Impacto do racismo no exercício profissional das psicólogas negras pauta live do CRP-MG

Diálogo integra a série Saúde Mental de Janeiro a Janeiro e está disponível no canal do Conselho no YouTube

Com o objetivo de abordar os atravessamentos do racismo no exercício profissional das psicólogas negras, o Conselho Regional de Psicologia – Minas Gerais (CRP-MG) promoveu a live “Rotas de fuga para o fazer psi da psicóloga negra latino-americana e caribenha frente à violência racial”. A transmissão integra a série Saúde Mental de Janeiro a Janeiro e ocorreu na noite da última terça-feira, 30/7, no canal do CRP-MG no YouTube.

Durante sua participação, a conselheira do XIX Plenário do Conselho Federal de Psicologia (CFP), Ivani Oliveira, destacou fatores históricos, sociais e culturais que impactam as experiências pessoais e profissionais das psicólogas negras: “O histórico colonial tem consequências, dentre elas o racismo estrutural. A colonização das Américas trouxe a escravidão e desumanizou e explorou os corpos negros e as corpas negras. Esse legado persiste nas formas do racismo institucional”.

Ivani reforçou a baixa presença de profissionais negras(os) em diversos espaços e lamentou não ter tido professoras negras durante sua graduação em Psicologia. “A baixa representatividade nas instituições acadêmicas e profissionais pode levar ao isolamento e à sensação de não pertencimento. Psicólogas negras frequentemente têm que navegar por espaços onde suas experiências e conhecimentos são subvalorizados e desconsiderados”, afirmou.

Na ocasião, a coordenadora colegiada da Comissão de Orientação em Psicologia e Relações Étnico-Raciais da subsede Centro-Oeste do CRP-MG, Laís Fortunato, recordou o CensoPsi 2022. De acordo com o levantamento, realizado virtualmente pelo CFP entre outubro de 2021 e março de 2022, 79,2% das(os) profissionais psi no Brasil são mulheres. Destas, 64% se consideram brancas, 26% pardas, 8% pretas, 1,2% de origem asiática e 0,3% indígenas.

“Precisamos considerar que o Brasil é um país fruto de um processo de colonização e de colonização de corpos negros, que a nossa categoria se diz ser majoritariamente branca. Como esse racismo estruturou as relações sociais de todo um país, isso também aparece no nosso fazer cotidiano, seja no nosso consultório particular, seja no fazer psi nas políticas públicas”.

A convidada compartilhou, ainda, o incômodo com a escassez de estudos sobre a saúde mental de profissionais da Psicologia. “Nós ouvimos falar sobre a saúde mental das médicas e dos médicos, sobre a saúde mental de profissionais de outras áreas que dizem respeito à saúde, mas nós não ouvimos falar sobre a saúde mental da população negra, principalmente da população negra psicóloga”.

O diálogo foi mediado pela conselheira no XVII Plenário do CRP-MG, Alessandra Kelly Belmonte. A psicóloga, que também é referência para as Comissões de Orientação em Psicologia e Relações Étnico-Raciais e Criança e Adolescente, destacou que até as aptidões das profissionais negras são contestadas em decorrência do preconceito. “Nossos corpos passam por atravessamentos e situações que uma psicóloga cis branca ou um psicólogo cis branco não vão passar, como ter sua competência questionada devido a sua cor da pele. E isso nos afeta, porque o racismo é um catalisador de sofrimento mental também, além de ser um crime”, afirmou.

Alessandra também lembrou que uma presença maior de pessoas negras no fazer psi é um processo que está sendo gradualmente conquistado: “Nós somos diversas, nós somos múltiplas, e precisamos nos apropriar disso, nos aquilombar e nos fortalecer dentro desse espaço que não nos foi dado, mas que está sendo construído paulatinamente, que é o espaço da psicóloga preta dentro da Psicologia”.

Dia 25 de julho

Durante a live, as participantes lembraram duas importantes datas celebradas em 25 de julho. Uma delas é o Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha, instituído pela Organização das Nações Unidas (ONU) durante o 1º Encontro de Mulheres Afro-Latino-Americanas e Afro-Caribenhas, realizado em Santo Domingo, na República Dominicana, em 1992. Estiveram presentes mais de 300 representantes de 32 países para compartilhar suas vivências, denunciar opressões sofridas e debater soluções para o enfrentamento ao racismo e ao machismo.

25 de julho também marca o Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra, data instituída por lei no Brasil em 2014, para lembrar a luta das mulheres negras contra a escravização.

Ações Mobilizadoras

Esse foi um evento preparatório para o 12º Congresso Regional da Psicologia (Corepsi). Acompanhe a agenda de atividades promovidas pelo CRP-MG e contribua com esse processo democrático e colaborativo.

A live está disponível, na íntegra, no canal do CRP-MG no YouTube. Assista:



– CRP PELO INTERIOR –