Psicologia e relações étnico-raciais: “Psicologia pra quem?” foi o tema da primeira mesa que reuniu saberes indígenas, quilombolas e de favelas

A primeira mesa do Seminário “Psicologia e as Relações Étnico-Raciais” que teve como tema “Psicologia pra quem? Encontro de saberes indígenas, quilombolas e de favelas”, contou com a presença de Antônio Bispo, que é quilombola residente no Quilombo Saco Curtume no Piauí, Avelin Kambiwa, indígena e socióloga, e Fransérgio Goulart, favelado e historiador.

Saberes quilombolas – Antônio Bispo relembrou sua história e de sua família, que, de acordo com ele, não possuem a escravidão na memória. “Minha família dominava territórios de terras férteis e muita água, os engenhos mais importantes eram dos pretos. Na década de 1960, as comunidades no Piauí foram atacadas por colonialistas e a situação mudou”, explicou Bispo. Segundo o quilombola, a comunidade sempre possuiu contratos orais entre si e os colonialistas, ao chegarem, se aproveitaram da falta de escrita do povo para estipular novos contratos. “A comunidade, então, levou suas crianças para as escolas dos colonialistas para que aprendessem a escrita e dominassem os novos contratos. Fui uma dessas crianças que dominou a escrita rapidamente e pude continuar na escola para traduzir os contratos para minha comunidade”, relatou.

Racismo e branquitude – Fransérgio Goulart trouxe reflexões a respeito do racismo e da branquitude e explicou que é necessário debater o racismo com pessoas brancas. “O racismo foi criado e imposto por pessoas brancas e desde o início são estas pessoas quem vem pautando o conhecimento. É preciso que agora elas se reúnam e debatam para desconstruir este preconceito”, explicou ele. A partir desse assunto, o historiador trouxe um texto de Ronilso Pacheco, que traduz tais pensamentos. “[…] O racismo é uma ferida que não se cura soprando, é preciso tocar nela profundamente. E isto dói. Sempre houve dor pro sujeito negro. Não pode ser mortal o desconforto e a dor no sujeito branco. […] A notícia triste para a branquitude (ou a boa notícia para as pessoas brancas que querem romper e pensar criticamente a branquitude que as envolve, ou engole) é que este é um caminho sem volta. Pode ser apertado, mas dá pra ajustar e dividir espaço com as vozes negras que vão pautar as discussões (todas) que dizem respeito ao seu contexto, sua história e versões (pois nem tudo é “identidade” nessa vida). O confronto dói, mas gera aprendizado […]”.

Direitos indígenas – Avelin Kambiwa citou a necessidade da existência de cotas para pessoas negras, indígenas e quilombolas, e reforçou a importância de incluirmos os povos indígenas nas discussões sobre etnia e raça. “Há certa desconexão entre o povo negro da cidade e o povo indígena e quilombola. É necessário que essa fenda seja fechada e que estejamos unidos na luta contra o preconceito étnico e racial”, defendeu Avelin, que também comentou sobre o adoecimento da população indígena. “Hoje o que tem nos adoecido é o impedimento. Demarcação das nossas ilhas, a proibição da pesca e da caça além das poucas condições que temos de vender, por exemplo, nosso próprio artesanato e de assim sobrevivermos”, denunciou.



– CRP PELO INTERIOR –