14 nov Seminário Ulapsi repercute como grande espaço de intercâmbio de práticas da AL
CRP-MG levou experiências de destaque e trouxe mais conhecimento na bagagem
Intercâmbio de práticas e reconhecimento de confluências foram os conceitos que perpassaram ao longo dos três dias do Seminário Latinoamericano “Integración de la psicología latino-americana: defensa y fortalecimiento de los derechos de los pueblos”, realizado pela União Latino-Americana de Entidades de Psicologia (Ulapsi), de 7 a 9 deste mês, em Mendoza, Argentina. O Conselho Regional de Psicologia – Minas Gerais (CRP-MG), ao lado de outros regionais, participou se propondo a fazer uma escuta de como a Psicologia vem ser fortalecendo em outros países, e também levando experiências desenvolvidas no território mineiro. “Nossa autarquia desenvolve diferentes temas de forma muito bem qualificada, com reconhecimento dentro do Sistema Conselhos. Temos, portanto, o dever de compartilhar experiências, de dar retorno à sociedade”, certificou Suellen Fraga, conselheira presidenta do CRP-MG, que esteve presente no evento.
Na mesa que compôs ao lado do presidente do CFP, Pedro Paulo Bicalho e de Paula Giménez, pesquisadora da Argentina, entitulada “Del impacto subjetivo de las violências a uma psicologia crítica de las estructuras capitalista, racista y patriarcal”, Suellen Fraga levou reflexões que estão em fase bem evoluída em Minas Gerais. “Foi fundamental expor para as profissionais e estudantes presentes como temos nos debruçado sobre os impactos das estruturas de opressão nas subjetividades, na saúde mental das pessoas, como o racismo, o patriarcado e o próprio capitalismo reverberam e produzem sofrimento humano. Hoje temos referências dentro da Psicologia, tanto do ponto de vista científico como normativo e técnico, que nos organizam para combater as opressões e nos dão direcionamento para uma postura ético política”, explicou a presidenta do CRP-MG.
As produções relacionadas ao fenômeno dos deslocamentos humanos são exemplo desse conhecimento desenvolvido pelo CRP-MG levado para o Seminário. O conselheiro Henrique Galhano, coordenador da Comissão de Orientação em Psicologia e Migração apresentou os trabalhos produzidos: ”temos diálogos, inclusive materializados com contribuições críticas e comprometidas sobre a temática como o Guia migração, refúgio, tráfico de pessoas e subjetividades . Este documento vem gerando uma série de reflexões para as quais temos sido convidados a fazer pelo Brasil e agora, na Ulapsi. Esse seminário comprovou que nossa discussão está bem avançada em relação a outros países, o que gerou grande interesse das pessoas presentes”.
O conselheiro do CRP-MG, Danty Marchezane, também fez apresentação de trabalhos no Seminário e sua temática foi Psicologia Clínica. Em sua análise, a participação das pessoas em sua mesa demonstrou como há similaridades de conhecimentos e práticas pela América Latina. “Foi uma grande oportunidade para conhecer o que tem sido feito nos países vizinhos e verificar se sofremos as mesmas influências, se confluímos com as mesmas leituras, tanto de material crítico sobre a Psicologia, quanto sobre as teorias psicodinâmicas e epistemologias de uma maneira geral. Como exemplo, as discussões sobre decolonidade e contracolonização, as teorias que historicamente importamos da Europa e se são alvo de problematização fora do Brasil”, relatou o psicólogo.
Já “Feminismos del Sur” foi o tema geral da mesa que contou com a conselheira secretária do CRP-MG, Paula de Paula e seu trabalho apresentado levava o título de “Barreiras estruturais vividas pelas mulheres latino americanas nos esportes”, com foco na desigualdade de gênero que persiste ao longo da história. ”Apresentei o fenômeno denominado ‘teto de vidro’ para identificar motivos sociológicos que impedem as mulheres de ascenderem como gestoras ou treinadoras das equipes principais de seus países; os motivos estruturais que explicam a diferença entre os homens e as mulheres e entre atletas latino americanos comparados aos do norte global”, descreveu a representante mineira. Como resultado da exposição durante o Seminário da Ulapsi, a conselheira foi convidada a integrar o Grupo de Trabalho sobre feminismo do Sul, organizado por psicólogas da cidade de Córdoba.
Visão de futuro – As psicólogas trabalhadoras do CRP-MG, Silvana Bueno e Luciana Franco, participantes do Seminário, destacaram como principal ganho nas suas presenças, o intercâmbio entre as(os) profissionais e reconhecimento que há questões comuns ou próximas nos contextos de como a Psicologia vem sendo produzida na América Latina.
“Atuo na Comissão de Ética do Conselho e testemunhei como reflexões relacionadas aos Direitos Humanos, às questões de gênero, têm sido frequentes nas representações éticas por toda a região. Foi uma verdadeira troca de conhecimentos e de práticas que muito nos enriqueceu e que certamente nos dará ainda mais qualidade para o trabalho”, assinalou Silvana Bueno. Já Luciana Franco, além de corroborar com essa percepção, trouxe o olhar das políticas públicas: “elas estão implantadas na América Latina de forma muito parecida e mesmo que tenha ficado evidente que o Brasil está mais avançado, ainda temos muito a evoluir, sobretudo para contrapor os desmontes. Por tudo isso, participar desse evento como trabalhadora nos qualificou bastante. Dará novos ares e visões para o nosso fazer no Conselho”.
A conselheira presidenta do CRP-MG, Suellen Fraga, reafirmou a relevância de ter as trabalhadoras do Conselho no Seminário: “a grande relevância da Ulapsi se constitui em ser esse intercâmbio de práticas sobretudo na perspectiva decolonial. A colonização é o grande ponto comum em nossas histórias e foi impressionante ouvir de todas as pessoas ali presentes o quanto ainda carregamos nossas marcas sobre intersecções de raça, classe e gênero. E, se no Brasil, como somos a maior categoria em termos numéricos do mundo, temos que dar conta de avançar mais. Trazendo para Minas Gerais, assumimos essa responsabilidade com muita atenção promovendo qualificação contínua para quem está na ponta, atendendo psicólogas, psicólogues e psicólogos que buscam orientação no nosso conselho. Deve ser para essa equipe que temos que voltar nossos olhos”.
Próxima etapa – O Seminário Latinoamericano “Integración de la psicología latino-americana: defensa y fortalecimiento de los derechos de los pueblos” contou como atividade paralela e administrativa a Assembleia Geral da Ulapsi, que aprovou os balanços financeiros do exercício vigente e as contas para o próximo. Segundo a conselheira presidente da Comissão de Orientação e Fiscalização do CRP-MG, Júnia Lara, e que representou a entidade na condução da reunião, a atividade também deliberou pela integração de mais seis entidades: Conselho Regional de Psicologia 11ª Região; AMMA Psique e Negritude – Centro de Pesquisa, Formação e Referência em Relações raciais; Consejo Mexicano de Psicología; Colegio de psicólogos de Quilmes, Argentina; Colegio de psicologos de la provincia de Buenos Aires; Alianza Internacional para la salud Mental de Bolivia.
“Tivemos uma presença muito significativa de profissionais e suas contribuições práticas, que nos levou a reafirmar que precisamos de uma Psicologia latino-americana que faça valer as produções nos territórios, uma Psicologia nossa e contracolonial”, declarou Júnia Lara. Para ela, o próximo evento da Ulapsi será um divisor de águas nessa construção. “O X Congresso Latino-americano de Psicologia, que será realizado em São Paulo, no ano que vem, já foi muito comemorado por todas as pessoas presentes neste Seminário pois temos certeza que seguiremos firmes nessa construção da nossa Psicologia”, finalizou.
X Congresso Latino-americano de Psicologia – Ulapsi 2025 será realizado de 31 de julho a 2 de agosto de 2025, com o tema «Limites e desafios da constituição das subjetividades latino-americanas«, será realizado na modalidade presencial na Universidade Paulista em São Paulo.