CRP-MG promove Congresso histórico sobre Psicologia e Migração, em Belo Horizonte

Evento reuniu mais de 60 convidadas(os), de 10 países, e já pode ser assistido no YouTube

Entre os dias 19 e 21 de junho, a capital mineira sediou o 1º Congresso Brasileiro de Psicologia e Migração (CBPM). Foram mais de 46 atividades realizadas, incluindo lançamento de livros, atividades culturais, Conferências, Mesas, Grupos de Trabalhos, Exposição de Pôsteres e Minicursos.

Como atividade Pré-Congresso, no dia 18 também foi promovida uma sessão especial do Cine Diversidade, com a exibição comentada do documentário Por trás dos fronts: resistências e resiliências na Palestina, realizado em Gaza, e do curta Perdido no mar, uma animação inspirada na vida de um refugiado rohingya, lançado pelo Médicos sem Fronteiras (MSF).

397 pessoas participaram presencialmente do Congresso, que também foi transmitido pelo Canal do CRP-MG no YouTube e segue disponível para visualização.

A participação de especialistas de vários países foi um dos destaques do encontro. O CBPM foi pensado de forma a favorecer a troca de experiências e orientado pela perspectiva do Sul Global, por isso a maior parte das(os) palestrantes provém de países da América Latina, África e Oriente Médio. Ao todo, 66 convidadas(os), vindas(os) da Colômbia, do Congo, do Haiti, de Israel, do Quênia, da Palestina, do Peru, da Rússia e da Venezuela, compartilharam suas experiências em uma das 6 Mesas ou dos 12 Minicursos promovidos.

O evento também foi um importante marco na produção de conhecimento sobre a temática. 168 trabalhos foram submetidos e 154 deles foram aprovados por uma equipe de 25 avaliadores. As apresentações foram distribuídas entre oito Grupos de Trabalho temáticos, que ocuparam 18 salas.

O 1º Congresso Brasileiro de Psicologia e Migração também contou com uma Feira de Mulheres Migrantes, organizada pelo Núcleo de Geração de Renda do coletivo Cio da Terra, e com um espaço de recreação com monitores preparados para acolher crianças e adolescentes, com o objetivo de viabilizar a participação de cuidadoras(es) durante as atividades.

Na avaliação do coordenador geral do Congresso e conselheiro do CRP-MG, Henrique Galhano Balieiro, o evento foi um sucesso. “O CBPM foi além das expectativas, tivemos a oportunidade de ser um campo fértil na troca de conhecimentos dessa temática, que recentemente vem sendo alvo de interesse de profissionais e de estudantes da Psicologia. Tentamos neste Congresso abarcar o máximo da transversalidade que a temática da migração intersecciona e pudemos observar um público interessado em aprender, em realizar trocas e em construir junto esta nova área de conhecimento dentro da Psicologia no Brasil”, declarou o psicólogo, que coordena a Comissão de Orientação em Psicologia e Migração da autarquia mineira.

Boas-vindas

A abertura do Congresso contou com a participação da presidenta do CRP-MG, Suellen Fraga, que enfatizou a honra de realizar o primeiro Congresso de Migração da história do Sistema Conselhos de Psicologia.

“A própria categoria demandou do Sistema Conselhos, no 11º Congresso Nacional de Psicologia, que esse tema fosse trabalhado pelas gestões. O CRP-MG, atento a isso, acolheu a tese e estamos aqui hoje realizando este Congresso, que é um compromisso pela vida, do qual a Psicologia, enquanto profissão da saúde, não pode se furtar, considerando a história do Brasil, dos processos e dos fluxos migratórios, e considerando os projetos ético-políticos da gestão, por um viés de descolonização dos saberes e dos corpos. Falar de povos migrantes e refugiados é também reafirmar o nosso compromisso com uma luta antirracista”, defendeu a conselheira.

Além das(os) conselheiras(os) do CRP-MG Suellen Fraga e Henrique Galhano, também participaram da mesa de abertura o Presidente do Conselho Federal de Psicologia (CFP), Pedro Paulo Bicalho; o Reitor da PUC Minas, Professor Doutor Padre Luís Henrique Eloy e Silva; a Diretora da Faculdade de Psicologia da PUC Minas, Professora Doutora Liza Fensterseifer; a representante da Psimigra, Rima Awada Zahra; a representante do Médico Sem Fronteiras, Renata Rodrigues Santos; e a representante do Coletivo de Mulheres Migrantes Cio da Terra, Jameny Sarmiento.

Coorganizador do evento, o Conselho Federal de Psicologia foi representado pelo presidente Pedro Paulo Bicalho. Na oportunidade, o psicólogo destacou os recentes avanços no tema da migração. “Há dez dias, a Psicologia Brasileira esteve presente na 76ª Assembleia Mundial da Saúde, na qual aprovamos uma resolução afirmando que a saúde mental é imprescindível no contexto de conflito urbano e no contexto de desastres, sejam eles naturais ou produzidos pelo homem. Na última resolução aprovada na Assembleia, afirmou-se que o contexto que hoje ocorre na Palestina afeta a saúde global e foi definido que, a partir do próximo ano, a Palestina se torna Estado Membro da Organização Mundial da Saúde, a OMS.”, relatou o conselheiro.

Na ocasião, a peruana Jameny Sarmiento, que também é psicóloga, destacou a importância de se refletir sobre o tema. “Quando eu me formei, há 20 anos, eu nem ouvi falar sobre migração no curso de Psicologia, por isso este Congresso é muito importante e o Cio da Terra está muito feliz de fazer parte dessa construção”, pontuou.

Já a representante do Médico Sem Fronteiras (MSF), Renata Rodrigues Santos, lembrou que o grupo de pessoas migrantes não é homogêneo. “Dentro desse conjunto de pessoas que não migram por desejo ou por vontade própria existem grupos ainda mais fragilizados. Nossa organização tem trabalhos, por exemplo, com população migrante LGBTQIAPN+ e com população migrante indígena. E temos percebido um movimento constante e em ascensão de deslocamentos forçados pela emergência climática”, alertou.

Representando o Coletivo de profissionais da Psicologia que atuam com migração (Psimigra), a libanesa brasileira Rima Awada Zahra reforçou a necessidade de se olhar para a realidade das vítimas e estabelecer uma solidariedade que envolva parcerias e o trabalho conjunto de profissionais, acadêmicos, ativistas e educadores, com os locais mais afetados. “Este Congresso é uma forma de solidariedade internacional. Que as nossas ações de solidariedade sejam sensíveis às necessidades de todos e ajudem os povos oprimidos a disseminarem sua narrativa, suas aspirações e seu ponto de vista para o mundo”, convocou a psicóloga, que também integrou a coordenação do evento.

Para a Diretora da faculdade de Psicologia da PUC Minas, Liza Fensterseifer, a migração é uma experiência que impacta identidades, culturas e destinos, por isso é necessário reconhecer o custo psicológico que o deslocamento pode causar. “É mister que a Psicologia se debruce sobre as formas de contribuir para o apoio e para a integração dos migrantes e dos refugiados, explorando estratégias para a promoção de saúde mental, fomentando competências culturais e defendendo os direitos e políticas para dignidade dessas pessoas”, argumentou.

Por fim, o Reitor da PUC Minas, Prof. Dr. padre Luís Henrique Eloy e Silva, afirmou que o tema da Migração toca profundamente os valores da Universidade. “Perder a sensibilidade com um tema como esse, que marca a humanidade, é perder a sensibilidade para algo que é central e talvez a perda dessa sensibilidade nos leve a cometer erros que não deveriam mais ser cometidos. Espero que a presença dos senhores e das senhoras em nossa universidade, com a sua experiência, com a sua pesquisa, com o seu diálogo e também com os seus debates, possa nos ajudar a buscar caminhos de sensibilização para esse importante tema”, declarou.

Na sequência, foi realizada a conferência de abertura, proferida pela psiquiatra e psicoterapeuta Samah Jabr, chefe da Unidade de Saúde Mental do Ministério Palestino. A palestra teve o título Ampliando o debate sobre saúde mental: discursos psicológicos dominantes e o contexto palestino. A Conferência completa, bem como a Mesa de Abertura podem ser assistidas no Canal do CRP-MG no Youtube.

Carta de Belo Horizonte

 

No encerramento do Congresso, a presidenta do CRP-MG, Suellen Fraga, e a vice-presidenta do CFP, Alessandra Santos de Almeida, leram juntas a Declaração conjunta do I Encontro do Sistema Conselhos de Psicologia sobre Migração, Refúgio e Apatridia (Carta de Belo Horizonte), construída e aprovada durante 1º Encontro do Sistema Conselhos de Psicologia sobre Migrações, Refúgio e Apatridia, que ocorreu no dia 19 de junho.

A Mesa de Encerramento também está disponível no Canal do CRP-MG no Youtube. No vídeo, também é possível assistir à Conferência final do Congresso.

Confira todas as Mesas disponíveis, na íntegra, no Youtube:

Abertura Oficial + Conferência Ampliando o debate sobre Saúde Mental
Clínica e Migração – Atendimento a Migrantes e Refugiados
Dispositivo de Cuidados em Saúde Mental da População Migrante e Refugiada
Impactos Psicossociais da Guerra
Migração e Políticas Públicas: Descolonizar o Estado, combater o Neoliberalismo
Migração e Trabalho
População Índigena Migrante em Contexto Urbano
Conflitos, Migração e Questões Transversais de Saúde Mental sob a Perspectiva da África Oriental
Conferência Conflitos, Migração E Questões Transversais De Sm Sob A Perspectiva Da África Oriental + Mesa de Encerramento

Já os registros fotográficos estão disponíveis aqui e aqui.

O 1º Congresso Brasileiro de Psicologia e Migração foi realizado pelo CRP-MG e contou com a coorganização do Conselho Federal de Psicologia (CFP) e a parceria da PUC Minas e do coletivo de profissionais da Psicologia que atuam com migração (Psimigra). Foram apoiadores da iniciativa: Cio da Terra, Médicos Sem Fronteiras (MSF) e os Conselhos Regionais de Psicologia do Distrito Federal (CRP-DF), Paraná (CRP-PR), Rio de Janeiro (CRP-RJ) e São Paulo (CRP-SP).



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