Cine Diversidade aborda efeitos da colonialidade sobre corpos indígenas

Sessão comentada sobre o documentário “Uýra – A Retomada da Floresta” aconteceu nesta terça-feira, 18

O documentário “Uýra – A Retomada da Floresta” foi a obra escolhida pelo Conselho Regional de Psicologia – Minas Gerais (CRP-MG), por meio da Comissão de Orientação em Psicologia, Gênero de Diversidade Sexual, para provocar o debate junto à sociedade e também com a categoria Psi, sobre as diversas violências coloniais contra o meio ambiente e povos originários, com recorte para pessoas LGBTQIA+. O filme traz Uýra, uma artista trans indígena, que viaja pela floresta amazônica em uma jornada de autodescoberta usando arte performática e mensagens ancestrais para ensinar jovens indígenas e enfrentar o racismo estrutural e a transfobia no Brasil. A sessão comentada aconteceu nesta terça-feira, 18, no Cine Santa Tereza, em Belo Horizonte, dentro projeto Cine Diversidade – promovido pelo CRP-MG, em parceria com a Prefeitura de Belo Horizonte, por meio da Secretaria Municipal de Cultura, da Fundação Municipal de Cultura e da Subsecretaria de Direitos de Cidadania. Acesse aqui o álbum de fotos do evento.

A atividade contou com a parceria da Comissão de Orientação em Psicologia e Relações Étnico-Raciais do CRP-MG. O conselheiro Hudson Carajá, coordenador colegiado da referida Comissão, mediou o diálogo posterior a exibição do filme e fez a seguinte análise: “é um filme impactante pois como a própria personagem diz, aborda uma guerra que não cessou. Vivemos em uma sociedade que não foi descolonizada. Permanecemos em uma organização colonial que incide sobre nossos corpos, existências e territórios. O documentário aponta sobre como essa devastação do ambiente e como que esse racismo, que também é ambiental, incidem nas vidas dessas pessoas que já são marcadas por racialidade, diversidade de língua, de contexto, de território, de gênero e aqui vale ressaltar muito este ponto. Pessoas indígenas LGBTs existem à revelia desse sistema colonial, dessa normatividade eurocristã. Então, essas resistências são muito importantes”.

Segundo o conselheiro, o Sistema Conselhos de Psicologia já produziu marcos importantes como a Resolução CFP nº 01/99 , o próprio Código de Ética com destaque para o Artigo 2º. “Estamos caminhando mas precisamos que essas normativas sejam mais conhecidas desde a formação. Também devemos nos perguntar cotidianamente qual Psicologia estamos praticando e enfatizar que essas questões não são simples pautas identitárias”, assinalou Carajá.

 

Confira a seguir pontos abordados pelas convidadas durante a sessão comentada:

 

“Sabemos da diversidade dos corpos e é muito importante ressignificar os espaços de retomada que vêm existindo tanto na cidade quanto na própria mata. É um filme que remete à minha história e que foi apagada.”
Márcia Zanon, assessora jurídica do Comitê Indígena Mineiro e conselheira do Conselho Municipal de Promoção da Igualdade Racial de Belo Horizonte

 

“É para isso que fazemos cinema, para saber como uma obra reverbera e faz sentido para as pessoas. Essa foi uma obra completamente coletiva a partir da história da Uýra, que é uma potência. O que nos impactou muito no trabalho dela foi o poder de micropolítica da sua atuação.”
Martina Sönksen, roteirista e produtora de UÝRA – A retomada da Floresta

 

“Foi um alívio assistir esse trabalho. Essa camada de se ver, de ver nossa história o tempo todo é maravilhoso, sem cair em desconforto ou em visões rasas e estereotipadas. A nossa identidade indígena e que é mostrada neste filme é que ela não se desmembra, não se divide de nada. A nossa existência é integral com tudo.”
Agnes Antônia, artista e educadora travesti, remanescente dos povos Borum (Norte de MG)



– CRP PELO INTERIOR –