05 jun Municípios do interior se destacam na etapa mineira da I Mostra Nacional de Práticas Profissionais
Foram premiadas manifestações artísticas de Betim, Guanhães e Lagoa Santa. Uberlândia, Miraí e sete cidades do Centro-Oeste venceram na categoria Relatos de Experiência
Mais de 100 pessoas, vindas de 22 municípios, participaram da I Mostra Nacional de Práticas Profissionais – etapa Minas Gerais, com o tema A Psicologia na luta pelo cuidado em liberdade: ontem, hoje e sempre!. O evento foi promovido pelo Conselho Regional de Psicologia – Minas Gerais (CRP-MG), por meio do Centro de Referência Técnica em Psicologia e Políticas Públicas (Crepop) e da Comissão de Orientação em Saúde Mental, Álcool e outras Drogas, nos dias 27 e 28 de maio, em Belo Horizonte.
Como forma de reconhecer e prestigiar a atuação de psicólogas(os) que trabalham para assegurar o cuidado integral às pessoas em sofrimento psíquico, a Mostra premiou experiências exemplares de atuação dessas(es) profissionais na Rede de Atenção Psicossocial (RAPS), na categoria “Relatos de Experiência”, e obras de usuárias(os) dos serviços, na categoria “Manifestações Artísticas”.
Ao todo, foram inscritos 23 relatos. Desses, dez foram selecionados por uma Comissão Julgadora para apresentação durante o encontro. Os três mais bem avaliados pela Comissão receberam uma premiação e o primeiro lugar foi indicado para concorrer à Etapa Nacional da Mostra.
Também foram premiadas as três manifestações artísticas mais votadas pelo público. Todas as 29 obras inscritas estiveram expostas no local ao longo do evento. Para participar da Etapa Nacional, usuárias(os) devem se inscrever até o dia 27 de junho pelo formulário disponibilizado pelo Conselho Federal de Psicologia (CFP).
Conheça o trabalho das(os) ganhadoras(es) em Minas Gerais, por categoria.
Relatos de Experiência
1º lugar
Relato: Liga dos Campeões InterCAPS: o futebol como instrumento do cuidado em liberdade
Autoria: Elizielly Martins, Angelo Antônio Santos Cardoso e Rodrigo Tavares Mendonça
Local: Bom Despacho, Formiga, Itaúna, Lagoa da Prata, Pará de Minas, Pitangui e Pompéu
Premiação: R$ 2.500,00
2º lugar
Relato: Pontes de cuidado em saúde: articulações da RAPS para a assistência de grupos vulnerados
Autoria: Lívia Rocha Coelho e Cecylia Moreira da Silva
Local: Miraí
Premiação: R$ 1.500,00
3º lugar
Relato: A arte da escrita do samba em um coletivo de mulheres: análise do processo criativo e promoção da reinserção social
Autoria: Aline Miranda Schwartz de Araújo, Camila Alves Araújo, Jaqueline Teixeira Paiva, Elaine Aparecida Borges Santana Eugênio e Iara Helena Magalhães
Local: Uberlândia
Premiação: R$ 1.000,00

Vencedoras(es) da categoria “Relatos de Experiência” recebem a premiação
Manifestações Artísticas
Obra: (Re)construir e (Re)florescer: fazer-se de novo todos os dias
Autoria: Grazielle Jennifer de Souza Nunes
Local: Lagoa Santa
Premiação: R$ 1.000
Obra: Mente livre ontem hoje e amanhã
Autoria: João Paulo Patrício Silva
Local: Guanhães
Premiação: R$ 1.000,00
Obra: Tons do Luto, Tons da Vida
Autoria: David Mendes Pimenta
Local: Betim
Premiação: R$ 1.000,00

Entrega da premiação das manifestações artísticas
Programação
O encontro contou com a participação de psicólogas(os) e outras(os) profissionais da saúde, estudantes e usuárias(os) de serviços psicológicos de Belo Horizonte, Contagem, Lagoa Santa, Eugenópolis, Miraí, Formiga, Carmo do Cajuru, Conselheiro Lafaiete, Oliveira, Ibirité, Itaúna, Santana do Manhuaçu, Juiz de Fora, Três Marias, Betim, Lagoa da Prata, Pompéu, Uberlândia, Divinópolis, Brasília e Sarzedo.
Cine Reflexão
As atividades da Mostra tiveram início no dia 27 de maio, com a exibição do documentário As linhas da minha mão, no Cine Santa Tereza. “Para mim, esta noite é sobretudo gloriosa”, comemorou a protagonista, co-roteirista e figurinista do filme, Viviane Ferreira. “Estou feliz não só pelas presenças, mas também porque me dá uma sensação de realização no seguinte aspecto: eu me sinto uma artista e uma cientista que estuda com muita exigência o próprio caso, o próprio corpo. E hoje é o encontro da ciência com a arte”, explicou a atriz.
De maneira magnetizante, Viviane compartilhou com o público experiências que teve nos campos da arte e em atendimentos de saúde mental nas redes pública e privada. Ela e o diretor do filme, João Dumans, também dividiram impressões sobre o processo de criação do longa. Ao final, Viviane provocou a plateia: “Todo mundo aqui me fazendo elogios mil. Sinceramente, a minha loucura não é motivo de celebração?!”.

A protagonista Viviane de Cássia Ferreira (à direita) participou da roda de conversa ao lado do diretor do filme, João Dumans. A mediação do bate-papo foi realizada pela conselheira do CRP-MG Isabella Lima (à esquerda)
Análise do cenário atual

Da esquerda para a direita, a coordenadora nacional do Crepop, Neuza Guareschi; a conselheira presidenta do CRP-MG, Suellen Fraga; a coordenadora estadual de Saúde Mental da Secretaria de Estado De Saúde, Taynara Silva de Paula; e a conselheira referência para o Crepop em Minas, Paula de Paula
No segundo dia, 28, ocorreu a abertura oficial do evento, dando início à apresentação dos trabalhos. Na ocasião, a presidenta do CRP-MG, Suellen Fraga, convidou o público a visitar a exposição com as manifestações artísticas das(os) usuárias(os) e refletiu: “é muito interessante o quanto a arte e a liberdade estão lado a lado. Talvez elas sejam a mesma coisa”.
Ao comentar o tema da Mostra, a conselheira afirmou que não existe potência de vida em aprisionamento e alertou que, ao longo do tempo, esses dispositivos vão sendo sofisticados. “Em algum momento a gente nomina manicômios, em outros foram senzalas e agora a contemporaneidade vem trazendo outros nomes. Por isso, é importante termos uma Psicologia crítica e posicionada, que dê conta de conversar com a sociedade e descobrir as artimanhas de opressão ainda impostas”, declarou.
Presente no encontro, a coordenadora estadual de Saúde Mental da Secretaria de Estado de Saúde, Taynara Silva de Paula, reconheceu que ainda existem muitos desafios na Rede de Atenção Psicossocial, mas enalteceu a potência das equipes, dos serviços da Rede, dos territórios e de cada profissional comprometido. “Este evento nos convoca a revisitar nossa história, reafirmar nossos compromissos e, acima de tudo, seguir produzindo práticas que rompam com lógicas de reclusão e de silenciamento”, avaliou. “A luta por liberdade é, antes de tudo, uma luta por dignidade. E a Psicologia tem um papel central nesse processo”, defendeu.
Após apresentar a programação do evento, a conselheira referência para o Centro de Referência Técnica em Psicologia e Políticas Públicas (Crepop) em Minas, Paula de Paula, ressaltou a pertinência do tema escolhido. “Foi de uma delicadeza e uma sacralidade muito grande o Conselho Federal resgatar a importância da luta antimanicomial como carro chefe da nossa profissão, uma profissão comprometida com as liberdades e com dignidade humana”, reforçou.
Ao final, a coordenadora nacional do Crepop, Neuza Guareschi, pontuou que o desinvestimento nas políticas públicas e o consequente desmonte da RAPS ao longo dos últimos anos exige que a categoria reaja. “Qual é o protagonismo da Psicologia na RAPS? A Psicologia tem que ser formuladora e não só executora de ações”, argumentou.
Guareschi explicou que foi realizada uma pesquisa de âmbito nacional sobre as demandas das(os) profissionais em relação à Rede de Atenção Psicossocial e, dentre as questões levantadas, apareceram o controle social, a falta de materiais, de informações e o enfraquecimento dos movimentos sociais. Segundo ela, a Mostra vem como um convite à luta e a proposta é que o trabalho continue. “A partir do material que a gente vai sistematizar, podemos programar novas ações, novos seminários, novas informações para a categoria, para que a gente possa, sistematicamente, fazer essa discussão e essa problematização.”, concluiu.
Luta coletiva
A conferência de abertura teve como mote A Psicologia na luta pelo cuidado em liberdade em Minas Gerais e foi proferida pela psicóloga Maria Tereza Granha, mestre em saúde coletiva e especialista em gestão de redes de atenção à saúde.

A conferencista Maria Tereza Granha conversa com a plateia sobre “A Psicologia na luta pelo cuidado em liberdade em Minas Gerais”
Maria Tereza ressaltou o quanto o envolvimento com o cuidado em liberdade é enriquecedor. “O encontro com os usuários de quem cuidamos nos transforma. São eles que nos apontam o caminho e é muito importante ampliarmos o nosso cuidado em direção à cidadania e ao acesso a direitos. Ajudá-los em sua vida prática é uma tarefa fundamental dos trabalhadores de saúde mental”, ponderou.
Por fim, ela exaltou a força do coletivo. “Se chegamos até aqui, foi através da luta por uma política pública de saúde de muitos trabalhadores, familiares e usuários, que, desde antes da criação do SUS, denunciavam as condições de trabalho e lutavam por serviços que realmente cumprissem sua missão”, relembrou.
Confira o registro fotográfico dos dois dias de evento.
Assista também ao vídeo com os melhores momentos do encontro: