Diálogo sobre os desafios vivenciados por psicólogas negras mobiliza categoria em encontro na capital mineira

Atividade do Psicologia em Foco foi realizada no auditório Rosimeire Aparecida da Silva, na sede do CRP-MG

O Conselho Regional de Psicologia – Minas Gerais (CRP-MG) promoveu na noite dessa quarta-feira, 24/7, uma nova edição do Psicologia em Foco. Com o tema Psicólogas negras: da formação às práticas, o evento ocorreu na véspera do Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha, celebrado hoje, e trouxe reflexões sobre racismo institucional, formas de resistência e ressignificação.

A presidenta do CRP-MG, Suellen Fraga, deu as boas-vindas ao público e às integrantes da mesa. “É uma alegria estar aqui com vocês em julho, esse mês tão especial para nós, mulheres negras. Celebraremos amanhã, dia 25, o Dia da Mulher Negra Latino-americana e Caribenha, uma data de expressão da resistência dessa população no âmbito do território geográfico”, afirmou Suellen Fraga. Ela também lembrou que esse marco foi instituído porque mulheres negras se reuniram para denunciar todas as formas de ameaça às suas vidas.

A vice-presidenta do Conselho, Liliane Martins, mediou o evento e destacou a trajetória e a importância da presença de mulheres negras atuantes na Psicologia. “Precisamos refletir sobre os enfrentamentos pelos quais passamos em uma formação eurocentrada e estadunidense. Também há os desafios pós formação, para inserção no mercado de trabalho, na vida acadêmica e até mesmo nas gestões do Sistema Conselhos”, ponderou a conselheira. Na avaliação da psicóloga, as instituições no Brasil ainda carregam as marcas dos 400 anos de escravidão vividos no país. “ Isso coloca as mulheres negras em um lugar de encruzilhada, atravessadas pelo gênero, pela raça e pela classe, pois para essas instituições as mulheres negras não existem”, denunciou.

Pesquisadora das relações étnico-raciais, Maria Conceição Costa foi uma das convidadas e ressaltou a importância das reflexões trazidas pela professora, filósofa, antropóloga e ativista mineira Lélia Gonzales. “Ela foi uma das maiores intelectuais do mundo e fundadora do movimento negro brasileiro. Não é possível falar da Psicologia sem falar dessa grande figura e referência, que trouxe conceitos importantes, como amefricanidade, denegação e pretuguês.

Já a pesquisadora Monaliza Alcântara destacou o desafio histórico que envolve a formação das mulheres negras: “O Brasil foi o último país da América Latina a instituir a educação superior. E quando ela foi instituída, foi acessada apenas pela elite brasileira. Não é uma experiência pouco comum ser a primeira mulher negra com ensino superior na família. Esse dado demonstra o quanto é recente o acesso dessas pessoas às universidades”. Para a psicóloga, a disparidade continua. “Segundo o Inep, até 2020 existiam 304 instituições de ensino superior públicas e 2153 instituições de ensino privadas. Quem vai para as universidades públicas? Quais corpos ocupam esse lugar? Historicamente o lugar da universidade pública foi reservado para a elite, e continua. A disparidade que persiste tanto no corpo discente quanto no docente vai dizer muito sobre processos de violência que estudantes negras e negros vão sofrer na graduação”, concluiu.

Luta e resistência

Dia 25 de julho marca o Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha. A data foi instituída pela Organização das Nações Unidas (ONU) durante o 1º Encontro de Mulheres Afro-Latino-Americanas e Afro-Caribenhas, realizado em Santo Domingo, na República Dominicana, em 1992. Estiveram presentes mais de 300 representantes de 32 países, para compartilhar suas vivências, denunciar opressões sofridas e debater soluções para o enfrentamento ao racismo e ao machismo.

A data também marca o Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra, instituído por lei no Brasil em 2014, para lembrar a luta das mulheres contra a escravização.

Ações Mobilizadoras

O encontro integra uma série de eventos preparatórios para o 12º Congresso Regional de Psicologia (Corepsi) e está disponível na íntegra no canal do CRP-MG no Youtube. Confira:



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