23 set ENTREVISTA: nova gestão do CRP-MG propõe melhorias para a autarquia

Após a posse administrativa, conselheiras(os) eleitas(os) refletiram sobre as prioridades de atuação e defenderam a ampliação do diálogo com a categoria

A cada três anos, o Sistema Conselhos de Psicologia elege uma nova gestão para os Conselhos Regionais e Federal. Nas eleições de 2025, a chapa Muda Psicologia foi escolhida pela categoria para assumir a condução dos trabalhos no Conselho Regional de Psicologia – Minas Gerais (CRP-MG) até 2028.

Na última sexta-feira, 19 de setembro, foi realizada a Plenária de Transição entre o XVII e o XVIII Plenários e os trabalhos já começaram.

Para explicar as ações prioritárias da nova gestão, conversamos com o presidente do CRP-MG, André Luiz Moreno, que assume a presidência da autarquia; com a conselheira Andressa Antunes, que irá se dedicar a frentes de trabalho relacionadas a prestação de contas e relacionamento com a categoria; e com o conselheiro André Ferreira, empenhado em aperfeiçoar fluxos e processos dentro da instituição. Confira:

É a primeira vez que vocês ocupam o cargo de conselheira e conselheiros. Qual é a expectativa no exercício dessa função?

André Luiz Moreno
A minha principal expectativa é conseguir honrar a confiança de tanta gente que se mobilizou para estar com a gente neste projeto. Acho que foi uma mobilização bastante expressiva. Estamos reivindicando uma participação mais atuante do Conselho e tenho muita, muita satisfação de encabeçar a chapa que tem a oportunidade de conduzir essa mudança.

André Ferreira
Pessoalmente, tenho muitas expectativas. Nós temos observado o trabalho do CRP e do CFP, às vezes com muita esperança, às vezes com alguma decepção ou frustração, mas dificilmente a gente diverge de objetivos de melhoria da profissão ou dos atendimentos dos psicólogos. O que a gente divergiu das gestões anteriores foi o modo de fazer. Então, a expectativa maior é de poder traçar novos rumos para o mesmo objetivo de sempre, que é melhorar a vida dos psicólogos.

Andressa Antunes
Nós conseguimos montar um grupo com ideias muito parecidas. Vejo todo mundo numa mesma energia, de pessoas que querem trabalhar. Logo após a vitória, já nos reunimos e começamos a nos articular. Dá para ver uma vontade no grupo de deixar as coisas melhores. Então a expectativa é de trabalhar, de conseguir fazer acontecer, tirar os projetos do papel, trazer novidades, inovação. Acho que é isso que a gente quer!

E quais serão os primeiros passos dessa nova gestão?

André Luiz Moreno
Os nossos primeiros passos envolvem melhorar a identificação dos psicólogos mineiros com o Conselho. A gente entende que o Conselho trabalhou nos últimos anos em pautas importantes, mas não necessariamente as pautas que mais são vistas pelos profissionais que nós representamos ou pela sociedade. Então, nossa principal atuação nesse começo é tentar atingir um público mais amplo, para conhecer as necessidades, as demandas e desenvolver o nosso plano de atuação baseado também nessa percepção.

André Ferreira
Eu gostaria de reforçar que nós estamos abertos ao diálogo verdadeiramente, que a gente quer escutar e auxiliar todos os profissionais nas suas atuações, nas dificuldades, nos conflitos éticos, nas dúvidas. Principalmente porque a gente entende que mesmo pessoas experientes podem ter muitas dúvidas na sua atuação, em questões de difícil resolução. Então ouvir será fundamental e não só neste começo, mas em todo o processo.

Andressa Antunes
Este primeiro momento não é tanto de fazer, mas de entender. Entender como a situação está e onde parou, a fim de dar continuidade ao que cabe dar continuidade e analisar o que precisa ser modificado. A gente quer entender muito bem qual é a necessidade do psicólogo, qual é a necessidade dessas pessoas que estão pagando pelo CRP todo ano e muitas vezes não se sentem representadas, e, então, construir em cima disso. A ideia não é trazer pronto.

Já é possível elencar pautas prioritárias para esse início de gestão?

André Luiz Moreno
Uma das pautas que vamos trabalhar bastante é o fortalecimento da psicoterapia enquanto uma prática de psicólogos. Sabemos que isso não vai se resolver no foro do Conselho Regional de Psicologia, que não somos nós quem ditamos se isso vai ser regulamentado ou não, mas entendemos esse órgão de representação enquanto uma atuação política importante, por isso, as nossas campanhas iniciais também preveem um fortalecimento do discurso nesse sentido, tanto para a conscientização da população sobre as diferenciações de uma prática psicoterapêutica feita por psicólogos ou não, quanto para uma mobilização da classe como um todo. Ver outras áreas de atuação se apropriando desse espaço é um problema não só para a sociedade, que deixa de ter a melhor atenção, mas também para os próprios psicólogos, que têm uma formação e uma preparação melhores para realizar esse atendimento.

André Ferreira
Outra pauta importante é o relacionamento com recém-formados. Há muitos professores entre os conselheiros e temos muitas ideias para acessar esse público em início de carreira. Também pretendemos trabalhar em parceria não só com universidades, mas com o Conselho Federal e com o próprio Ministério da Educação, propondo atualizações e melhorias nas diretrizes curriculares dos cursos de Psicologia.

Andressa Antunes
Também estamos empenhados em entender a questão da carga horária, das 30 horas. Como podemos pressionar os deputados? Como agir junto com o Conselho Federal de Psicologia? Essa é outra grande bandeira. Isso e a desburocratização. O psicólogo hoje é formado para atender, ele não é formado para ser, por exemplo, um autônomo ou uma pessoa que precisa gerir algo. A categoria tem dificuldade para entender a burocracia administrativa e carrega muitas dúvidas: o que é atender? Quando você atende, precisa emitir recibo ou nota fiscal? Como são os contratos? Que tipo de contrato é necessário? Então também queremos trazer conhecimento para as pessoas, oferecer capacitação para a categoria lidar com isso de uma forma mais tranquila.

Há algum outro tema que vocês pretendem trabalhar enquanto conselheiras(os)?

André Ferreira
Estou preocupado com os funcionários do CRP, mas de uma forma positiva. Tenho relatos de transições muito dolorosas para os funcionários de outros Conselhos Profissionais, principalmente quando há uma transição para um grupo de gestão cujo posicionamento político é mais alinhado à direita, mas eu gostaria de reforçar que não é o nosso caso. Apesar de sermos oposição à gestão anterior, não somos pessoas de direita que vão tentar diminuir, por qualquer motivo, direitos trabalhistas ou questões nesse sentido. Então acredito que, no curto prazo, devo estar mais próximo da gestão de pessoas, também devo ajudar a organizar os trabalhos da gestão, pois eu sinto prazer em fazer esse tipo de atividade, ficar nesse apoio logístico.

Andressa Antunes
Como conselheira, gostaria de cuidar especialmente do ser mulher psicóloga. Eu passei pela maternidade e foi dificílimo entender coisas básicas, do tipo: como eu acesso o INSS para ter licença maternidade? Outro tema importante: saúde mental do psicólogo. Sabemos que é uma classe sobrecarregada. Nós trabalhamos com saúde mental, mas muitas vezes não priorizamos a nossa própria. Queremos trazer mais discussões sobre isso, fazer um movimento maior de conscientização sobre como lidar com tudo isso.

Vocês ressaltaram a importância de ouvir e envolver a categoria nos trabalhos. Já foi possível pensar em estratégias relacionadas a isso?

André Luiz Moreno
Nós queremos aproveitar a própria eleição. Tivemos uma mobilização muito grande da categoria, algo muito díspar dos anos anteriores, o que mostra, independente de em quem essas pessoas tenham votado, o interesse num direcionamento maior do Conselho ou na participação do Conselho nessa representação. Então acho que esse é um primeiro momento: não deixar esfriar o interesse que foi despertado pela eleição.

Também pretendemos atuar com coleta de informações, a partir de formulários específicos, para áreas específicas, conduzir rodas de conversa abertas, com participação e mediação dos nossos conselheiros eleitos, mas focadas em uma participação ampla, tanto por temática quanto por subsede. E, a partir do mapeamento das dificuldades de cada região, podermos direcionar esforços e nos mobilizarmos para as demandas, que serão priorizadas no nosso planejamento estratégico.

André Ferreira
Temos esse desejo de estar mais presentes e ativos no interior, não só focados na capital. Conhecendo a categoria e as ideias que circularam no período eleitoral, entendo que pode passar essa ideia de que somos uma chapa da Psicologia baseada em evidências, que quer passar um trator em cima de tudo que não é científico e isso é mentira. Queremos realmente dialogar com a profissão como um todo.

Andressa Antunes
Nós temos algumas ideias de aperfeiçoamento dos canais que já existem no Conselho, estamos inclusive montando uma equipe interna de pessoas que vão se dedicar a olhar mais para a comunicação, para que os psicólogos percebam que podem conversar. Muitos profissionais hoje lamentam que não têm retorno ou, quando têm, ele não é assertivo. Então queremos trazer essa proximidade via tecnologia, atualizar e aperfeiçoar a comunicação, para que as pessoas possam realmente conversar com a gente.

Para finalizar, gostariam de deixar alguma mensagem para a categoria?

André Luiz Moreno
Em nome do grupo, eu acho importante reforçar a nossa abertura irrestrita aos direcionamentos da categoria. Entendo que, muitas das vezes, quando a gente passa um período eleitoral, a nossa atitude natural talvez seja esperar que essa entidade passe a mostrar serviço ou a direcionar os rumos do futuro como um todo. Mas essa não é a nossa intenção. Claro que nós temos alguns eixos de planejamento e de atuação, mas também temos canais tanto oficiais quanto não oficiais, canais abertos de fato, pelos quais esperamos receber essas manifestações, para que o contato seja fluido, efetivo e gere as mudanças que precisamos. Vamos trabalhar juntos e esperamos que a classe traga demandas e proponha criticamente maneiras diferentes de nos posicionarmos dentro desse funcionamento.