A atuação da Psicologia nos crimes de Mariana e Brumadinho foram foco de debate no CRP-MG

Durante o evento foi lançada a Revista do CRP Minas Gerais nº 2

“Saúde Mental e suicídio em contextos de atingidos por barragens” foi o tema do Psicologia em Foco realizado pelo Conselho Regional de Psicologia – Minas Gerais (CRP-MG), nesta quarta-feira, 2, em Belo Horizonte. O ciclo de eventos acontece semanalmente, às quartas-feiras, iniciando às 19h, na sede do CRP-MG e tem como objetivo trazer para a reflexão os temas mais urgentes para a categoria, se consolidando como um espaço também de revitalização profissional.

Veja as fotos do encontro. 

Participaram como convidadas(os) da mesa Maíra Almeida Carvalho, psicóloga, mestranda em Psicologia Social, referência técnica da equipe Conviver – equipe de saúde mental específica para o acompanhamento dos atingidos pelo rompimento da barragem de Fundão em Mariana (MG); e Rodrigo Chaves Nogueira, psicólogo, coordenador clínico da Saúde Mental de Brumadinho e membro da equipe técnica da Escola de Saúde Pública de Minas Gerais. A mediação ficou sob a responsabilidade de Lilian Garate, psicóloga clínica e hospitalar, com especialização em Psicologia Hospitalar e em  ‘Salud Mental en Emergencias, Catástrofes y Desastres’ (Pontificia Universidad Catolica de Chile).

Maíra Carvalho iniciou a fase de exposições apresentando sua experiência junto à equipe multiprofissional da região de Mariana. Segundo ela, uma das questões mais faladas pelos atingidos pela barragem do Fundão é a pobreza provocada pela perda das raízes e que para eles pensar na saúde é pensar na moradia. Relatou também que é preciso “pensar estratégias de promoção da saúde conectadas não somente aos impactos das perdas mas também em todo o processo que o desastre desencadeia, como uma série de violências”.

A psicóloga chamou a atenção do público para o fato que o crime de Mariana ensinou que sua passagem continua emergindo outras violências e que é urgente pensar na dor moral causada pela perda de direitos. E no que diz respeito às consequências mais graves, se conectam ao cenário de desesperança e dor, as sensações de abandono, o abuso de substâncias e o desejo de encontrar saídas por meio da morte. “Temos que ajudar esses sujeitos a tomar as rédeas das suas próprias vidas, construindo um processo de autonomia, de reivindicação de direitos”, concluiu completando que “a clínica da saúde mental é a clínica da delicadeza”.

Crime em andamento – O psicólogo Rodrigo Chaves, se apresentou em seguida e de início afirmou que “quem não aprendeu com Mariana foram as próprias mineradoras”. Afirmou também que para propiciar cuidados em saúde mental é preciso “localizar-se no contexto temporal, social, territorial e, fundamentalmente, afetivo com as pessoas”. Para ele, “não é um crime o que aconteceu. Está acontecendo”.

O coordenador Clínico da Saúde Mental de Brumadinho relatou a experiência iniciada logo após o rompimento da barragem da Mina do córrego do Feijão pela sua equipe: “em menos de dois minutos tínhamos 270 mortos. À partir da notícia tivemos que cuidar dos nossos pacientes, que nos cuidar e sobreviver. Todos fomos seriamente afetados”.

Segundo ele, no momento imediato deve-se ofertar cuidados psicológicos, mas também segurança, conforto, água, alimentação e informações precisas. Com relação às consequências já apuradas na região citou transtornos de todos os tipos, contextos de violência doméstica e autoextermínio.

Antes de iniciar os debates com o público presente no Psicologia em Foco, Lilian Garate anunciou o lançamento da Revista do CRP Minas Gerais nº 2, que tem como matéria de capa a atuação da psicologia nas emergências e desastres nos contextos dos crimes de Mariana, Brumadinho e demais territórios atingidos. Ela fez ainda considerações a respeito da associação entre suicídio e desastres: “já convencionamos não dizer que os desastres não são naturais porque sempre têm participação humana, seja por ação ou omissão. No caso dos rompimentos das barragens, eles possuem a característica de crime ambiental e trazem consigo a judicialização do processo, que faz com que o fechamento seja muito mais lento. Como foi dito aqui, o desastre não tem fim e a reconstrução se estende de forma a não permitir uma virada de ciclo. E isso sim é um fator de risco na questão do suicídio”.

Assista ao registro do evento:

 



– CRP PELO INTERIOR –