CRP-MG promove atividade integrada para aprofundar diálogos sobre a NR-1 e sobre o enfrentamento ao racismo estrutural

Encontros reuniram conselheiras(os) e equipe técnica, em ações de formação e articulação entre comissões da autarquia

Conseleiras(os) e equipe técnica do CRP-MG dialogam sobre NR1, branquitude e racismo, na sede da autarquia, em BH

 

Nos dias 9 e 10 de julho, o Conselho Regional de Psicologia – Minas Gerais (CRP-MG) reuniu conselheiras(os), gerência e equipe técnica da sede e das subsedes, com o objetivo de fortalecer as ações de orientação, fiscalização e promoção de direitos. A programação foi marcada pela abordagem de temas como a avaliação de riscos psicossociais no ambiente de trabalho, branquitudes e enfrentamento ao racismo.

A iniciativa compõe o calendário de reuniões ampliadas das Comissões Permanentes de Orientação e Fiscalização (COF), de Ética (COE) e de Direitos Humanos (CDH), que acontecem periodicamente para promover reflexões sobre o trabalho técnico do CRP-MG e sobre questões que atravessam a atuação profissional da Psicologia.

Avaliação de riscos psicossociais e a NR-1

A programação teve início na quarta-feira, 9 de julho, com diálogo sobre a Norma Regulamentadora nº 1 (NR-1), que prevê a avaliação de riscos psicossociais no ambiente laboral. O psicólogo doutor em Psicologia Social, do Trabalho e das Organizações pela Universidade de Brasília e professor do Centro Universitário de Brasília, Carlos Manoel Lopes, convidado para a atividade, destacou a necessidade de diferenciar os conceitos de avaliação psicossocial e de riscos psicossociais. “Nosso grande primeiro problema é que a NR-1 trata da gestão dos riscos ocupacionais, e dentro desses riscos estão os psicossociais, que hoje devem ser mapeados para evitar danos. Mas há uma confusão conceitual com a NR-33 e com a Resolução 14/2023, que acabam sobrepondo as definições”, explicou. Para ele, além da complexidade técnica, o tema exige um avanço na formação em Psicologia. “Não existe uma ementa nos cursos que fale de saúde e segurança do trabalho. E, infelizmente, ainda há uma percepção negativa sobre a avaliação psicológica até mesmo entre professores”, lamentou.

Branquitude e racismo na atuação Psi

Na quinta-feira, 10 de julho, foi a vez de aprofundar os diálogos sobre branquitude e racismo estrutural, com foco na responsabilidade ética da Psicologia na construção de práticas antirracistas.

Presente no evento, o presidente do CRP-MG, Ted Evangelista, destacou a importância de encontros que valorizam a construção coletiva. “Muitas vezes nos enxergam apenas como autarquia fiscalizadora, mas é preciso lembrar que somos pessoas com histórias, sentimentos e compromisso com a evolução profissional e humana. Encontros como este reafirmam a Psicologia como uma ciência a serviço da sociedade”, avaliou.

O conselheiro conduziu a abertura juntamente com as(os) presidentas(es) e representantes da COF, COE e CDH.

Na ocasião, a presidenta da Comissão de Orientação e Fiscalização, Júnia Lara, ressaltou que é fundamental trazer o tema para o centro das discussões: “Na COF a gente vê como a questão da branquitude e do racismo bate na porta e como essas coisas acontecem, às vezes, dentro da fiscalização. Então é importante a gente ampliar esse debate aqui”, reforçou.

Ao que o presidente da COE, Délcio Pereira, concordou: “a gente vê tanto na COE quanto na COF essas questões que chegam quanto à branquitude e ao racismo e a gente precisa estar atento a isso.”

Por fim, o conselheiro Daniel Melo estabeleceu uma conexão com os diálogos da véspera, sobre a NR-1. “As relações raciais perpassam completamente o adoecimento mental dentro das relações de trabalho”, ponderou.

Com o tema Branquitudes e Racismo, a palestra de abertura foi ministrada por Ayala Santerio, do coletivo de mulheres negras N’zinga, e por Thaíres Ferreira, da Comissão de Orientação em Psicologia e Relações Étnico-Raciais (Coprer). CoprerEm sua fala, Ayala provocou a plateia com uma reflexão sobre o papel das pessoas brancas na estrutura racista: “Quando a gente fala de racismo, a gente fala pensando nas pessoas negras. Mas e as pessoas brancas? Como é que elas tratam disso? Qual é o lugar dos brancos nessa estrutura racista, misógina, machista?”, questionou. Na sequência, Thaires destacou a importância de pensar o papel da Psicologia no enfrentamento da branquitude. “Eu faço aqui um convite para pensarmos sobre nós mesmos, sobre os privilégios que temos e os que nos faltam. Quando reconhecemos a dimensão racial em todos os espaços, inclusive no ambiente escolar e no ambiente de trabalho, estamos, de fato, promovendo transformação”, defendeu.

Na segunda palestra, a psicóloga Jeane Tavares reforçou que o antirracismo é um imperativo ético e técnico a ser discutido pela Psicologia: “se você não é antirracista, não consegue atender nem pessoas brancas. É preciso compreender a subjetividade racial em todos os atendimentos”, declarou.

A mesa de encerramento reuniu a conselheira integrante da Coprer Alessandra Belmonte, a conselheira que coordenou o GT Branquitude Cristiane Nogueira, e o conselheiro membro da COF Márcio Damasceno.

Alessandra Belmonte lembrou que o racismo aparece de diferentes formas na contemporaneidade. A psicóloga citou situações envolvendo algoritmos e veículos autônomos, que não reconhecem pessoas negras, e reforçou que esse é um problema sobre o qual a Psicologia deve se debruçar. “Pessoas que sofrem esse tipo de violência vão chegar em algum momento até nós, seja na clínica ou na política pública. Penso que este encontro foi bastante potente, por isso parabenizo o GT Branquitudes pela parceria junto à CDH e acho que vale produzir algo a partir do que foi discutido hoje”, convocou.

Já Cristiane Nogueira compartilhou o processo de reconhecimento do próprio lugar social e refletiu sobre o papel das pessoas brancas nas discussões raciais dentro do Conselho. “Eu tomei para mim a vontade de me transformar. Eu me dispus neste lugar e comecei a me sentir até envergonhada por tantas vezes que falei que eu não era racista. A gente começa a perceber que a gente é. Por falta de reflexão, porque é estrutural, por uma série de motivos. É sobre uma busca de responsabilização do meu lugar”, refletiu a conselheira.

Por fim, Márcio Damasceno pontuou que o encontro foi uma escuta coletiva marcada por “desconfortos necessários”. “É com esse espírito de inquietação e de responsabilidade que encerramos esta atividade, que não representa um ponto final, mas um chamado à continuidade, um convite à coragem de olhar o mundo como ele é e também como ele pode e precisa ser”, finalizou.



– CRP PELO INTERIOR –