11 nov Congresso fomenta reflexões e novos conhecimentos para o combate às intolerâncias
CRP-MG promove evento com vistas aos novos rumos da Psicologia enquanto ciência e profissão
“Uma reflexão profunda e necessária sobre os rumos da ciência e profissão psicológica” foi o principal legado do I Congresso Mineiro de Psicologia, Laicidade, Espiritualidade, Religião e Outros Saberes Tradicionais, na opinião de Reinaldo da Silva Júnior. Ele, que é conselheiro do Conselho Regional de Psicologia – Minas Gerais (CRP-MG), onde preside a Comissão de Orientação e Fiscalização e integra a coordenação colegiada da de Direitos Humanos (CDH), fundou, em 2016, a comissão que planejou o evento realizado nos dias 3, 4 e 5 de novembro, exclusivamente em meios virtuais. Confira todas as informações sobre o Congresso.
O Congresso mostrou sua importância para a categoria pelos números: cinco mesas e quatro conferências que contaram com exposições de 23 convidadas(os), inclusive internacionais, atraíram um público de cerca de 1.800 pessoas. Outro tipo de atividade realizada pelo evento foi a apresentação de trabalhos, abrindo à comunidade da Psicologia a possibilidade de participar da construção de elementos de orientação e normatização da relação entre esta ciência e profissão e outras racionalidades que se debruçam sobre o fenômeno humano. Noventa, dos mais de 100 inscritos, apresentaram-se nos GTs divididos em 12 salas simultâneas dentro de seis eixos programáticos.
“No campo ético observamos a intrínseca relação entre o nosso conhecimento teórico e nossa atuação prática com o compromisso com os direitos humanos, deixando bem evidenciado que não pode existir uma Psicologia séria que não se constitua a partir deste referencial”, pontuou Reinaldo da Silva Júnior, ao final do Congresso. Segundo ele, os direitos humanos são o fundamento para um mundo aberto, inclusivo, diverso, onde as singularidades do sujeito são respeitadas e legitimadas sem que, com isso, a convivência coletiva seja ameaçada.
“Toda esta reflexão apareceu em nosso evento. No campo técnico observamos a necessidade de uma Psicologia capaz de dialogar com outras racionalidades, que desenvolva métodos que nos permita mergulhar no universo cultural de sentido das pessoas, que nos garanta ferramentas que atendam as demandas dos diversos modelos de organização coletiva e subjetiva do ser humano, que dê aos grupos sociais autonomia sobre suas vidas. No campo epistemológico observamos uma ampliação do conceito de ciência, nos levando à compreensão de uma proposta que se renova a cada investigação e não se apresenta como um saber pronto e fechado”, conclui o conselheiro.
Espiritualidade e ciência – Na visão de Guaraci Maximiano Santos, coordenador da Comissão de Orientação de Psicologia, Laicidade, Espiritualidade, Religião e Outros Saberes Tradicionais do CRP-MG e do próprio Congresso, a abertura a diferentes campos do conhecimento em interface com a Psicologia proposta pelo evento “propiciou experienciar relações de compartilhamento teórico e prático muito importantes, como a concepção de espiritualidade para essa ciência”. Para ele, a reflexão central do evento foi como a concepção espiritual transcende o âmbito religioso e, ao mesmo tempo “faz parte dele se o compreendermos como uma expressão humana, como nos confirmou Ângela Ales Bello, por meio de sua leitura fenomenológica”.
“A condição espiritual como a capacidade humana de reflexão, pensamento, compreensão, decisão, juízo e responsabilidade entre outras coisas. Capacidades que orientam os atos como a ponderação, o pensamento e valoração na vida cotidiana humana. Uma espiritualidade como modo de ser, onde as potencialidades humanas, imanentes e transcendentes, estão presentes”, completou Guaraci.
Estrutura do Congresso – Segundo o coordenador do evento, o Congresso obteve resultados expressivos desde seus números, passando pela amplitude de participações com profissionais de outros estados e de países como Canadá e Itália, até as reflexões propostas nas mesas e conferências. “A Psicologia: uma ciência laica num mundo religioso considerou o mundo em que vivemos e suas diferentes formas de apresentação, significado e realidade e seus movimentos de transformação, ao passo que na mesa intitulada A liberdade religiosa como princípio dos direitos humanos: o que a Psicologia tem a ver com isso possibilitou uma reflexão sobre a necessidade de entender e não negligenciar a condição sociocultural e religiosa de quem procura acolhimento psicológico e nela vê uma possibilidade de aporte para sua vida”, descreveu Guaraci.
Ainda na análise da programação, ele explicou: “na mesa O desafio da Psicologia frente aos povos tradicionais foi ressaltada a possibilidade do fazer psicológico considerar outras racionalidades, formas de ser, viver e elaborar das culturas tradicionais e que são de grande importância para estes povos, inclusive na perspectiva da manutenção da saúde mental e sociocultural em nossa sociedade, diante a sua diversidade e no debate As questões étnico-raciais e o atravessamento com a religião e a espiritualidade foram questionadas as dificuldades existentes no campo o acolhimento psicológico e do reconhecimento da necessidade de se quebrar estigmas racistas de todas as ordens”.
Por fim, segundo Guaraci, a mesa As questões de gênero e o atravessamento com a religião e a espiritualidade “trouxe em sua pauta que existem outras formas humanas de se apresentar no mundo e se relacionar com ele. Formas que vão para além do pré-existente e normativo e, nesta perspectiva, nos convoca a posicionar eticamente sobre a pertinência de reconhecer a condição humana em sua diversidade de expressões subjetivas e socioculturais”.
De maneira geral, o coordenador do Congresso comemorou que todo o debate realizado foi relevante para a realidade de intolerância e violência psíquica, política e social atual. “Em suma, esses debates abordaram temas importantes que tocam diretamente a Psicologia enquanto ciência e profissão, uma vez que ela se predispõe a pensar a condição humana e com efeito, promover a saúde. Neste sentido, constatamos que a(s) Psicologia(s), por meio de seus conselhos como por exemplo o CRP-MG e sua Comissão de Orientação Psicologia, Espiritualidade, Laicidade, Religião e Outros Saberes Tradicionais, deva(m) ser um lugar que fomente reflexões efetivas que viabilizem formas de conhecimentos éticos e responsáveis, a fim de promover a dignidade humana, seja ela religiosa ou não, mas, considerando-a em sua totalidade biopsicossocial-espiritual como preconiza a Organização Mundial da Saúde (OMS)”, finalizou.