CRP-MG realiza reflexão sobre a atuação da(o) psicóloga(o) após os desastres e calamidades ambientais

“O desastre não termina na primeira resposta” foi o tema da roda de conversa organizada pelo Conselho Regional de Psicologia – Minas Gerais (CRP-MG), por meio da Comissão de Psicologia de Emergências e Desastres, na última quinta-feira, 6, em sua sede, em Belo Horizonte.  A atividade integra um conjunto de ações da autarquia para orientar a categoria que está atuando nesse momento de calamidades espalhadas pelo estado.

Assista o encontro, na íntegra.

Participaram como convidadas(os) Ana Rita Trajano, psicóloga, mestra em Psicologia e doutora em Educação, professora universitária no curso de Psicologia da Universidade Estadual de Minas Gerais (Uemg), em Divinópolis, e militante da Frente em Defesa do SUS e da Frente Resistência Oeste – BH, integrante da gestão do Sindicato das psicólogas e dos psicólogos de Minas Gerais (Psind-MG); Bernardo Dolabella Melo, psicólogo clínico, especialista em Saúde Mental, mestre em Psicologia, técnico do Projeto CAVAS/UFMG, coordenador de voluntários que atuaram em Brumadinho junto ao CRP-MG e do setor Psicossocial e Gestão de Desastres da Cruz Vermelha; Juliane Guimarães, graduada em Psicologia, especialista em Saúde do Adolescente, analista de Políticas Públicas da Subsecretaria de Assistência Social da Prefeitura de Belo Horizonte, integrante da Comissão de Psicologia de Emergências e Desastres do CRP-MG; e Lilian Garate, psicóloga com especialização em Psicologia Hospitalar e em Saúde Mental em Emergências, Catástrofes e Desastres. A mesa foi mediada por Cristiane Nogueira, coordenadora de Saúde Mental de Itaúna, professora universitária, conselheira e coordenadora da Comissão de Saúde Mental, Álcool e Outras Drogas do CRP-MG e também integrante da de Emergências e Desastres.

Bernardo Dolabela iniciou a fase de apresentações relatando que o momento inicial do desastre, que pode ser chamado de estresse, nem sempre requer um atendimento clínico. “Ele é natural. A pessoa atingida pode se beneficiar, sim, do apoio psicossocial. É a nossa missão, enquanto trabalhadoras(es) da rede de dar essa primeira resposta. Estamos dizendo é do segundo momento, de quando a emergência é estabilizada, de quando se deve construir e lidar com as questões que ainda se mantem vivas”, ponderou ele.

A psicóloga Ana Trajano, complementou Dolabela ressaltando que a atuação nas emergências e desastres deve ser transdisciplinar, em rede e nunca individualizada. “Mesmo que a psicóloga more na região afetada ela não pode se apresentar simplesmente como voluntária. É preciso conhecer a rede local e ver suas necessidades”, assegurou. Ela fez ainda um alerta sobre a missão da Psicologia de cuidar do adoecimento das outras profissionais envolvidas no atendimento.

Assegurar informações corretas – Para contribuir com o debate na visão do atendimento da política pública de assistência social, participou a convidada Juliane Guimarães. Ela destacou alguns pontos que disse julgar fundamentais no que diz respeito ao trabalho social com as famílias e os indivíduos. “Penso na segurança de acolhida, no prover informações e dar as melhores orientações. Os desastres são tão complexos e merecem esse olhar cuidadoso e do todo. Por exemplo, nessa primeira acolhida é possível fazer a identificação de quais pessoas já tinham cadastro para entender as reais necessidades. É preciso também estar muito atenta ao espaço de violações de direitos tão comum nessa situação de desastres”, enumerou a psicóloga. Por último ela frisou que a assistência social também deve contribuir com o cuidado da saúde mental, e sempre atentar para os saberes locais.

O encerramento das apresentações contou com a fala de Lilian Garate, que descreveu o que chama de círculo do desastre: prevenção, preparação e mitigação, primeira resposta, recuperação e reconstrução, que também são prevenção. “Ultimamente, aqui em Minas Gerais, os desastres estão se sobrepondo e não está havendo possibilidade de fechar o ciclo. A recuperação e a reconstrução não estão chegando onde deveria, comprometendo as ações de prevenção”, lamentou. Segundo ela há um mito que é papel da(o) psicóloga eliminar a dor e que isso é inconsistente. “A nossa atuação é importantíssima no primeiro momento para minimizar esse sofrimento, evitar violação de direitos, sempre trabalhando na perspectiva psicossocial, pensando nas múltiplas dimensões do desastre”, alertou completando que “temos que ter em mente que é possível fazer pequenas atuações que não são atendimento nem acolhimento: dar suporte às equipes que estão atuando, orientando, colaborando para que o fluxo funcione bem entre as partes envolvidas; ajudar as equipes a lidar com as emoções que surgem; buscar os recursos criativos para lidar com situações extremas; e ainda procurar saber das ações que verdadeiramente funcionaram, voltando também o olhar para o que pode ser diferente, para que seja possível sair da repetição e avançar na prevenção dos desastres”.



– CRP PELO INTERIOR –