Sessão comentada de julho traz registros da urgência em marcar a não-binariedade

Cine Diversidade apresentou dois curtas sobre resistência e identidade de gênero

Um dia após a data que se marca a visibilidade não-binária – 14 de julho – o Conselho Regional de Psicologia – Minas Gerais (CRP-MG) realizou uma nova edição do Cine Diversidade, em parceria com o Cine Santa Tereza e a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH). Desta vez apoiaram o evento o Movimento Autônomo Trans de BH, do Coletivo Não Binárie de Minas Gerais e da Basuras Coletiva. O público presente pode assistir o “Manifesto Não-Binário pela Desistência do Gênero” e o curta-metragem “Se Eu Tô Aqui é por Mistério”. Clique aqui para ver o álbum de fotos.

Logo após as exibições foi feita a exposição Cuir Okupa Calle, que reúne registros fotográficos das ações da coletiva transfeminista Basuras Coletiva e suas intervenções nas ruas de BH. Por meio da linguagem do lambe-lambe, as fotografias retratam as impermanências da arte urbana e registram intervenções realizadas em redes e ruas de Belo Horizonte. A exposição aborda temas como memória trans, justiça não reprodutiva e expressões dissidentes de gênero, propondo uma narrativa coletiva e crítica sobre os modos de existir e resistir nos espaços públicos.

Junto à exposição ocorreram os diálogos com Zaíra Magalhães, pessoa negra, não-binária e de Axé, diretore do “Manifesto não binário pela desistência do gênero”; e Ráiz Policarpo, ativista transfeminista e antimanicomial, psicólogo e educador social, integrante do Basuras Coletiva. Mediou a conversa Tuty Veloso Coura, travesty negra, coordenadora da Comissão de Orientação em Psicologia, Gênero e Diversidade Sexual do CRP-MG.

Tuty Veloso pontuou o valor do que chamou “conhecer outras dimensões, deslocando percepções inclusive sobre nossos poderes” e de tornar concreto todas as existências possíveis. “Nesse não estar enquadrado me veio a possiblidade de criar formas para mim. Venho desafiado o que é imposto em termos de vestimenta, de sexualidade e encontrei coletividade nisso”, declarou. Segundo a coordenadora da Comissão do CRP-MG, a desistência de gênero é um caminho contracolonial e que as culturas apagadas e suas vivências podem ter percepções muito próprias inclusive em relação a gênero.

“A Psicologia está bem intensiva no movimento de resistência. Se não permanecermos levando discussões como essas que o Cine Diversidade tem se proposto a fazer, fortalecendo essa postura ética, essa conduta alinhada com os Direitos Humanos onde iremos parar?”, provocou Tuty Veloso, que relembrou as principais normativas relacionadas ao assunto: Resolução nº 01/2018, Resolução CFP nº 01/1999,   Resolução nº 8/2022 e Nota sobre o Dia da Visibilidade Trans Não-Binárie.

Confira a seguir trechos dos depoimentos de quem compôs o debate:

“Temos o direito e o espaço de não fazer as coisas conforme são previstas. Que seja em paz comigo, sem ficar tentando enquadrar para chegar na expectativa do que a sociedade tem de mim e que eu nunca vou conseguir alcançar. Porque inclusive é feito para isso: para envolver consumo. O capitalismo é sempre sustentado assim. Construo meu gênero de forma artesanal”.
Zaíra Magalhães

 

“Pensar não-binariedade a partir desse lugar de desistência do gênero é pensar como construir outras narrativas, outras linguagens. Como ex-mulher, pensar nessa desistência de gênero é um processo individual, que perpassa o coletivo, mas que também está no estrutural”.
Ráiz Policarpo

 



– CRP PELO INTERIOR –