03 out A atuação da Psicologia nos crimes de Mariana e Brumadinho foram foco de debate no CRP-MG
Durante o evento foi lançada a Revista do CRP Minas Gerais nº 2
“Saúde Mental e suicídio em contextos de atingidos por barragens” foi o tema do Psicologia em Foco realizado pelo Conselho Regional de Psicologia – Minas Gerais (CRP-MG), nesta quarta-feira, 2, em Belo Horizonte. O ciclo de eventos acontece semanalmente, às quartas-feiras, iniciando às 19h, na sede do CRP-MG e tem como objetivo trazer para a reflexão os temas mais urgentes para a categoria, se consolidando como um espaço também de revitalização profissional.
Participaram como convidadas(os) da mesa Maíra Almeida Carvalho, psicóloga, mestranda em Psicologia Social, referência técnica da equipe Conviver – equipe de saúde mental específica para o acompanhamento dos atingidos pelo rompimento da barragem de Fundão em Mariana (MG); e Rodrigo Chaves Nogueira, psicólogo, coordenador clínico da Saúde Mental de Brumadinho e membro da equipe técnica da Escola de Saúde Pública de Minas Gerais. A mediação ficou sob a responsabilidade de Lilian Garate, psicóloga clínica e hospitalar, com especialização em Psicologia Hospitalar e em ‘Salud Mental en Emergencias, Catástrofes y Desastres’ (Pontificia Universidad Catolica de Chile).
Maíra Carvalho iniciou a fase de exposições apresentando sua experiência junto à equipe multiprofissional da região de Mariana. Segundo ela, uma das questões mais faladas pelos atingidos pela barragem do Fundão é a pobreza provocada pela perda das raízes e que para eles pensar na saúde é pensar na moradia. Relatou também que é preciso “pensar estratégias de promoção da saúde conectadas não somente aos impactos das perdas mas também em todo o processo que o desastre desencadeia, como uma série de violências”.
A psicóloga chamou a atenção do público para o fato que o crime de Mariana ensinou que sua passagem continua emergindo outras violências e que é urgente pensar na dor moral causada pela perda de direitos. E no que diz respeito às consequências mais graves, se conectam ao cenário de desesperança e dor, as sensações de abandono, o abuso de substâncias e o desejo de encontrar saídas por meio da morte. “Temos que ajudar esses sujeitos a tomar as rédeas das suas próprias vidas, construindo um processo de autonomia, de reivindicação de direitos”, concluiu completando que “a clínica da saúde mental é a clínica da delicadeza”.
Crime em andamento – O psicólogo Rodrigo Chaves, se apresentou em seguida e de início afirmou que “quem não aprendeu com Mariana foram as próprias mineradoras”. Afirmou também que para propiciar cuidados em saúde mental é preciso “localizar-se no contexto temporal, social, territorial e, fundamentalmente, afetivo com as pessoas”. Para ele, “não é um crime o que aconteceu. Está acontecendo”.
O coordenador Clínico da Saúde Mental de Brumadinho relatou a experiência iniciada logo após o rompimento da barragem da Mina do córrego do Feijão pela sua equipe: “em menos de dois minutos tínhamos 270 mortos. À partir da notícia tivemos que cuidar dos nossos pacientes, que nos cuidar e sobreviver. Todos fomos seriamente afetados”.
Segundo ele, no momento imediato deve-se ofertar cuidados psicológicos, mas também segurança, conforto, água, alimentação e informações precisas. Com relação às consequências já apuradas na região citou transtornos de todos os tipos, contextos de violência doméstica e autoextermínio.
Antes de iniciar os debates com o público presente no Psicologia em Foco, Lilian Garate anunciou o lançamento da Revista do CRP Minas Gerais nº 2, que tem como matéria de capa a atuação da psicologia nas emergências e desastres nos contextos dos crimes de Mariana, Brumadinho e demais territórios atingidos. Ela fez ainda considerações a respeito da associação entre suicídio e desastres: “já convencionamos não dizer que os desastres não são naturais porque sempre têm participação humana, seja por ação ou omissão. No caso dos rompimentos das barragens, eles possuem a característica de crime ambiental e trazem consigo a judicialização do processo, que faz com que o fechamento seja muito mais lento. Como foi dito aqui, o desastre não tem fim e a reconstrução se estende de forma a não permitir uma virada de ciclo. E isso sim é um fator de risco na questão do suicídio”.
Assista ao registro do evento: