Existência e resistência de pessoas negras e suas religiões estiveram em pauta no Psicologia em Foco

Nesta quarta-feira, 27, o Conselho Regional de Psicologia – Minas Gerais (CRP-MG) realizou mais uma edição do ciclo de eventos Psicologia em Foco com abordagens relativas à consciência negra. Desta vez, as(os) convidadas versaram sobre “Racismo e espiritualidade: diálogos para a Psicologia”.

Para compor a mesa de discussão estiveram a mestra e professora no Programa de Formação Transversal em Saberes Tradicionais da UFMG, Makota Kidoiale; a psicóloga e coordenadora do Grupo Malungas, voltado para mulheres negras, Ester Antonieta; e como mediador, o estudante de Psicologia e integrante das Comissões de Psicologia e Relações Étnico-Raciais e de Psicologia, Gênero e Diversidade do CRP-MG, Breno Martins.

Assista ao registro do evento:

Makota Kidoiale iniciou a fase de apresentações lendo um texto, escrito, à época, para adentrar à academia trazendo seu lugar de fala. A mestra em saberes tradicionais explicou que existiam diversos incômodos produzidos dentro do curso, uma vez que existiam somente 30% de pessoas negras e todas sabiam onde pisavam. “Quando vamos para a universidade, percebemos o quanto a universidade não esperava que sobrevivêssemos lá dentro”, observou.

Ao trazer, ainda, vivências sobre o racismo, Kidoiale realçou as dificuldades postas para sua derrubada: “colocam o racismo como se fosse uma propriedade nossa – dos negros – mas o racismo é uma responsabilidade de uma sociedade que não nos incluiu em sua formação”.

Em seguida, Ester Antonieta ressaltou como se dá o processo de aprendizado nas religiões de matriz africana, fazendo alusão, também, às formas de ensino colocadas no curso de saberes tradicionais da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Segundo ela, é preciso observar que, nessas religiões, a compreensão se dá a partir da oralidade e, portanto, a instituição, com suas formas cristalizadas de ensino, não consegue abarcar novas possibilidades. “Infelizmente, a UFMG continua adoecedora, tanto para alunos quanto para professores. Fica o desafio para universidade transformar-se, fazendo com que seja possível a existência do candomblé, do reinado, da umbanda”, pontua.

A psicóloga citou Angela Davis para contextualizar a luta das pessoas negras, uma vez que, para ela, não basta apenas não ser racista, mas também antirracista. “Quando penso na questão do racismo, digo que estamos fazendo um movimento contra colonial.  O racismo está posto e, diante dele, precisamos construir uma corrente para que ele seja rompido”, realça.

Breno Martins chamou atenção para o fato de que a Psicologia, calcada na medicina, sempre marginalizou os corpos, algo que precisa ser tratado com mais rigor a atenção. No que concerne às religiões, o estudante relatou que sempre foi excluído em diversas frentes, mas encontrou refúgio no candomblé. “Enquanto homem gay, negro e periférico, me senti acolhido no candomblé, porque lá, além da possibilidade de existir e resistir, existe afeto”, afirmou.



– CRP PELO INTERIOR –