Diálogo foi provocado por recente ataque em uma instituição de ensino de Poços de Caldas

Na última terça-feira, 7, o Conselho Regional de Psicologia – Minas Gerais (CRP-MG) promoveu a live “Comunicação Não Violenta: possibilidades concretas de enfrentamento das violências nas escolas”.

Na ocasião, as(os) convidadas(os) destacaram o aumento de ataques violentos no Brasil e chamaram a atenção para o fato de o medo generalizado que esse tipo de evento provoca também gerar reações violentas.

Psicologia Escolar

Conselheira e coordenadora da Comissão de Orientação em Psicologia de Emergências e Desastres do CRP-MG, Cristiane Nogueira destacou a importância da Nota Técnica CFP nº 8/2023, que orienta a atuação das(os) psicólogas(os) no contexto escolar. A conselheira relatou que o Sistema Conselhos tem buscado estratégias de prevenção e de oferta de cuidado nos territórios afetados, buscando envolver diversos atores, como estudantes, famílias, educadoras(es) e comunidade.

“A gente precisa considerar que a violência é um fenômeno complexo e multideterminado, que se encontra presente de forma sistemática em sociedades de extremas desigualdades econômicas e sociais”, alertou a psicóloga. “Em muitos casos, os autores de ataques são vítimas de vulnerabilidades e vários tipos de violência, pessoas que muitas vezes têm tendência ao isolamento social, que têm sofrimento mental não diagnosticado, não tratado, além de várias relatarem ser vítimas de bullying”, acrescentou.

O papel da mídia

Radialista e mestre em Comunicação Social, Elias Santos reconheceu o impacto da mídia nesse processo: “há vários tipos de fazer jornalístico, como, por exemplo, o popularesco, que não resolve a violência, mas se alimenta dela. Precisamos ter uma visão mais crítica desse tipo de comunicação e levar esse conhecimento para as escolas, dentro do que chamamos de ‘educomunicação’”.

O comunicador, que também é professor, defendeu, ainda, a necessidade de se ouvir mais os jovens. “Ao pensar em formas concretas para combater a violência nas escolas, me incomoda muito que a nossa sociedade não tenha a paciência de ouvir os adolescentes. Se você estabelecer uma escuta ativa e for contrapondo com calma, sem ficar impondo regras, eles vão trazer coisas interessantes, que podem nos apontar caminhos”, avaliou.

Comunicação Não Violenta

Doutora em Psicologia Educacional, Flávia Vivaldi relembrou que existem vários tipos de violência contra a escola e que muitas são cometidas pela palavra mal colocada e pela comunicação violenta que rotula, desrespeita e desqualifica. “Nós vivemos um momento em que a violência está naturalizada, a começar pela comunicação. Os discursos de ódio são cada vez mais naturalizados, a ponto de os estudantes os produzirem com tranquilidade. Isso precisa mudar”, defendeu.

Para Flávia, a Comunicação Não Violenta é uma filosofia de vida, que ajuda os encontrar as causas e os gatilhos que provocam a palavra que fere, machuca e maltrata. “Eu preciso de fato cuidar daquilo que sai de mim, daquilo que sai da minha boca, ou que sai do meu corpo, porque a comunicação não-verbal às vezes é mais violenta do que comunicação verbal. Às vezes, um olhar provoca uma sensação de desrespeito muito mais potente que uma palavra”, argumentou. Após apresentar alguns conceitos da Comunicação Não Violenta, a psicopedagoga finalizou destacando o papel da comunicação na mediação e na construção de uma cultura da paz, com a ressalva de que essa cultura de paz não significa ausência de conflitos, e sim uma competência para lidar com a divergência de ideias.

Fazer Psi

A conselheira do CRP-MG, Caroline Souza atua na política de Assistência Social do município de Poços de Caldas e mediou a conversa. Ela ponderou sobre a necessidade de psicólogas e psicólogos também fazerem uma autoanálise crítica sobre os espaços e atuações profissionais. “Às vezes a gente não permite uma escuta, diz pelo outro, inibe, não abre espaço. É importante a gente ter esse olhar atento e empático e permitir que o outro tenha a oportunidade de falar. Nesse sentido, a Comunicação Não Violenta nos questiona e nos inspira: será que de fato a gente não está violando mais um direito daquele que nos chega para uma escuta, para um acolhimento, para um desejo de ser atendido?”, instigou a psicóloga.

“Esse diálogo traz também essa reflexão, para que possamos usar esse lugar de afeto no sentido de afetar-se. Que façamos uma micropolítica ativa nos nossos espaços. Talvez não mudemos o macro, mas podemos mobilizar os nossos espaços de mudança”, concluiu.

Na íntegra

A live completa está disponível a seguir:

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– CRP PELO INTERIOR –