20 ago Ciclo de eventos Psicologia em Foco discutiu as contradições da sociedade secular
Nesta quarta-feira (19/8) o Conselho Regional de Psicologia – Minas Gerais (CRP-MG) realizou a penúltima edição do Psicologia em Foco, em comemoração ao Mês d@ Psicólog@, com o tema “Contradições da sociedade secular”. O conselheiro presidente do CRP-MG, Roberto Chateaubriand, abriu o debate falando da importância de discutir o assunto e pontuou que dentro dos Conselhos se veem duas posições distintas: de um lado, a religião como um elemento constitutivo do sujeito; e de outro a possibilidade de contribuição, mas não na centralidade, para a construção desse indivíduo. Clique aqui para ver as fotos do evento
Para falar sobre o tema, o convidado foi Carlos Roberto Drawin, psicólogo, psicanalista, doutor em Filosofia, colaborador na Pós-Graduação no Departamento de Filosofia da UFMG, professor de Filosofia na Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (Faje). Drawin dividiu o assunto em três partes: considerações preliminares, surgimento e contradições da sociedade secular.
Considerações preliminares – Carlos Drawin fez a primeira exposição explicando o significado e o contexto histórico de Estado Laico. Segundo o professor esse conceito se transcorreu com o tempo e hoje se define pela independência dos atos do governo e da regulamentação religiosa. Essa concepção surgiu a partir de uma série de combates políticos, ideológicos para separar o poder temporal do espiritual.
Drawin ainda afirmou que atualmente a sociedade causa discussões sobre determinados assuntos, classificando a opinião de cada um como superficial ou profunda. “Podemos chamar essa diferença de distância reflexiva, que afasta o turbilhão momentâneo para perspectivar as coisas que recorrem à história e à teoria. A sociedade está atravessada, desde sempre, por esse clima de contraposição de opiniões, hoje muito ressaltado nas redes sociais na internet ”, ressalta.
“Temos uma visão da opinião das crenças, mas há a dificuldade de ver o funcionamento sistêmico da sociedade. Para vê-lo é preciso um imenso esforço da distância reflexiva”, conclui.
Surgimento da sociedade secular – Na sequência, Drawin explicou que a sociedade secular critica e se afasta do amplo predomínio do religioso, além de se dividir em dois ciclos.
O primeiro ciclo é o da modernidade. Ele se subdivide em dessacralização da natureza; autonomia do conhecimento – que na idade média era centrado por meio da fé e hoje tornou-se autônomo, com suas próprias regras – e, laicidade da ação, que atualmente não é mais uma obra para a salvação da alma, mas para a realização dos indivíduos na sociedade.
Já o segundo ciclo está voltado para o iluminismo. “A razão visava ver a verdade e hoje passa a ser um instrumento para a dominação da natureza e organização do mundo. O ser é possibilidade e não uma natureza particular”, afirma.
Contradições da sociedade secular – O professor iniciou a terceira etapa da palestra afirmando que “temos um estado leigo que não se realizou plenamente porque vem sendo atacado por movimentos religiosos insatisfeitos com o avanço da secularização. De 1914 a 1945, tivemos guerras contínuas que desencadearam em um processo da secularização. A maior contradição da sociedade secular hoje é que temos uma nova guerra por questões que foram discutidas no passado. Ou seja, as promessas da sociedade secular não foram cumpridas e a contradição é a não coincidência da razão com a humanidade”, concluiu.
Antes de encerrar o Psicologia em Foco, Roberto Chateaubriand pontuou que o discurso religioso utilizado para interromper o diálogo baseado na determinação do sacro é difícil de contestar. “Na minha percepção, neste momento que vivemos, é muito complicado saber a diferença entre o que é religioso e o que é da ordem do fundamentalismo”, ponderou.
Drawin disse que quando alguém fala “este é o fundamento” é dada uma nova ordem. Então, para ele, grupos religiosos não devem ser excluídos, mas “sua participação só é adequada desde que não pretendam ser os proprietários da palavra”, alertou. Para finalizar o evento, Carlos Drawin afirmou que o fundamentalismo foi e continua sendo um grande perigo a ser combatido na sociedade.