Atenção básica na saúde pública

O segundo dia do Seminário Mineiro de Psicologia na Saúde Pública, promovido pelo Conselho Regional de Psicologia – Minas Gerais (CRP-MG) iniciou com o tema “Atenção básica na saúde pública”. A mesa foi coordenada por Márcia Ribeiro, psicóloga, colaboradora da Comissão de Psicólogos da Saúde do CRP-MG.

Participaram como expositores João Leite, psicólogo, professor do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da PUC Minas, trabalha com pesquisas no campo da saúde pública e sobre formação do psicólogo, autor do livro “Psicologia, políticas públicas e o SUS”; Marcos Akerman, médico, professor titular do Departamento de Prática em Saúde Pública da Faculdade de Saúde Pública da USP, vice-presidente regional para América Latina da União Internacional de Promoção e Educação para a Saúde e presidente do Cepedoc Cidades Saudáveis; Milton Bicalho, psicólogo, servidor público – Saúde Mental – Contagem,  membro docente da Fundação Gregorio Baremblitt; e Ricardo Burg Ceccim, sanitarista, pós-doutor em Antropologia Médica, professor de Educação em Saúde (Departamento de Assistência e Orientação Profissional UFRGS), coordenador do Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva (PPGCol).

Marcos Akerman iniciou a fase de exposições dizendo que a saúde é um bem político e não uma mercadoria a ser negociada no mercado. “Nunca antes no país os direitos ficaram tão ameaçados. Será que existe uma babel entre as políticas públicas? Uma lacuna entre política pública e desejo do cotidiano? Temos que trabalhar as regras impostas e a necessidade do sujeito.  Sim, existe uma babel entre as políticas públicas e as necessidades vitais e o que pensa a evidência”, alertou o médico assegurando que para criar a possibilidade de intercalar a atenção básica determinante é preciso ser capaz de pensar a lei do agrupamento de indivíduos  como parte de uma rede.

Na sequência o psicólogo Milton Bicalho falou que este momento de crise na saúde é a oportunidade “de melhorar, potencializar a nossa participação enquanto usuário, cidadão e trabalhador na sustentação do SUS. O movimento da reforma sanitária foi um momento de um sonho que conseguimos colocar o SUS em vigor. Nós fizemos a reforma para a criação do SUS, mas o núcleo dele está errado, por isso temos que entrar e mudar. O desafio é primeiro a prevenção da saúde e não da doença. É perguntar o que podemos fazer para evitar algo”, ressaltou concluindo que se faz necessário realizar intervenções, dispositivos que estimulem processos de objetivação produzindo com os usuários coisas que até então não faziam parte do sistema, apostando no novo em produções inéditas. “ Somente com trabalhadores, usuários e co-responsáveis, é possível efetivar a aposta que o SUS faz”, assegurou ele.

João Leite, por sua vez, disse que o primeiro desafio quanto a atenção básica é o financiamento. “O que de fato queremos? Sabemos que o SUS tem um financiamento muito baixo. Me parece que o governo não tem tomado uma atitude quanto ao aumento do financiamento muito porque não percebe que queremos um SUS para todos, pois há os convênios médicos”, afirmou ele.

“O segundo desafio são as condições de trabalho do SUS marcadas pela prática territorializada junto à população vulnerável e à atuação multiprofissional nas equipes. Os médicos, por exemplo, não são preparados durante a formação para trabalhar no SUS. O terceiro é a nossa agenda de pesquisa, eu acho que a saúde coletiva não se aplica. A psicologia não tem feito estudos sobre a formação de agendas, sobre formulação de políticas ou temas cruciais como financiamento, processos de trabalho, todo esse desenho”, pontou João Leite que concluiu dizendo “a psicologia veio para o SUS para ficar, e nós não podemos contentar com as pesquisas que usam as normativas do Ministério como elementos de avaliação do que esta se passando”.



– CRP PELO INTERIOR –