Psicologia e relações étnico-raciais: Conferência abordou atendimento clínico à população negra

Na conferência de encerramento do Seminário “Psicologia e as Relações Étnico-Raciais”, a psicóloga e pós doutoranda com o tema “Sofrimento psíquico e adequação cultural da clínica psicoterápica à população negra”, Jeane Tavares, abordou o atendimento clínico à população negra.

Professora na Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, Jeane relatou: “eu atendo uma população pobre, analfabeta, com doenças crônicas. E eu tenho excelentes resultados, vejo a transformação na vida das pessoas”.

A professora e pesquisadora afirmou que está cada vez mais convencida de que não há uma abordagem teórica que seja a mais adequada para se trabalhar com a população negra. Segundo ela, o importante é fazer uma clínica contextualizada à realidade, ao vocabulário de quem se atende, o que implica em muita escuta e adaptações de estratégias e instrumentos.

“Se você está querendo fazer um clínica neutra, saiba que é uma clínica ruim. Uma clínica dissociada da Psicologia Social não presta. Tudo o que a pessoa fala precisa ser considerado em contexto. A clínica pretensamente neutra é racializada, porque é voltada para pessoas brancas”, afirmou.

Segundo a professora, profissionais que se propõem a adotar uma postura antirracista precisam considerar, por exemplo, a região da cidade em que vão abrir o consultório, o uso de vocabulário acessível – o que não significa procurar imitar a outra pessoa – e o valor que será cobrado pela sessão.

Jeane Tavares também enumerou algumas situações frequentes que são relacionadas ao racismo e que geram grande sofrimento: “a criança negra pode sofrer muito racismo na família e não se assuste, porque o que você sofre, você vai reproduzir, levar para a família. Mães entram em desespero porque não querem alisar o cabelo das filhas, mas fazem isso porque sabem que pode prevenir um pouco da violência que a criança irá sofrer na rua. Essas mães precisam de um acompanhamento terapêutico muito bom. A Psicologia precisa auxiliar essa mãe a fazer educação racial”, afirmou. “Ser a filha mais escura entre os filhos importa. Ser a criança negra adotada pelo casal branco é entrar num contexto que pode ser absolutamente danoso para sua saúde psíquica para o resto da vida”, completou.

Jeane Tavares também reforçou a importância de que a população negra reestabeleça a esperança e a confiança: “não perceber os nossos avanços é muito destruidor pra nós. Usufruam do esforço dos nossos antepassados para estarmos aqui agora, lindos e livres. Não veremos nessa vida o fim do racismo, mas você estar hoje cursando uma universidade não é pouca coisa”, enfatizou.

Comissão – A conferência foi mediada pela psicóloga e doutoranda em Psicologia (UFMG), Thalita Rodrigues. Thalita falou sobre as ações que têm sido realizadas pela Comissão de Psicologia e Relações Étnico-Raciais do CRP-MG e convidou interessadas(os) a participarem das reuniões, que acontecem aos sábados na sede do Conselho. O calendário de reuniões está disponível no site e no Facebook do CRP-MG. Dúvidas também podem ser enviadas para o e-mail: comissoes@crp04.org.br e pelo telefone: 2138-6754.



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