27 mar Entrevista: conselheira responsável pelo CREPOP reflete sobre os desafios do cuidado em liberdade e a contribuição da I Mostra Nacional de Práticas Profissionais
Evento será realizado nos dias 27 e 28 de maio e valoriza boas práticas na Rede de Atenção Psicossocial (RAPS)
A Psicologia tem contribuído ativamente para a construção de políticas públicas de saúde e bem-estar psicológico, como um dos pilares da luta antimanicomial e da reforma psiquiátrica. Ao longo dos anos, a categoria se consolidou como protagonista na defesa do cuidado em liberdade, promovendo atendimento humanizado e integrado às(aos) pacientes. Nesse contexto, a I Mostra Nacional de Práticas Profissionais chega como um lugar em que psicólogas(os) e usuárias(os) da RAPS são valorizadas(os), a partir da troca e da premiação de projetos teóricos das(os) profissionais e artísticos das(os) usuárias(os) dos serviços.
Para falar sobre os desafios enfrentados na rede e sobre a proposta do encontro, entrevistamos a conselheira do CRP-MG responsável pelo Crepop de Minas, Paula de Paula. A psicóloga também é professora nos cursos de Psicologia e de Educação Física da PUC Minas e afirma que, diante de um cenário em que a desinformação e o estigma dificultam a adesão ao tratamento, ampliar a visibilidade das práticas em saúde mental se torna uma estratégia essencial para reafirmar a importância do cuidado em liberdade.
Por que fazer uma Mostra de práticas profissionais?
Para valorizar o trabalho de psicólogas, psicólogos e psicólogues que estão na RAPs, dando testemunho de suas competências profissionais, tão necessárias à defesa do cuidado e do tratamento em liberdade. Além disso, as mostras contribuem para a construção de memórias da profissão, permitindo que profissionais e usuários compartilhem suas vivências e invenções.
Por que a escolha de premiar trabalhadoras e trabalhadores da RAPS?
Porque sem essas(es) profissionais da Psicologia e outras(os) tantas(os) que colocam seus corpos na luta pelo fortalecimento de uma política de saúde mental antimanicomial, haveria o risco de vermos, no horizonte do tempo, a morte dessa utopia.
O que se espera de um bom Relato de Experiência?
Conforme o Edital, um bom Relato de Experiência deve apresentar de forma clara e estruturada a trajetória de uma prática específica, destacando sua motivação, desenvolvimento, desafios e impactos. O relato deve permitir que leitoras e leitores compreendam o contexto inicial, as atividades realizadas, os recursos utilizados e as mudanças promovidas pela prática. Além disso, deve evidenciar como a experiência contribuiu para a Rede de Atenção Psicossocial (RAPS), os aprendizados adquiridos e a possibilidade de replicação do processo por outras e outros profissionais. A interação com diferentes equipamentos da Rede e os sentimentos envolvidos no processo também são aspectos importantes a serem abordados.
Quais são os principais desafios que profissionais da RAPS enfrentam hoje?
A RAPS enfrenta tantos desafios que é difícil falar deles nesse espaço, mas começamos por destacar o sub-financiamento governamental para realizar o que prevê a Política Nacional de Saúde Mental. Isso dificulta o acesso da(o) usuária(o) e de sua família aos serviços que, na maioria das vezes, operam com equipe reduzida e infraestrutura física precária. Há um grande estigma e preconceito em relação à periculosidade de pacientes psiquiátricas e psiquiátricos que, junto à desinformação sobre o cuidado em liberdade, faz com que os problemas de adesão ao tratamento se agravem.
Corremos o risco de retrocessos?
Sofremos retrocessos desde o golpe jurídico-parlamentar sofrido pela presidenta Dilma. Logo em 2017, no (des)governo Temer, foi publicada uma Portaria do Ministério da Saúde interrompendo o fechamento dos hospitais psiquiátricos, propondo o retorno de modalidades de serviços ultrapassados e, obviamente, direcionando os recursos financeiros para lógicas de atenção centradas na privação da liberdade, entre elas, as chamadas comunidades terapêuticas (CT’s), que passaram a receber, a cada ano, mais e mais recursos, deteriorando, por consequência, a rede de serviços substitutivos aos manicômios, como os Centros de Referência em Saúde Mental Álcool e Drogas, os Centros de Atenção Psicossocial, os Centros de Convivência, os Serviços Residenciais Terapêuticos, os Consultórios de Rua, entre outros.
O tema da Mostra é “A Psicologia na luta pelo cuidado em liberdade: ontem, hoje, sempre!”. Como você avalia a luta antimanicomial hoje no país? E em Minas?
Minas sempre foi pioneira na luta antimanicomial e a categoria de Psicólogas(os) sempre se fez presente com garra e determinação. Durante o governo Bolsonaro, houve uma criminalização dos movimentos sociais, a disseminação do ódio contra políticas para minorias e a eliminação da diversidade. A Luta Antimanicomial não passou ilesa desse estrago. Houve um grande refluxo na organização e força do movimento, mas não o suficiente para calá-lo, de maneira que, sem essa luta, os retrocessos seriam ainda maiores nas políticas de assistência à saúde mental e a usuários de álcool e outras drogas, por exemplo.
Que produções do Crepop sobre o cuidado em liberdade você destacaria?
Em 2013, o CREPOP lançou as Referências Técnicas para Atuação de Psicólogas (os) no Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), que foram revisadas em 2022. O CREPOP de Minas publicou, em setembro de 2021, o extrato da pesquisa A atuação de psicólogas(os) na Rede de Atenção (RAPS), com a sistematização de dados referentes ao nosso estado. Em novembro de 2024, o Conselho Federal de Psicologia (CFP), por meio do Centro de Referência Técnica em Psicologia e Políticas Públicas (CREPOP), lançou, durante o 9º Congresso Brasileiro de Saúde Mental, o Levantamento nacional – Profissionais da Psicologia e o cuidado em liberdade no cotidiano da RAPS e da rede intersetorial. O relatório faz parte da campanha “A Psicologia na luta pelo cuidado em liberdade: ontem, hoje e sempre” e, portanto, a I Mostra de práticas profissionais é um desdobramento dessa campanha tão necessária.
Agenda
I Mostra Nacional de Práticas Profissionais
Data: 27 e 28 de maio de 2025
Submissão de trabalhos: até 4 de abril de 2025, na página da Mostra
Seleção: serão selecionados dez Relatos de Experiência para serem apresentados oralmente na Mostra. Já as Manifestações Artísticas ficarão expostas, conforme capacidade do local de realização do evento.
Divulgação dos trabalhos selecionados: 5 de maio de 2025, no site do CRP-MG
Premiação: Relatos de Experiência: 1º lugar R$ 2.500, 2º lugar: R$ 1.500 e 3º lugar: R$ 1.000,00. Manifestações Artísticas: 1º, 2º e 3º lugares: R$ 1.000,00 cada.
Inscrições para participantes observadores: 30 de abril de 2025 a 26 de maio de 2025, na página da Mostra
Para mais detalhes, leia o edital do evento e acompanhe as notícias no site do CRP-MG e na mídias sociais do Conselho.
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