Cine Diversidade de junho ressalta a urgência de preservar a história da diversidade humana

Tema do mês foi “Orgulho LGBTQIA+: história, memória e produção de afetos” e foram exibidos dois curtas-metragens brasileiros, que exploram diferentes experiências e afetos da comunidade LGBTQIA+, cruzando identidade, resistência e arte.

Promovido pelo Conselho Regional de Psicologia – Minas Gerais (CRP-MG), em parceria com o Cine Santa Tereza e a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), o Cine Diversidade de junho teve caráter especial, pois marcou a abertura da mostra “Todas as Cores” e integrou a programação do mês do orgulho LGBTQIA+. Contou ainda com o apoio do Instituto Odeon, da Rede Afro LBGT Minas e do centro cultural Brejo das Sapas. Foram exibidos os curtas-metragens brasileiros “Vollúpya”, dirigido por Éri Sarmet e Jocimar Dias Jr., que apresenta, em um futuro pós-apocalíptico, um explorador intergaláctico que aterrissa num museu abandonado em busca de vestígios de seus antepassados e acaba teletransportado para a pista de dança de uma boate GLS nos anos 1990; e também “Casa de Bonecas”, com direção de George Pedrosa, que traz três profetas imateriais de rosa, que seduzem com corpos brilhantes e desejos sombrios.” Acesse o álbum de fotos do evento.

Convidadas(os) do Cine Diversidade ressaltam a importância de reescrever suas histórias.

A psicóloga Rafa Moon, primeira mulher trans a integrar o CRP do Piauí como conselheira, onde coordena o Centro de Referência Técnica em Psicologia e Políticas Públicas (CREPOP 21), mediou o diálogo realizado após a exibição do curtas. Logo na abertura, ela ressaltou que o Cine Diversidade é um espaço de resistência e que existir por 10 anos é algo muito importante. “A história LGBT tem um ponto de virada na década de 2010, porque finalmente passamos o ocupar os espaços que antes eram tão proibidos para nós. Desde então, temos a caneta na mão para reescrever nossa história de maneira mais forte, concisa. Sempre quem a escreveu foram os outros, pessoas cisgêneras, brancas, elitizadas, ainda que algumas LGBTs na grande maioria”, apontou a mediadora.

“Documentar como temos feito a nossa existência e resistência, permitindo construir uma nova narrativa, a verdadeira narrativa da história, depois de milênios de opressão, uma narrativa fiel ao que a gente é: este é o nosso grande objetivo. Temos que desconstruir a palavra, decolonizar a palavra inscrita do outro. Quando fazemos isso olhamos para trás, identificamos pessoas trans, não-binárias, travestis, travestilidades negras, e vamos fazendo esse resgate da nossa história”, ressaltou Rafa Moon ao provocar as(os) convidadas(os) e convidar a plateia para o diálogo.

Confira a seguir pontos abordados pelas(os) convidadas(os) durante a sessão comentada: 

“Nós crescemos e vivemos muitas vezes sem conhecer a nossa história. Esse direito nos é negado. Não aprendemos a história LGBT como aprendemos a história heterossexual, sendo ensinados pela nossa família, pela TV, pelo cinema. Temos que ir atrás. E nossa história também não está preservada nos arquivos oficiais, porque os outros não se interessam em guardá-la, porque é atravessada pelo desejo, pelo sexo, pelo abraço, pelo beijo. Não é visto como algo sério, importante o suficiente para ser preservado. Não é visto enquanto uma memória digna de ser preservada. Por isso, gosto de convocar as pessoas a pensar o que estão fazendo com as suas próprias memórias, porque as nossas vidas também importam, elas também são história.”
Éri Sarmet, roteirista, diretor, pesquisador e produtor trans.

 

 

“Trazer esse debate e fazer esse resgate de memória neste mês tão importante é dizer da nossa resistência, da nossa resiliência, do nosso processo de ser, estar e existir no mundo. É necessário fazer esse resgate da memória, da valorização, de entender quem veio antes de nós, que também construiu uma história. Nosso processo tem começo, meio e começo. Então, hoje estamos tendo a possibilidade de ancestralizar o futuro ideal. Temos essa possibilidade de ter nas mãos a continuidade de quem somos. Aqui temos uma troca de saberes, de vivências, de experiências. Vejo que a nossa proposta hoje aqui também é falar desse lugar da esperança.”
Jozeli Rosa, mulher negra, lésbica e militante dos direitos humanos. Fundadora da Coletiva Brejo das Sapas e presidente do PSOL/BH.

 

 

 

“Na minha perspectiva, entendo que ainda temos um caminho para conquistar alguns direitos. Passei boa parte da minha vida acreditando que eu era uma pessoa feia, que não era atraente para ninguém. Hoje digo que eu sou uma bicha preta e eu repito isso várias vezes, porque pra mim é importante estar nesse lugar, falar dessa vivência, porque eu aprendi muito com as pessoas trans a buscarem o afeto e uma vivência normal na rua sem sofrer agressão, perseguição. Isso me ensinou muito a querer ser respeitada também pela forma que eu sou. Isso foi muito importante para conhecer essa diversidade de corpos, de identidades, de reconhecimento. Eu tenho a vivência do hip-hop, que é um espaço muito machista ainda, um espaço muito voltado para os homens.”
Azizi MC, rapper afrobrasileiro, artista-ativista e usa sua arte para promover a diversidade e a inclusão.



– CRP PELO INTERIOR –