11 jun Cidadania em Curso
Chega ao fim a terceira edição do curso de formação política para os usuários e familiares de saúde mental “Cidadania em Curso”, promovido pela Associação dos Usuários dos Serviços de Saúde Mental de Minas Gerais (ASUSSAM) e pelo Fórum Mineiro de Saúde Mental. No último sábado (7), foi realizada uma cerimônia de formatura dos alunos. O curso teve início no dia 25 de março, com a participação de 50 pessoas, entre usuários dos serviços substitutivos da rede de saúde mental e seus familiares.
Entre os objetivos do curso estão a democratização do conhecimento e o empoderamento dos usuários. A perspectiva é que os formandos possam atuar como multiplicadores do conteúdo estudado, além de participar com mais consistência dos espaços de controle social SUS, em especial nos conselhos de saúde e debates sobre a luta antimanicomial e reforma psiquiátrica.
Para a psicóloga e militante do Fórum Mineiro de Saúde Mental, Marta Elizabete, a formação também é uma oportunidade de compartilhamento e troca de experiências entre os formadores, profissionais que atuam na rede de saúde mental e militantes da luta antimanicomial, os usuários e familiares. “Ter realizado esse curso demonstra o compromisso da ASUSSAM e do Fórum Mineiro com a construção da cidadania e da inclusão social de pessoas portadoras de sofrimento mental e seus familiares”, afirma.
O curso foi organizado em 10 aulas, com duração de 1h30 cada, e divido em duas turmas de 25 alunos. Durante a formação, diferentes assuntos ligados à luta antimanicomial foram abordados, tais como a história da loucura, a trajetória da Reforma Psiquiátrica brasileira, a rede de atenção psicossocial, o Sistema Único de Saúde (SUS), as políticas públicas sobre drogas, a legislação brasileira que se refere ao portador de sofrimento mental, entre outros.
O formando Celso Luís Mendes, que é usuário do Centro de Convivência Oeste, conta que o curso foi um espaço para a reflexão de temas diversos e chama atenção para o pensamento como um direito e uma capacidade de todos. “Alguém considerado portador de sofrimento mental, com determinado comportamento ou limitação, não está desprovido do pensar”, defende. Celso acredita que, ao invés da sociedade caminhar em direção à busca da cura para os portadores de sofrimento mental, o que ele considera uma prepotência, “poderia se pensar diferente com relação à periculosidade e colocar à disposição desse portador ferramentas para que ele expresse seus pensamentos sem ser nocivo, de uma forma livre e produtiva”.
Para Celso, sua formatura não representa uma conquista individual. “Não me sinto com o ego inflado, essa é uma conquista coletiva de 30 anos”, explica, referindo-se à Reforma Psiquiátrica. O formando conta que finaliza o curso com o sentimento de responsabilidade e compromisso com a luta antimanicomial e se desafia: “quem sabe, agora, partir para a militância?”.
A formação política “Cidadania em Curso” formou 24 alunos e tem a previsão de ser realizada novamente no segundo semestre desse ano para aqueles que não conseguiram concluí-la e para novas pessoas que se interessarem. O curso conta com a participação de usuários e familiares dos Cersams (Centro de Referência em Saúde Mental), CAPS AD (Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas) e Centros de Convivência de Belo Horizonte, além de participantes vindos da rede de saúde mental de Itaúnas e Betim.
Realizado através de edital do Ministério da Saúde de apoio a iniciativas de ONGs e associações de usuários, a formação teve o apoio do Conselho Regional de Psicologia – Minas Gerais e da Secretaria de Saúde, através dos serviços da rede de saúde mental.