Enfrentamento à tortura e apoio às vítimas são abordados em live do CRP-MG

Transmissão também reverencia o Dia Internacional de Apoio às Vítimas de Tortura, celebrado em 26 de junho

Com o intuito de abordar as denúncias que ainda ocorrem sobre práticas de tortura em locais como presídios, unidades socioeducativas, hospitais e comunidades terapêuticas, o Conselho Regional de Psicologia – Minas Gerais (CRP-MG) promoveu a live “Tortura nunca mais! Em referência ao Dia Internacional de Apoio às Vítimas de Tortura”. O encontro integra a série Saúde Mental de Janeiro a Janeiro e ocorreu na noite da última terça-feira, 25/6.

Desde 1997, o Dia Internacional de Apoio às Vítimas de Tortura é celebrado em 26 de junho. A data foi instituída pela Organização das Nações Unidas (ONU) e busca dar visibilidade ao tema, apoiar as vítimas dessa violência e combater a execução dessas práticas.

A coordenadora do Laboratório de Estudos sobre Trabalho, Cárcere e Direitos Humanos da Universidade Federal de Minas Gerais (LABTRAB/UFMG), Carolyne Reis Barros, destacou que o enfrentamento à tortura está conectado à lógica antimanicomial: “É preciso pensar que a prática psi, e não só ela como também a produção do conhecimento científico e abolicionista, deve se inspirar na Luta Antimanicomial. É preciso entender a loucura como uma experiência universal”.

O militante e membro da diretoria da Associação dos Usuários dos Serviços de Saúde Mental (ASSUSAM), Leandro Frederico Gomes, trouxe um relato do período em que esteve encarcerado em um manicômio, no qual foi confinado contra sua vontade. Ao longo dos 90 dias em que esteve lá, ele foi vítima de 17 sessões de eletroconvulsoterapia.

Durante sua participação na live, Leandro destacou a importância da Associação em seu processo de recuperação após as experiências violentas que vivenciou. “Como sair do fundo do poço? Você não consegue fazer isso sozinho. Você precisa do apoio de pessoas que te deem suporte e te acolham, e eu consegui isso dentro da Assusam. Eu fiquei impressionado quando conheci a estrutura da Associação e soube que ela não recebe dinheiro nem do poder público nem do poder privado, vive de doações. Sobrevive por meio de ‘vaquinha’, mas tem uma força e um poder gigantes”, afirmou o convidado.

Para a coordenadora e mobilizadora social da Associação de Amigos e Familiares de Pessoas em Privação de Liberdade, Maria Teresa dos Santos, o sistema carcerário brasileiro é um dos locais onde atos de tortura se mantêm presentes na atualidade. “Se existe um lugar onde a tortura é constante, é o sistema prisional, porque há pessoas que ainda não entenderam que estão ali para cuidar das pessoas acauteladas pelo Estado, para devolvê-las para a sociedade quando elas tiverem refletido sobre o crime que cometeram”, afirmou. “Fornecer alimentação imprópria para consumo, disponibilizar pouca quantidade de água, deixar uma pessoa sem assistência médica, sem atendimento odontológico… tudo isso são formas de tortura”, ponderou a participante da live.

Maria Teresa também lembrou que diferentes fatores influenciam as maneiras como a justiça trata as(os) cidadãs(os): “Eu não vou me cansar de dizer que a justiça não é cega, e sim caolha. Ela enxerga cor da pele, o CEP onde as pessoas moram, e é isso que vai dizer se a pessoa é culpada ou não pelo crime que está sendo dito que ela cometeu”, denunciou.

O encontro foi mediado pelo coordenador da Comissão de Direitos Humanos do CRP-MG e membro da Frente Mineira Drogas e Direitos Humanos, Daniel Caldeira de Melo. Para o psicólogo, muitas pessoas não sabem que atos de tortura ainda ocorrem porque essas práticas estão mais camufladas hoje em dia. “Nossa sociedade acredita que não existe mais tortura porque ela está tão bem escondida e direcionada para públicos e locais específicos, que escapa da grande maioria”, afirmou o conselheiro.

A live está disponível, na íntegra, no canal do CRP-MG no YouTube. Assista:



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