Prêmio Rosimeire Aparecida da Silva ecoa práticas das(os) psicólogas(os) na luta pelos direitos humanos

CRP-MG valoriza atuação psi no marco de seus 50 anos de existência

Ecoar vozes e reconhecer o trabalho que as(os) psicólogas(os) mineiras vem desenvolvendo para garantir os direitos de todas as pessoas. Esse foi o tom da entrega do I Prêmio Rosimeire Aparecida da Silva: a Psicologia e os Direitos Humanos, que aconteceu na quarta-feira, 4, em Belo Horizonte. O Conselho Regional de Psicologia – Minas Gerais (CRP-MG) concluiu as celebrações de seus 50 anos de existência realçando a importância da atuação psi espelhada no legado da psicóloga mineira que militou na luta antimanicomial.

Diante de um auditório superlotado, Soraia Marcos, trabalhadora da Rede de Atenção Psicossocial de Belo Horizonte, abriu a cerimônia enquanto componente da comissão julgadora do Prêmio e também parceira de Rosimeire Silva no cuidado em liberdade. Ao parabenizar toda a categoria que se inscreveu e sobretudo as pessoas selecionadas, a psicóloga falou sobre a importância de homenagear mulheres pretas, que tanto fazem pelo país e não são reconhecidas, e enfatizou: “que este seja o início de um processo que represente de fato o que Rose significou para a Psicologia, para este conselho e, sobretudo, para as mulheres pretas”.

Na sequência, a conselheira presidenta do CRP-MG, Suellen Fraga, comemorou o Prêmio como um instrumento para ecoar o trabalho das(os) psicólogas(os) a partir do marco dos 50 anos da autarquia. “Estar hoje, aqui com vocês, ecoando também o legado de Rosimeire Aparecida da Silva, é reafirmar o nosso compromisso com os Direitos Humanos e assinalar que existem produções reconhecidas pelo seu Conselho por articularem o que é o nosso dever enquanto profissão da área de saúde. A saúde é um direito e nós não temos opção, enquanto psicólogas, de não atravessarmos a nossa prática pelos direitos humanos reconhecendo as interseccionalidades”, asseverou.

Antes de fazer a entrega das premiações, a conselheira vice-presidenta do CRP-MG, Liliane Martins, fez uma conferência sobre a interseccionalidade como ponto focal da defesa dos direitos humanos. Sua fala propôs reflexões a partir de estatísticas de violência contra minorias em direitos no Brasil: “quando raça, gênero e classe se interseccionam, vemos que algumas pessoas têm mais direitos que outras e a Psicologia precisa se perguntar o que nós temos a ver com Direitos Humanos. Seja nos espaços que ocupamos na clínica, nas políticas públicas, no sistema prisional, no sistema de saúde, no SUAS, precisamos nos atentar que quando abrimos o nosso código de ética vem a Declaração Universal dos Direitos Humanos. Portanto, não existe o fazer da Psicologia sem estar implicado com os direitos humanos. É imperativo nos colocarmos na ação pela busca da igualdade, por melhorias sociais, trabalhando, antes de qualquer coisa, o conceito de interseccionalidade”.

Confira os depoimentos das(os) psicólogas(os) durante suas premiações:

1º lugar individual  Psicologia do Trabalho e Direitos Humanos: práticas de saúde do trabalhador, diversidade, equidade e inclusão
“Compartilho esta premiação com outras pessoas, com outras profissionais tão implicadas nos direitos humanos em nossa prática psi. Este trabalho não é individual, ele é fruto de muitos esforços conjuntos. A escrita foi solitária mas tudo nela descrito se deu por um coletivo. Ressalto ainda a relevância de estar documentado para que possa alcançar mais pessoas, para elas possam acessar e utilizar dessas experiências e continuar o trabalho implicado nos Direitos Humanos.”
Maria Silvia Paolucci de Paiva

 


2º lugar individual
 Psicologia sanitária e enfrentamento às diversas formas de violência: olhar para o SUS como espaço de defesa de direitos e suporte qualificado às vítimas
“Este trabalho é feito a partir de uma interdisciplinaridade, porque acredito que o SUS só é possível ser construído dessa forma. Importante que na formação tenhamos esse olhar crítico, que busquemos uma transformação da realidade. Ressalto a importância de olhar para o SUS como esse espaço de defesa de direitos e que possamos contribuir para uma mudança das estruturas. Está fazendo muita diferença esse  reconhecimento.”
Letícia Ferreira Resende

 

3º lugar individual  O trabalho de Psicologia no Centro de Referência e Acolhimento LGBT+ de Ouro Preto – MG
“O Centro é uma política pública instituída pela prefeitura, onde buscamos a garantia de direitos das pessoas LGBT no atendimento psicossocial e também na garantia de direito ao nome, à hormonização, ao acesso à saúde tanto física quanto mental, além de uma série de outras políticas. Somos uma equipe multidisciplinar diversa, coesa e majoritariamente LGBT, para que as pessoas que nos acessarem se vejam em nós. Realço que minha formação se deu na universidade FUMEC e profissionalmente se deu aqui dentro, na participação na Comissão de Psicologia, Gênero e Diversidade Sexual desde 2015, quando ainda era um Grupo de Trabalho.”
                                                                             Rodrigo Broilo

 

1º lugar coletivo  Silêncio no Campo: experiências de violências contra a mulher em cidades pequenas e rurais e os impactos da desinformação
“Esta é uma conquista muito grande. Venho de Porteirinha, interior de Minas Gerais, que é uma cidade que sofre muito por violência doméstica contra mulheres, violência doméstica que engloba outras violências. Próximo à nossa cidade temos a zona rural e as comunidades quilombolas do Pacuí e Picada, onde as mulheres são assistidas pelo CRAS. Infelizmente ainda poucas denunciam, normalizam e o nosso trabalho tem sido não só trazer para elas que precisam denunciar, mas que estão seguras ao fazê-lo. Não é somente dizer que é preciso denunciar. Precisamos ofertar caminhos com segurança.”
                                                                              Isabella Oliveira Aguilar e Vitória de Sá Lopes

 


2º lugar coletivo  A atividade da Psicologia na promoção de saúde mental e direitos humanos dentro da DAJ
“Nosso trabalho é dentro da Divisão de Assistência Judiciária da UFMG – um projeto interdisciplinar que acontece desde 2015 com o pessoal do Direito e da Psicologia. Atuamos com três frentes: de família, de violência contra a mulher e saúde mental. Atuamos a partir de uma Psicologia social jurídica crítica, atua com acesso à justiça com transformação social e um direitos para todas as pessoas.”
Laura Cristina Soares, Joyce Stefanny Jerônimo e Julia Mendonça Maia Gonçalves

 

3º lugar coletivo  Entre a saúde mental e os direitos humanos: considerações sobre o direito ao luto por suicídio
“Nunca imaginava que uma tragédia pessoal me traria até este momento e que fosse gerar tanto movimento de vida. Grata à Psicologia, que me dá tanto todos os dias. Esse é fruto de um trabalho coletivo. Estamos desenvolvendo há um ano. A vida não para de fabricar laços e a defesa do direito ao luto é fundamental para isso. Fundamental para podermos continuar. Nosso grupo acolhe enlutados por suicídio exclusivamente em encontros mensais presenciais e gratuitos. Defendemos o direito de quebrar o silêncio, de conceder lugar de pertencimento na história dos que foram, exercer o direito de nomeá-los e de legitimar o luto e a memória.”
                                                                              Daniela Piroli Cabral, Luciana Alves Daher, Melina Alves e Regina Camelo



– CRP PELO INTERIOR –