17 abr CRP-MG participa de momento histórico da União Latino-Americana de Entidades de Psicologia
Psicólogas(os) e estudantes pactuam compromisso pelo fortalecimento da Ulapsi e definem que próximo congresso será em São Paulo, em 2025
Assumir o compromisso de avançar para uma Ulapsi mais forte, mais plural, mais presente em todos e cada um dos países que compreendem a América Latina e o Caribe. Esse foi o pacto documentado pelas(os) participantes do IX Congresso Latino-americano de Psicologia – Ulapsi 2023, no sábado, 15, na Carta de Montevidéu. A finalidade das ações descritas será a defesa dos direitos humanos e sociais, dos povos indígenas, da igualdade racial e de gênero e da inclusão. As(os) participantes também definiram que a próxima edição será no Brasil, na cidade de São Paulo, em 2025. O evento, realizado de 13 a 15 de abril, em Montevidéu, Uruguai, teve como título “Os caminhos de encontro da Psicologia da América Latina” e reuniu profissionais e estudantes, com participação de conselheiras(es) e colaboradoras(es) de comissões temáticas do Conselho Regional de Psicologia – Minas Gerais (CRP-MG).
A comitiva mineira participou de diálogos sobre questões raciais, de gênero e diversidade sexual; comunidades terapêuticas; migração; pandemia; violência nas escolas, dentre outros, atenta à repercussão dos aprendizados proporcionados no encontro em orientações para psicólógas(os) de Minas Gerais.
Outro ponto a ser destacado na participação do CRP-MG no Congresso foi lançamento do documentário “Marcas do Marcus em Minas”, produzido pela autarquia. O psicólogo mineiro Marcus Vinícius de Oliveira Silva, morto em 2016, teve grande relevância para a Psicologia ao se envolver como um dos protagonistas na luta antimanicomial e na elaboração e implementação da reforma psiquiátrica brasileira. Sua atuação política também se concretizou na participação intensa na democratização dos processos do Sistema Conselhos de Psicologia.
Confira, a seguir, depoimentos das(os) conselheiras(os) do CRP-MG sobre o Congresso:
“Para externar minhas percepções sobre o Congresso da Ulapsi vou recorrer a uma passagem do livro “O Perigo da História Única”, da autora Chimamanda Ngozi Adichie. Chimamanda fala que “O que a descoberta de escritores africanos fez por mim foi isto: salvou-me de ter uma história única sobre o que são os livros”, e para mim os contatos e interações proporcionados através do congresso salvou-me de ter uma história única sobre o que é a Psicologia. Ficou muito nítido durante os três dias de evento o quanto somos profissionais plurais e afetadas(os) pela defesa dos direitos humanos. No entanto, estar em um congresso com tantas representações de diferentes países da América Latina e Caribe evidenciou o quanto necessitamos nos organizar, propor momentos de troca e construções coletivas. Alguns países não tiveram representação e isso enfraquece o coletivo. Tivemos falas duras e necessárias das representações de psicólogas(os) indígenas, que fizeram uma crítica importante aos movimentos de patologização e medicalização da vida dos povos originários, além do importante movimento de pensarmos em uma epistemologia que compreenda aspectos culturais e os diferentes modos de vida. Ter figuras representativas em um espaço não significa inclusão, para que a inclusão aconteça é necessário se sentir pertencente e ter lugar de fala para auxiliar na construção de propostas e estratégias. Neste sentido, é preciso garantir a pluralidade, a diversidade e a inclusão também na gestão da Ulapsi, afirmando espaços para a participação de profissionais da Psicologia, em consonância com uma das direções da Declaração de Montevidéo: “Fortalecer as entidades e coletivos de Psicologia latino-americana e do Caribe e suas ações em defesa dos direitos humanos e sociais, dos povos indígenas, da igualdade racial e de gênero e da inclusão”. Que possamos ter avanços, com novas e potentes organizações para o próximo período.”
Alessandra Belmonte
“Destaco o lançamento do documentário sobre Marcus Vinícius e o protagonismo de Minas Gerais na Luta Antimanicomial. No que diz respeito à mesa que conduzimos enquanto Comissão de Orientação em Psicologia em Tratamentos com Cannabis Terapêutica, tivemos uma ótima participação do público. Além disso, foi muito importante conhecer in loco a experiência uruguaia com o processo de regulamentação da Cannabis. Estabelecemos relações proximais com pessoas que falam diretamente disso e penso que abriu uma espécie de braço diplomático do CRP-MG com as organizações do Uruguai relacionadas a esta pauta, devendo resultar em futuros diálogos políticos. Acredito que a categoria Psi da América Latina se interesse no assunto, pois os países que compõem esse bloco sofrem com diversos problemas de violência e discriminações.”
Anderson Matos
“O melhor resultado do congresso foi a troca de experiências com psicólogas e psicólogos da América do Sul sobre diferentes práticas que podem ser adaptadas à nossa realidade, como é o caso da Cannabis Terapia, e que ainda precisam ser enfrentadas, como a realidade violadora das Comunidades Terapêuticas.”
Daniel Melo
“Apresentamos reflexões e perspectivas sobre o contexto pandêmico e o impacto no Sistema Conselhos de Psicologia brasileiro, bem como na Comissão de Avaliação Psicológica: as ações que foram tomadas de forma emergencial e que agora estamos nos beneficiando, pois geraram a inserção da tecnologia nestes contextos de atuação da(o) profissional psicóloga(o). Inevitavelmente dialogamos sobre as limitações e dificuldades que essa novidade trouxe como o acesso a equipamentos e internet, já que não é a realidade da maioria da população no Brasil, México e outros países da América Latina. Por fim, abordamos o adoecimento psíquico de muitos pós-pandemia e prognósticos possíveis a estas ações.”
Elza Lobosque
“Este é um congresso muito importante para nós, psicólogas(os) da América Latina. É um momento de congregação, de união das pessoas que estão atuando com pautas em defesa dos direitos humanos. Nesta edição ficou patente que ainda falta representatividade de pessoas trans, negras e indígenas. Se queremos uma Psicologia plural e baseada numa orientação ético política e compromissada com os direitos humanos, é imperativo que tenhamos diversidade nas representações no próprio congresso e também na coordenação da Ulapsi. Somente dessa maneira teremos como abarcar toda a multiplicidade que é a vida humana.”
Henrique Galhano
“Foi um evento muito significativo para nossa categoria, pois tivemos diálogos que culminaram na Carta de Montevidéu, em que ficaram expressas nossas intenções de abrir a Ulapsi ainda mais para as psicólogas e os psicólogos, para os movimentos sociais, para as ONGs, fazendo com que compartilhemos mais as nossas vivências de toda a América Latina. As diretrizes dessa Carta irão nos orientar nos debates do próximo congresso, o que indica um amadurecimento desta entidade grandiosa.”
Júnia Campos Lara
“O Congresso foi muito potente, se constituiu como uma oportunidade para reorganizamos a própria Ulapsi, para que saia da situação que temos para a que queremos. Além disso, a riqueza da participação diversa merece ser ressaltada: tivemos psis não-bináries, negras, LGBTs, dialogando sobre interseccionalidade. Sem dúvida alguma essa edição contou com a maior participação na história destes congressos de pessoas negras e isso diz de uma mudança também do Sistema Conselhos de Psicologia brasileiro. Nosso CRP-MG levou discussões maravilhosas como a mesa da Cannabis, o documentário sobre Marcus Vinícius e vários debates raciais. Foi uma troca muito grande, muito rica para a Psicologia. Por fim, estamos muito empolgadas, enquanto entidades da Psicologia brasileira, também porque o próximo congresso será em São Paulo, em 2025.”
Liliane Martins
“Entendo que a presença de profissionais da Psicologia negras(es/os), LGBTQIA+, indígenas, pessoas com deficiência, de diferentes regiões da América Latina e suas participações em mesas e trabalhos, demonstraram que estamos, como diria Conceição Evaristo, ‘rasurando as histórias oficiais’, haja vista a inclusão de produções agora desenvolvidas por identidades historicamente silenciadas. A exposição dessas contribuições conseguiu contemplar com representatividade e compromisso profissional um olhar para todas as pessoas, entendendo as distintas necessidades das múltiplas identidades, e expondo o desenvolvimento de teorias e práticas que contribuem com a Psicologia da América Latina, e com a categoria de profissionais que a compõe.”
Lorena Rodrigues
“Entendi esse congresso como resultado de uma ação política e social que contribuiu para continuar tecendo a teia da história da Psicologia latino-americana. Encaminhamos a necessidade de reforçar a orientação política da Ulapsi, tornando um espaço mais plural, inclusivo, repensando também as formas de filiação e participação da categoria, sempre alicerçada nos direitos sociais e humanos. Foram retirados grupos de trabalho para reorganizar inclusive o estatuto para que outras formas de filiação sejam contempladas. Outro ponto foi a forma de fazer a política de comunicação, o planejamento e a execução de ações, estratégias, canais de relacionamento e produtos de comunicação, tendo em vista a interatividade e a organização, para fazer uma comunicação que chegasse mais perto das psicólogas e psicólogos latino-americanos. Participei da Assembleia Geral, representando o CRP-MG, também das reuniões das entidades filiadas, além de três mesas: Psicologia e migração na América Latina, O impacto pandêmico nas gestões do Sistema Conselhos e o lançamento do prêmio e do documentário sobre Marcus Vinícius.”
Lourdes Machado
Sobre a A Ulapsi – A União Latino-Americana de Entidades de Psicologia (Ulapsi) é um espaço de organização da Psicologia na América Latina. Foi criada em 23 de novembro de 2002 na Cidade de Puebla, México e reúne várias entidades de Psicologia da América Latina. Seu objetivo é constituir-se como “uma rede de articulação científica, profissional e acadêmica neste mapa.