14 maio Nota de posicionamento: pela manutenção do Centro Risoleta Neves de Atendimento à Mulher (CERNA)

O Conselho Regional de Psicologia – Minas Gerais (CRP-MG), por meio da Comissão Mulheres e Questões de Gênero, vem a público se posicionar diante dos rumos tomados em relação às políticas públicas de enfrentamento à violência contra mulher do estado de Minas Gerais, tendo em vista a suspensão de parte das atividades do Centro Risoleta Neves de Atendimento à Mulher (Cerna).

O Centro Risoleta Neves de Atendimento à Mulher (Cerna), criado em 2004, é especializado no atendimento de mulheres em situação de violência doméstica e atua no acolhimento, orientação e acompanhamento de mulheres em situação de violência doméstica, proporcionando atendimento psicológico, individual e em grupo, visando o rompimento do ciclo de violência e promovendo a autonomia das mulheres. Consolidou-se na rede de proteção das mulheres em situação de violência especialmente por causa dos diversos encaminhamentos que recebe e por atender a todo o estado, especialmente mulheres provenientes da região metropolitana.

O atendimento psicológico realizado pelo Cerna conta com profissionais qualificadas e capazes de promover uma leitura das relações de gênero, condição indispensável para executar acompanhamento especializado e insubstituível dado os cuidados que a referência de um caso de violência doméstica necessita. O acompanhamento psicológico das mulheres em situação de violência se faz extremamente necessário tendo em vista a vulnerabilidade e fragilidade emocional em que se encontram após vivenciarem, em muitos casos, diversos tipos de violência e por muitos anos. Muitas delas, que não encontram acompanhamento especializado e sistemático, costumam passar por diversos serviços sendo frequentemente revitimizadas pela falta de preparo dos profissionais que encontram, gerando assim uma cronificação dos casos de violência e da saúde mental das mulheres.

Sendo assim, o acompanhamento psicológico visa o fortalecimento da autonomia e autoestima destas mulheres para que estas tenham condição psicológica de se posicionar diante das violências sofridas. Além do acompanhamento individual, o serviço conta com grupos de mulheres que são extremamente importantes, pois possibilitam a mulher construir uma rede de proteção e socialização, além de fortalecê-las com as trocas de experiências vivenciadas no grupo.

Entendemos que os serviços especializados são fundamentais para as mulheres em situação de violência não sendo substituíveis pelo atendimento psicológico proveniente da Atenção Básica à Saúde (ABS). Importante realçar que nem sempre a ABS conta com atendimento psicológico e nos casos em que a há disponibilidade para o atendimento das mulheres em situação de violência, muitas se mostram constrangidas, envergonhadas e intimidadas por estarem no território e próximas aos familiares, vizinhos e ao agressor gerando, portanto, dificuldades em dar continuidade ao atendimento psicológico, fato que as distancia das possibilidades de fortalecimento emocional.

Tendo em vista o crescente índice de violência contra a mulher que só faz aumentar a desigualdade de gênero, salientamos a necessidade de políticas públicas estruturadas para a erradicação das diversas formas de violência contra mulher. Assim, o Conselho Regional de Psicologia – Minas Gerais (CRP-MG) manifesta seu posicionamento pela manutenção do atendimento psicológico realizado no Cerna.

Belo Horizonte, 14 de maio de 2019
Comissão Mulheres e Questões de Gênero
XV Plenário do Conselho Regional de Psicologia – Minas Gerais