Fim dos manicômios judiciários foi o argumento que dirigiu o Cine Diversidade de maio

Edição ganhou exposição de abertura e participação de usuárias(os) de saúde mental

O Cine Diversidade – promovido pelo Conselho Regional de Psicologia – Minas Gerais (CRP-MG) – deste mês de maio ganhou caráter especial ao integrar as comemorações do 18 de maio. Nesta quarta-feira, 21, sob o título “Ainda lutamos aqui: pelo fim dos manicômios judiciários”, o projeto foi aberto pela exposição de adereços do Desfile da Luta Antimanicomial e registros do cotidiano dos Centros de Convivência de Belo Horizonte. O Cine Santa Tereza recebeu usuárias(os) dos equipamentos de saúde mental da capital mineira, trabalhadoras(es) e ativistas para ressaltar a importância do cuidado em liberdade. Acesse o álbum de fotos do evento.

Em parceria com o Cine Santa Tereza e a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), neste mês a atividade contou com o apoio do Laboratório de Estudos sobre Trabalho, Cárcere e Direitos Humanos da UFMG (LabTrab), Fórum Mineiro de Saúde Mental e Frente Mineira Drogas e Direitos Humanos. Foram exibidos os curtas-metragens brasileiros “A Casa dos Mortos” e “A Gota à Beira do Mar”. O primeiro tem a direção de Debora Diniz e mostra histórias que se passam dentro de um hospital-presídio – instituições híbridas que sentenciam a loucura à prisão perpétua. O segundo é dirigido por Anair Patrícia e foi criado durante as oficinas de teatro do centro de convivência Arthur Bispo do Rosário na regional Leste de Belo Horizonte.

 

Sessão comentada enfatizou a urgência de dar fim a qualquer tipo de aprisionamento da loucura e do diverso.

“Aqui trabalhamos duas dimensões muito importantes: a primeira com a perspectiva do fechamento dos manicômios judiciários. Esse Cine acontece a partir da parceria das comissões do CRP-MG de Direitos Humanos, Psicologia, Gênero e Diversidade Sexual e Saúde Mental, Álcool e Outras Drogas, dentro do Seminário ‘Ainda Lutamos Aqui pelo Fim dos Manicômios Judiciários’. Temos um documentário que mostrou as violências e torturas que ocorrem nesses locais. A outra perspectiva é de sustentar o cuidado em liberdade e valorizar o protagonismo dos usuários. Inclusive a ideia de trazer um filme que tem um usuário no lugar de protagonista”, explicou Isabella Lima, conselheira do CRP-MG, que fez a mediação da sessão comentada.

Para a psicóloga que é integrante da Comissão de Direitos Humanos do CRP-MG, é importante contar com o cinema para abordar pautas como essas: “tenho investido muito na ideia que não damos conta de cuidar da saúde mental se falarmos somente a partir de saberes especializados. Precisamos ultrapassar esses limites e contar com a contribuição fundamental da arte, inclusive para dar a possibilidade de expressar sentimentos, afetos que até desconhecemos”.

Confira a seguir pontos abordados pelas(os) convidadas(os) durante a sessão comentada: 

 

“A beleza da vida está na beleza das pessoas. Cada pessoa é um universo. Sou feliz com isso e também com a lindeza de estar vivo e poder contar com a arte”.
Frederico Eymard, artista e usuário do serviço

 

 

 

 

 

 

“Já vivi internações, aprisionamentos. Conheço bem como é viver nesses espaços de privação de liberdade. Carregamos um estigma para o resto da vida. O manicômio judiciário é uma prisão perpétua. As pessoas cumprem a pena, mas ficam lá até morrer. Muitas atentam contra a própria vida. É uma máquina de moer corpos. Mas foi nos equipamentos de saúde que encontrei o cuidado, a liberdade”.
Luan Cândido, jornalista e redutor de danos

 

 

“Manicômio é um lugar perverso e comunidades terapêuticas também são manicômios. Precisamos pensar que a vida de quem está dentro de um manicômio judiciário tem valor para alguém. Quem está lá é o amor da vida de alguém. Mas temos os CAPS, que são maravilhosos porque tratam as pessoas em liberdade. Isso sim é muito mais saudável”.
Maria Teresa dos Santos, coordenadora e mobilizadora social da Associação de Amigos e Familiares de Pessoas em Privação de Liberdade. Articuladora da Frente Estadual pelo Desencarceramento de Minas Gerais 

 

 

 

“A partir da Resolução 487/2023 o Poder Judiciário tem a responsabilidade de fechar todos os manicômios judiciários do país. Estamos nos articulando para isso. Em consulta ao painel do CNJ, vi que hoje são quatro estados que realizaram a interdição total: Goiás, Ceará, Piauí e Mato Grosso. Outro dado interessante é que 13 já realizaram interdição parcial. Mas em Minas há um posicionamento do governo executivo de não fechamento dos manicômios judiciários. Pelo contrário: está promovendo reformas, contratações de pessoal. São estratégias conhecidas”.
Carolyne Reis Barros, coordenadora do Laboratório de Estudos sobre Trabalho, Cárcere e Direitos Humanos (LABTRAB/UFMG)

 



– CRP PELO INTERIOR –