A atuação da(o) psicóloga(o) na APAC é tema de roda de conversa

 

O ciclo de eventos “Psicologia em Foco”, do Conselho Regional de Psicologia – Minas Gerais (CRP-MG), nesta quarta-feira (24/8) discutiu “A psicóloga(o) na APAC – uma reflexão sobre religiosidade, espiritualidade e Psicologia”. A mesa foi coordenada pela psicóloga referência técnica do Crepop, Luciana Franco. Clique aqui para ver as imagens do evento.

Vanessa Barros, psicóloga, doutora em Sociologia Clínica e coordenadora do Laboratório de Estudos sobre Trabalho, Cárcere e Direitos Humanos da FAFICH/UFMG abriu o debate explicando que Apac é Associação de Proteção e Assistência ao Condenado, “método de gestão carcerária diferenciada do sistema convencional, pois busca um tratamento digno dos presos pela religião. Esses presidiários são chamados de recuperandos e eles próprios que cuidam da administração, porque são tidos como pessoas que merecem confiança”.

A psicóloga declarou que o aspecto religioso é um dos pontos mais importantes das Apacs, que adotam o catolicismo ou evangelismo, não havendo liberdade religiosa. Ela pontuou as diferenças da Associação com o sistema prisional tradicional: não há revista que cause constrangimento ao visitante; e faltas de média gravidade, como brigas, são tratadas pela administração e de grande gravidade pelo juiz.

Vanessa Barros afirmou que prender é uma violação do direito à liberdade e que não houve nenhum avanço dos sistemas prisionais desde o século XVI. Ela ainda alertou os profissionais da Psicologia que trabalham nas Apacs: “não se deve entrar idealizando a associação como um local extremamente humanizado. Deve-se ter uma crítica e compreender o local para não cair em armadilhas. Lá as(os) psicólogas(os) que trabalham são voluntários e nomeados de apóstolos dos condenados e a experiência espiritual desse profissional tem que ser exemplar”. Concluiu dizendo que “o que a Psicologia pode fazer é criar margens de manobra como uma parceria com um juiz e ajudar os presos a formarem espaços de liberdade dentro dos sistemas prisionais com locais de expressão e mais trabalho, o que é excelente para eles”.

Espiritualidade e religião – Anete Roese, doutora em teologia, psicóloga, coordenadora do GT Religião e Relações de Gênero da Sociedade de Teologia e Ciências iniciou dizendo que “quando pensamos em religião hoje, entendemos a partir do que vemos pelos ritos, pelo que assistimos. É importante tentar compreender seu significado. Já a espiritualidade se relaciona a experiências de cunho religioso ou não”.

A convidada afirmou que o espiritual não se reduz ao religioso. “Como ser espiritual, o humano é um ser de transcendência, que tem necessidade de ir além de si e buscar o outro e se diferencia pelos seus atos”, pontou dizendo ainda que “para a realização plena da existência, o ser humano necessita e almeja a produção de sua totalidade física, psíquica e espiritual. Quando uma dessas não pode se realizar, todas ficam comprometidas e podem causar a crise espiritual, que gera uma dificuldade com a dimensão do discernimento”.

Ao concluir, Anete também fez uma relação entre Psicologia e religião: “a Psicologia, recorrentemente, vem se encontrando com a religião nos mesmos espaços. Elas se ocupam e trabalham com dimensões que são psíquicas e espirituais e que são propriamente humanas. Ao invés de pensar em um confronto com a religião, a Psicologia deve entrar em um diálogo mais sábio e que consiga vencer algumas barreiras”.

 



– CRP PELO INTERIOR –