11 dez Dia Nacional da Assistência Social: Psicologia como agente indispensável na construção do SUAS
Mais de 32 mil psicólogas(os) atuam no Sistema, levando escuta qualificada e ação transformadora a todos os territórios do país
No dia 7 de dezembro, foi celebrado o Dia Nacional da Assistência Social, data que reforça a importância do Sistema Único de Assistência Social (SUAS) para a garantia de direitos e a proteção social no Brasil. Nesse contexto, a Psicologia se apresenta não como uma área acessória, mas como um eixo estruturante e indispensável para o fortalecimento do sistema.
Essa atuação se reflete em números expressivos: segundo dados do Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (Painel CADSUAS), mais de 32 mil psicólogas(os) atuam no SUAS em todo o país, sendo cerca de 27 mil mulheres. Somente em Minas Gerais, são mais de 4.500 profissionais inseridas(os) na rede socioassistencial. Para compreender a profundidade dessa atuação, conversamos com a psicóloga e conselheira do CRP-MG, Ângela Valentim, que detalhou contribuições, desafios e caminhos para uma prática psicológica comprometida com os princípios do SUAS.
De acordo com a conselheira, a atuação da Psicologia no SUAS se diferencia por sua capacidade única de intervir na dimensão subjetiva das vulnerabilidades sociais. “A Psicologia é a área que compreende como emoções, crenças, vínculos, padrões relacionais e experiências de sofrimento influenciam o modo como indivíduos e famílias lidam com violações de direitos, pobreza e exclusão social”, destaca a conselheira. Na Proteção Social Básica, esse olhar se materializa em práticas que promovem autonomia e protagonismo, como grupos de convivência e escuta qualificada. Já na Proteção Social Especial, a atuação psicológica é crucial para o atendimento a casos de violência, abandono, medidas socioeducativas e acolhimento institucional.
Um dos pontos centrais para uma prática ética e eficaz é a incorporação da perspectiva de gênero. Considerando que o público atendido no SUAS é majoritariamente feminino, essa lente analítica permite compreender as desigualdades estruturais que atravessam a vida das mulheres, como a sobrecarga de cuidado, a violência doméstica e a intersecção com o racismo. “Com a perspectiva de gênero, a Psicologia deixa de individualizar o sofrimento e passa a compreendê-lo como resultado de sistemas de opressão, e não de ‘falhas pessoais'”, explica Ângela. Isso evita discursos culpabilizantes e permite intervenções que fortalecem a autonomia e a segurança das usuárias.
Apesar da sua relevância, a conselheira aponta que ainda persistem entraves significativos ao pleno reconhecimento do trabalho psicológico no SUAS. Entre eles, estão uma compreensão reduzida do papel da Psicologia por parte de gestores, associando-a apenas ao atendimento clínico tradicional; a precarização dos vínculos de trabalho; e uma formação universitária que, muitas vezes, está distante da realidade das políticas públicas. “A graduação em Psicologia em muitas faculdades ainda é muito centrada no modelo clínico tradicional, com pouca ênfase em políticas sociais, análise crítica das desigualdades e práticas comunitárias”, observa.
Para superar esses desafios e qualificar a atuação, as Referências Técnicas publicadas pelo Centro de Referências Técnicas em Psicologia e Políticas Públicas (Crepop) oferecem subsídios práticos importantes. Esses documentos traduzem diretrizes éticas em metodologias aplicáveis, orientando desde a escuta qualificada e a prevenção à revitimização até o enfrentamento do racismo e da violência institucional. Eles fornecem um norte seguro para psicólogas e psicólogos que atuam em contextos complexos, como o atendimento a mulheres em situação de violência.
No contexto dos 21 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência contra as Mulheres, a conselheira Ângela Valentim destaca estratégias concretas para uma atuação interseccional a partir do SUAS. Ações como o mapeamento territorial, a realização de rodas de conversa, a busca ativa qualificada e a articulação intersetorial são fundamentais para prevenir e enfrentar a violência, considerando as múltiplas opressões que afetam as mulheres. “Essas ações tornam o SUAS um ator central na prevenção e no enfrentamento da violência contra as mulheres, especialmente aquelas mais vulnerabilizadas pelo racismo, pela pobreza e pelas desigualdades estruturais”, conclui.
Confira a homenagem do CRP-MG ao Dia Nacional da Assistência Social:






