21 maio Lesbo-homo-transfobia são alvos de debate no Psicologia em Foco
Nesta quarta-feira (20/5), o Conselho Regional de Psicologia – Minas Gerais (CRP-MG) realizou a edição do ciclo de eventos Psicologia em Foco com o tema “Lesbo-homo-transfobia e a luta por direitos”. Cerca de 70 pessoas participaram do debate que, segundo a conselheira do CRP-MG que coordenou a mesa, Dalcira Ferrão, teve o objetivo de chamar a atenção para “a luta do 17 de maio, quando comemoramos a despatologização da homossexualidade pela Organização Mundial da Saúde (OMS)”.
Bruno Beltran, produtor cultural de eventos LGBT, membro do Conselho de Ética do Centro de Luta pela Livre Orientação Sexual de Minas Gerais (Cellos-MG) e integrante do Conselho de Acompanhamento do Programa “BH Sem Homofobia”, foi o primeiro a fazer exposição. Ele iniciou dizendo que considera a profissão de psicólogo uma das mais importantes para a conquista e afirmação da cidadania da comunidade LGBT.
Ao contar sua experiência de vida a partir da descoberta de sua homossexualidade, Bruno relatou diversas situações vividas de violência homofóbica, mesmo tendo total apoio dos pais. Por essa razão decidiu aderir à militância em prol do direito à cidadania de lésbicas, gays, bissexuais e transexuais. Segundo ele, eventos como a parada do orgulho gay – a qual ele é coordenador em Belo Horizonte – ainda são necessários para dar mais visibilidade a essa luta.
Em sua apresentação reforçou como a sociedade ainda tem pouca informação a respeito de casos de homofobia. “No ano passado foram 326 mortes motivadas pela intolerância sexual, sendo que a maioria das vítimas era composta de travestis e transexuais, que são os mais vulneráveis da nossa comunidade. Também foram registrados nove suicídios motivados pela homofobia. Mas os números são muito maiores, só que não há registros e mesmo as denúncias feitas não ganham a devida importância nos órgãos públicos”, concluiu Bruno.
“O que temos a ver com isso?” – A psicóloga Tayane Lino, que é vice-coordenadora do Instituto Mineiro de Saúde Mental e Social (Instituto Albam) e integra o colegiado gestor do núcleo BH da Associação Brasileira de Psicologia Social (Abrapso-BH) falou em seguida trazendo a discussão para onde o psicologia está no combate à homofobia e às diversas formas de preconceito e do ódio na cena pública. Segundo ela, cabe, como ciência e profissão um posicionamento público pró-despatologização, “mesmo diante da dificuldade que temos com a diversidade, pois as grades curriculares da psicologia não se preparam para atender esse público”.
E continuou dizendo que “cabe a nós atuar na construção de uma identidade positiva do sujeito, de auxilia-lo em um processo de percepção de si, de como ele escolheu decidir ser. O que o outro faz da própria vida não é da alçada da psicologia, mas como ele vai lidar, incorporar, viver e trazer isso para o campo público, nós psicólogos podemos intervir. Como ele vai construir a orientação do seu desejo também nos diz respeito no sentido de auxiliá-lo”.
Tayane colocou que a violência contra a comunidade LGBT se dá pelo que ela aparenta. “O outro se sente no direito de dizer o que a gente pode ou não ser e de agredir o que entende ser uma subclasse que escolheu ser assim, como se fosse um conjunto de possibilidades do sujeito. Nesse contexto surge a palavra tolerância. Ou seja, o outro, que se sente superior, diz que nos tolera, que nos suporta, que nos aguenta. É a ideia de subcidadania”, alertou.
Após enumerar uma série de violências usuais com esse público, Tayane Lino concluiu chamando novamente a atenção para a conduta do psicólogo dizendo que “cabe a nós, se não sabemos como lidar com a diversidade, procurar saber, procurar orientação pois, ao nomear a diferença produzimos um atendimento, inclusive, humanizado”.
Acesso a saúde somente por meio da AIDS – A última exposição foi feita por Gisella Lima, mobilizadora social no Centro de Referência em Direitos Humanos Pauline Reichstul atendendo pessoas em situação de rua, moradores das ocupações urbanas, profissionais do sexo e transexuais. Ela fez um relato de sua experiência como transexual e de amigos gays e lésbicas em relação ao difícil convívio com a sociedade.
“ O erro começa quando as pessoas acham que os LGBTs são influenciados. É difícil provar que não é isso, pois o preconceito vem daí. Nasci em uma casa quase que só de irmãos homens. Tinha tudo para ser machão. Mas nunca me identifiquei assim. A coisa mais feliz da minha vida foi ter a liberdade de ser mulher”, contou Gisella.
Em função de sua experiência como profissional do sexo decidiu entrar para a militância voltada ao público LGTB que mora na rua. “A saúde deles é degradante. A única porta de acesso à saúde para os transexuais é a AIDS. Existem vários lugares que não podemos ir, nem mesmo hospitais. Nossos direitos são limitados. Mesmo pagando impostos, sendo cidadãos como outro qualquer. É revoltante quando pensamos que o outro é quem decide meus direitos, meu futuro”, pontuou a mobilizadora antes de concluir que a pior de todas as situações para o transexual é ter que negar sua identidade para ter oportunidades. “A base da vida de qualquer pessoa é o emprego. O nosso sonho é conseguir emprego sendo quem somos”, encerrou.
Convite – Dalcira Ferrão, que também coordena o Grupo de Trabalho Psicologia e Diversidade Sexual do CRP-MG, encerrou o evento convidando os presentes a participar das reuniões do GT, no sentido de produzir novas ideias e soluções para o combate à lesbo-homo-transfobia.