12 dez COF, COE e CDH dialogam sobre interfaces da Psicologia com a inteligência artificial
Encontro reuniu convidadas(os) especialistas e colaboradoras(es) do CRP-MG para refletir sobre a atuação do Conselho e sobre o futuro da profissão a partir da IA
Nos dias 3 e 4 de dezembro, ocorreu a última reunião ampliada de 2024 promovida pelas Comissões Permanentes do Conselho Regional de Psicologia – Minas Gerais (CRP-MG). O encontro foi realizado na sede do Conselho, em Belo Horizonte, e contou com a participação de conselheiras(os) do CRP-MG, da gerência e da equipe técnica da autarquia, incluindo as subsedes.
O objetivo era refletir sobre a interface das diferentes áreas da Psicologia com a Inteligência Artificial (IA) e como essa tecnologia tem sido apropriada e utilizada na atuação profissional, considerando possíveis benefícios e riscos, como o respeito aos direitos dos usuários e a preocupante reprodução de preconceitos e estereótipos da diversidade humana. O Evento também trouxe o debate científico acerca do tema, considerando os preceitos éticos e de direitos humanos que devem nortear a profissão, seja em pesquisas, em produção de conhecimento ou na construção de instrumentos psicológicos.
Foram realizadas duas mesas temáticas:
A primeira teve como tema Avaliação Psicológica e Psicologia do Trabalho e foi conduzida pelo psicólogo e professor Emanuel Querino, mestre e desenvolvedor de inovações tecnológicas aplicadas à avaliação psicológica e neuropsicológica, e pelo psicólogo doutor Rafael Costa, que estuda temas relacionados a tecnologias, esportes eletrônicos, pesquisa qualitativa apoiada por softwares e atividade do psicólogo por meio das TICs.
A segunda trouxe o tema Psicologia Clínica, Psicanálise e Psicologia Jurídica e foi ministrada pelo psicólogo e professor Fábio Belo, coordenador do projeto de extensão “conversas virtuais sobre psicanálise”, e pela psicóloga e professora Laura Soares, Líder do Grupo de Pesquisa em Psicologia Jurídica (NPPJ) do CNPq.
Representando a equipe técnica organizadora da atividade, a psicóloga fiscal do CRP-MG, Carolina Braga, explicou a escolha dos(as) palestrantes: “Visamos trazer olhares diversos sobre a questão dentro da Psicologia. Todos demonstraram muito conhecimento crítico sobre o assunto dentro do campo de trabalho, pesquisa e ensino de cada um”, analisou. Também na organização do evento, a psicóloga fiscal Marcela Fontes destacou a importância da capacitação. “As informações repassadas pelos professores palestrantes e as discussões realizadas sobre o uso de IA ajudam na reflexão sobre os aspectos éticos e técnicos envolvidos no exercício psi, auxiliando no processo de construção de orientações e normatizações sobre essas práticas psicológicas”, ponderou.
Durante o encontro, a conselheira presidenta da Comissão de Orientação e Fiscalização (COF), Júnia Lara, explicou que a reunião é promovida em conjunto pelas Comissões Permanentes. “É uma parceria entre as Comissões de Direitos Humanos (CDH), de Ética (COE) e de Orientação e Fiscalização (COF). Então o tema sobre o qual a gente dialoga hoje foi previamente aprovado pelas três, de acordo com a linha de trabalho de cada uma, e na sequência endossado pela diretoria do CRP-MG”, relatou.
O conselheiro presidente da COE, Délcio Guimarães, ressaltou a pertinência do tema escolhido para a reunião, já que a IA perpassa o trabalho de todas(os). “Vemos essa interface e nos perguntamos: ‘a inteligência artificial vai mudar a Psicologia?’ A gente está vendo que sim. São várias as questões que a gente tem que ponderar. É um desafio que temos pela frente lidar com as mudanças na nossa prática e a gente ainda tem muito o que aprender”, refletiu.
Ao que a conselheira diretora secretária, Paula de Paula, concordou. “Historicamente, a Psicologia nasce como ciência e como profissão, há 60 anos. Mas ela nasce em outro cenário, com possibilidades de existência bem diferentes da atualidade”, avaliou.
Representando a CDH na mesa, a conselheira Lorena Rodrigues lembrou a matéria de capa da sétima edição da Revista CRP Minas Gerais, sobre o uso da internet por parte das(os) jovens para a realização de autodiagnóstico, alertando quanto aos prejuízos psíquicos e sociais causados pelo uso indiscriminado da tecnologia. “Se a pessoa encontrar uma inteligência artificial que vai falar o que ela quer, que a conhece como ninguém, porque a ouve o tempo todo, é óbvio que essa pessoa vai estabelecer uma conexão com a IA maior do que com qualquer outro ser humano, do qual inclusive talvez ela poderia ouvir algo que não queria ouvir”, adverte a psicóloga, que também é referência na Comissão de Orientação em Psicologia e Juventudes do CRP-MG.
Por fim, o conselheiro presidente da CDH, Henrique Galhano Balieiro, observou como a temática perpassa os direitos humanos. “Importante pensar como os direitos humanos não deve estar dissociado da discussão sobre IA, inclusive para pensar sobre a lógica do racismo estrutural, que perpetua por meio da construção dos algoritmos”, pondera.