Nota do CRP-MG sobre violência contra as mulheres e quarentena

O Conselho Regional de Psicologia – Minas Gerais (CRP-MG), por meio da Comissão de Orientação Mulheres e Questões de Gênero, vem a público se manifestar diante do aumento do número de casos de violência contra as mulheres no período de quarentena. O isolamento social é uma medida recomendada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) para conter o avanço da Covid-19.

De acordo com Atlas da Violência de 2019 – publicado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) e Fórum Brasileiro de Segurança Pública – entre 2007 e 2017 houve aumento de 20,7% na taxa nacional de homicídios de mulheres, quando a mesma passou de 3,9 para 4,7 mulheres assassinadas por grupo de 100 mil mulheres. Nesse período, houve crescimento da taxa em 17 Unidades da Federação. O feminicídio de mulheres não negras aumentou 4,5%, enquanto o feminicídio de mulheres negras aumentou 29,9%.

O Observatório da Mulher registrou que o percentual de mulheres agredidas por ex-companheiros subiu de 13% para 37% entre 2011 e 2019, considerando situações em que os agressores eram ex-maridos e ex-namorados no momento do ataque. Sendo assim, podemos perceber que a situação de violência contra as mulheres no Brasil é alarmante, para além desse período de quarentena.

O isolamento social que a quarentena impõe às famílias potencializa a situação de vulnerabilidade das mulheres, colocando-as em maior risco, pois, como as estatísticas revelam, na maior parte dos casos as agressões partem dos próprios companheiros. Nesse contexto, a casa torna-se o local mais perigoso para as mulheres. Isso não se dá pela falta do pão na mesa, e sim por vivermos em um país marcado pela grande desigualdade de gênero, grande desigualdade social, com memórias escravocratas e orientado por um regime de patriarcado, em que os homens ainda veem as mulheres como objetos. Deste modo, os homens historicamente têm isolado as mulheres em seus lares, por meio do controle de seus comportamentos, com a privação de ir e vir e a imposição do distanciamento das relações sociais.

Compreender que estudos científicos e pesquisas apontam que estes são os fatores que ocasionam a violência de gênero é fundamental para que essas mulheres não sejam (re)violentadas ou tenham as violências a que são expostas negligenciadas pelo poder público e pela sociedade.

O Conselho Regional de Psicologia – Minas Gerais mantém seu posicionamento contrário a qualquer tipo de violência de gênero e vem trabalhando ativamente para auxiliar as profissionais da Psicologia no embasamento para o atendimento e o auxílio aos casos de violência de gênero.

Belo Horizonte, 2 de abril de 2020
Comissão de Orientação Mulheres e Questões de Gênero
XVI Plenário do Conselho Regional de Psicologia – Minas Gerais

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