COMISSÃO DE ORIENTAÇÃO EM PSICOLOGIA, LAICIDADE, ESPIRITUALIDADE, RELIGIÃO E OUTROS SABERES TRADICIONAIS
APRESENTAÇÃO

No contexto atual, assistimos à retomada de uma reflexão moral pautada por dogmas, e não pela consciência ética. Este espírito de época estimula sentimentos ultraconservadores, que promovem a exclusão pelo pré-conceito e intolerância. Grupos acabam se fechando em guetos e o diálogo fica comprometido; além das relações, que requerem comunicação e interlocução para se sustentar. É nesse cenário que a Psicologia ganha papel relevante para o estudo da religião e da espiritualidade (Silva Jr., 2019).

 

Diante deste cenário, entendemos que a(o) profissional de Psicologia, tanto em suas ações práticas em seus ambientes de trabalho quanto em seu exercício como produtora(or) de um conhecimento científico na pesquisa, precisa estar comprometida(o) com um saber que contribua com a construção de condições favoráveis à coexistência saudável. Compromisso este que nos aproxima dos fenômenos sociais que são estruturantes da vida das pessoas; e a religiosidade, em todas as suas manifestações, compõe esse espectro.

 

Entendemos, ainda, que não é possível uma análise criteriosa desse fenômeno sem a garantia dos direitos à diversidade de expressão cultural. Por isso, o olhar da Psicologia para a religião e para a espiritualidade precisa estar regido pela égide dos direitos humanos (Silva Jr., 2019). Assim, tendo como horizonte de sentido os axiomas dos direitos humanos e da saúde bio-psico-social-espiritual, a Clerot tem, nos fenômenos religiosos e na experiência de espiritualidade das pessoas, seu recorte específico, procurando construir uma reflexão psicológica que nos ajude a compreender como o ser humano afeta e é afetado pelo mundo.

 

Com efeito, alguns princípios éticos precisam ser resguardados quando a Psicologia se propõe essa reflexão: em primeiro lugar, a premissa da laicidade como condição da Ciência. Ou seja, a Ciência, como uma racionalidade que se constitui de conceitos produzidos de forma racional, a partir dos experimentos e da análise crítica de seus resultados, não deve ser influenciada por dogmas. Em segundo lugar, é preciso reconhecer a diversidade como condição ontológica, e como tal precisa ser legitimada e preservada nas relações humanas, o que só se faz possível pelo diálogo e aproximação entre os diferentes.

 

O trabalho da Clerot iniciou-se em 2016, na sede do CRP de Minas Gerais, configurando-se tematicamente como a Comissão de Orientação em Psicologia, Laicidade, Espiritualidade, Religião e Outros Saberes Tradicionais, do CRP-Minas Gerais (Santos, 2024).

 

Laicidade é um substantivo feminino, proveniente do termo latino laicus, cuja origem descende do grego laós, designando “povo” em sentido universal. O termo laos referia-se, portanto, à população, ao povo todo, sem exceção alguma, aspecto que defende o princípio universal da autonomia das atividades humanas e que pode legitimamente ser invocado, entendendo-se por “legítima” toda atividade que não obste, destrua ou impossibilite as outras (Jost, 2024). Esse significado interessa à Clerot particularmente assinalar, considerando que o termo “laicidade”, nesse contexto, refere-se a uma Psicologia laica, que não se opõe nem ao termo nem ao fenômeno religioso; ao contrário, defender uma Psicologia laica implica afirmar a inclusão de todos os fenômenos humanos que interessam a uma Ciência da subjetividade humana, assim como abarcar todo o propriamente humano de todo o “povo” e de todas as épocas e culturas, em suas diversas manifestações.

 

Espiritualidade. A Psicologia reconhece a importância crucial da espiritualidade, mas elucida que o exercício da espiritualidade não implica a necessidade de encontros ritualísticos. A espiritualidade é uma dimensão humana que nos permite encontrar sentido para a existência. O que precisamos é buscar em nosso próprio interior os elementos de significação da vida. Dessa maneira, a espiritualidade possibilita aprender a lidar com nossos fantasmas, viver nossas angústias, reconhecer nossa trajetória, nossa história (Silva Jr., 2019).

 

Religião. Especificamente, ela pode representar um papel primordial ao estimular nas pessoas a noção de responsabilidade por si e pelo outro, além da necessidade de disciplina ética (Santos, 2024). A Psicologia percebe-a como um fenômeno multifacetado que envolve crenças, rituais, práticas e valores compartilhados por grupos. Essa dimensão religiosa desempenha papéis diversos, oferecendo significado e propósito, influenciando o comportamento individual e coletivo. Com efeito, ela é reconhecida como uma fonte importante de significado, apoio emocional e orientação moral para muitas pessoas e comunidades e é aceita como um aspecto intrínseco à experiência humana, refletindo a busca por sentido e ordem no mundo. Logo, a religião é relevante à Psicologia, porque desempenha um papel significativo na sociedade e na cultura (Batista, 2024).

 

Outros Saberes Tradicionais são práticas que envolvem tradições de cuidado de culturas diversas, sendo transmitidos pela oralidade e amparados em cosmovisões de diferentes paradigmas, quer sejam ocidentais, quer sejam orientais. Esses modelos envolvem cartografias de consciência de amplo espectro, privilegiam técnicas não invasivas e prezam pelo empoderamento do ser humano através de um cuidado compartilhado e humanizado (Leite; Xavier, 2024). Assim como recomenda a Declaração de Veneza da UNESCO (1986, art. 2):

[…] mesmo admitindo as diferenças fundamentais entre Ciência e Tradição, reconhecemos ambas em complementaridade e não em contradição. Esse novo e enriquecedor intercâmbio entre Ciência e as diferentes Tradições do mundo abre as portas para uma nova visão da humanidade […].

COORDENAÇÃO DA COMISSÃO

Sede: Guaraci Maximiliano dos Santos

CONSELHEIRO DE REFERÊNCIA

Henrique Galhano

PUBLICAÇÕES

Leituras da Religiosidade Brasileira: Pierre Sanchis, Entre a Cultura e a Psicologia

I Congresso Mineiro Psicologia, Laicidade, Espiritualidade, Religião e Outros Saberes Tradicionais: Anais

I Congresso Mineiro Psicologia, Laicidade, Espiritualidade, Religião e Outros Saberes Tradicionais: Reflexões Contemporâneas

Capa do livro Psicologia, Laicidade, Espiritualidade, Religião e Outras Tradições: Encontrando Caminhos para o Diálogo

Psicologia, Laicidade, Espiritualidade, Religião e Outras Tradições: Encontrando Caminhos para o Diálogo

– CRP PELO INTERIOR –