30 out Psicólogas integrantes das Comissões de Direitos Humanos dos CRPs da região Sudeste participam do primeiro Giro Descolonial
Evento foi organizado pela CDH nacional e passará por todo o país
O Conselho Regional de Psicologia – Minas Gerais (CRP-MG) participou, ao lado do CRP-RJ, CRP-SP e CRP-ES, da organização do primeiro “Giro Descolonial” – ação promovida pelo Conselho Federal de Psicologia (CFP) por meio da sua Comissão de Direitos Humanos (CDH). “Violência de gênero” foi o tema da edição realizada no último dia 25, no Espaço Cultural Brejo das Sapas, em Belo Horizonte, reunindo a categoria que integra as CDHs da região Sudeste e colaboradoras de comissões temáticas do interior mineiro.
A atividade teve início com uma cena teatral protagonizada pela Coletiva Mulheres da Quebrada, que levou as participantes presentes a refletirem sobre infância, memória, racismo e outras violências. Na sequência, as representantes do Brejo das Sapas, Jozeli Rosa e Mariana Antônia, deram as boas-vindas. O encontro foi marcado pela valorização de saberes tradicionais.
Ao abrir o Giro, Paula Gonzaga, psicóloga integrante da CDH nacional representando o CRP-MG, deu o tom esperado para os diálogos do dia ao afirmar que o objetivo do evento seria pensar a prática Psi na dimensão tanto da consolidação de direitos como de estratégias que transcendam normativas e teorias eurocêntricas. “Estas foram utilizadas para violentar as maiorias populares. No Brasil vivemos essa dicotomia na qual a maioria das pessoas é que menos têm direitos. Esse giro pretende refletir sobre isso a partir da violência de gênero, compreendendo todos os seus componentes, tais como as violências raciais que vão transformar, por exemplo, a violência obstétrica algo marcadamente como racismo obstétrico, a violência contra mulheres lésbicas e todos os papéis institucionais onde muitas vezes nós da Psicologia estamos lá. Nosso primeiro passo para descolonizar nossa prática, nossa vida, nossos corpos, é reconhecer que a colonialidade ainda existe. Não é um desafio simples, mas estamos aqui para pensar estratégias conjuntas cientes de que seja um problema nosso”, assinalou.
Na sequência, os conselhos regionais foram convidados a apresentarem ações que têm desenvolvido e estão relacionadas à temática do evento. A conselheira Isabella Lima, integrante da coordenação da Comissão de Direitos Humanos do CRP-MG, ressaltou a consolidação da CDH mineira a partir de um processo normativo e elencou as principais realizações: a participação no processo editorial da Revista CRP Minas Gerais, a promoção de atividades de sensibilização destinada às pessoas conselheiras durante as reuniões plenárias, a organização de reuniões ampliadas com as Comissões de Orientação e Fiscalização (COF) e de Ética (COE), trazendo a perspectiva interseccional dos direitos humanos para dentro dos processos normativos e orientativos, e o acompanhamento de determinadas fiscalizações. “Junto à COF temos contribuído em fiscalizações a comunidades terapêuticas e demais instituições que são denunciadas em função da violência de gênero, da patologização das dissidências sexuais”, explicou antes de passar para a fase de contextualização prática.
Conselho apoia pesquisa sobre violência de gênero em BH – O CRP-MG, por meio da apresentação de sua conselheira e da colaboradora Camila Augusta dos Santos, em atendimento à demanda de dialogar sobre violência de gênero, trouxe a experiência desenvolvida pelo Fórum Mineiro de Saúde Mental e pela Frente Mineira de Drogas e Direitos Humanos, em parceria com Clínica de Direitos Humanos da Universidade Federal de Minas Gerais (CdH/UFMG), a Defensoria Pública de Minas Gerais (DPMG) e Instituto DH: Promoção, Pesquisa e Intervenção em Direitos Humanos e Cidadania: a pesquisa Condições para o exercício de direitos sexuais e reprodutivos de mulheres usuárias de drogas em Belo Horizonte/MG, que teve o seu processo de devolutiva pública apoiado pela autarquia. “Esse levantamento tem muita relação com este giro, pois certamente nos ajudará a pensar sobre nossas práticas profissionais nos mais diversos contextos que temos trabalhado”, pontuou Isabella Lima.
Camila Augusta explicou que a pesquisa iniciou-se em 2019 e foi concluída em 2023, possibilitando às envolvidas fazer uma imersão sobre a temática. O estudo teve duas frentes: um levantamento de análises em processos jurídicos onde houve a retirada compulsória de filhos de mulheres que buscavam atendimento nos serviços de saúde pública da capital mineira, tendo como uma das justificativas o fato delas terem feito uso de drogas; e uma série de entrevistas comparativas com mulheres que passaram por atendimento em comunidades terapêuticas e em Centro de Referência em Saúde Mental Álcool e Drogas (CAPS AD). Segundo a psicóloga, a pesquisa se tornou um documento de denúncia de violações de direitos.
Giro em outras regiões – A programação do Giro Descolonial da Região Sudeste foi completada por oficinas com protagonismo das psicólogas presentes, incluindo as representantes de comissões temáticas do CRP-MG: Priscilla Messiane, Camila Santos, Agnes Antônia, Laura Queslloya e Ariane Cardoso, que oportunizaram às participantes repensar seu cotidiano e atender o objetivo da atividade. A próxima edição será na região Norte. A série integra a Campanha Nacional de Direitos Humanos do Sistema Conselhos de Psicologia “Descolonizar corpos e territórios: reconstruindo existências-Brasis”.