Psicologia em Foco aborda reinserção dos presidiários na sociedade

O ciclo de eventos “Psicologia em Foco” da última quarta-feira (6), teve como tema a “reinserção de presidiários na sociedade”. Foram convidadas a participar da mesa a psicóloga Vilene Magalhães e a presidente da Associação de Amigos e Familiares de Pessoas em Privação de Liberdade, Maria Teresa dos Santos. A mediação foi feita pela conselheira do Conselho Regional de Psicologia (CRP-MG) Madalena Tolentino, que também é psicóloga judicial do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG). O evento aconteceu no auditório do CRP-MG. Clique aqui e veja as fotos.

Vilene Magalhães, que também é servidora pública na Secretaria de Estado de Defesa Social de Minas Gerais (SEDS), apresentou dados referentes à população carcerária no Brasil. Segundo o Ministério da Justiça, o número de presidiários no Brasil aumentou 575% de 1990 a 2014. Minas Gerais tem a segunda maior população carcerária do Brasil, com cerca de 60 mil presos, atrás somente de São Paulo, que tem por volta de 220 mil.

“É um grande problema e nós temos que nos preocupar com isso. O que devemos fazer com essa população para que ela saia com o mínimo de dignidade?”, questionou Vilene Magalhães.  Além disso, os dados mostram que as características de presos revelam a desigualdade social do Brasil. Da população carcerária, 67% são negros e 53% não têm o Ensino Fundamental completo.

A Lei de Execução Penal garante o trabalho da Psicologia no processo de ressocialização do detento através de programas destinados a eles e suas famílias. “Todos os detentos têm direito à cultura, ao lazer, ao trabalho e à educação. Nosso papel é atender de forma individualizada cada um e ajudá-los a se inserirem na sociedade”, analisou Vilene.

Mas, alguns fatores dificultam o trabalho das(os) psicólogas(os) no sistema prisional. Superlotação carcerária, infraestrutura de atendimento precária, assim como déficit de profissionais de segurança e de medicina. Além desses fatores, as(os) profissionais da Psicologia encontram dificuldades nos encaminhamentos ambulatoriais e de emergência. “Isso revela a predominância de uma política repressiva, de supervalorização da segurança e subestimação da ressocialização”, afirmou Vilene Magalhães.

De acordo com a conselheira Madalena Tolentino, a parceria entre o poder público e a iniciativa privada tem sido um dos maiores problemas já vistos no Sistema Prisional. “Existem mais violações de direitos nos presídios privados”, pontuou.

Desafios na atuação da(o) psicóloga(o) – 
A presidente da Associação de Amigos e Familiares de Pessoas em Privação de Liberdade, Maria Teresa dos Santos, fez uma reflexão sobre o processo de ressocialização dos presos. “É preciso dar mais chances, para eles só é oferecido o resto”, criticou.

Ela também fez uma análise de como os profissionais da Psicologia são tratados no Sistema Prisional e ressaltou que a profissão precisa ser mais valorizada. “O profissional também é perseguido no Sistema. Conforme seu trabalho é feito, acaba sendo deslocado para outros presídios e sem chances de desenvolver o trabalho que vinha gerando resultados”, destacou.

“O Estado não dá às (os) psicólogas (os) condições de trabalhar. Se encontrássemos mais apoio, mais eficiente seria o nosso trabalho”, cobrou. Maria Teresa reivindicou apoio do CRP-MG no levantamento de demandas e na facilitação do trabalho feito no Sistema Prisional.

A conselheira Madalena reforçou a importância de que as(os) profissionais procurem o Conselho para serem ouvidos e, em seguida, discutam novas formas de trabalho. “As queixas do sistema prisional chegam sem rosto. Eles têm medo de dizer o que está acontecendo por causa de retaliação. Temos grupos de trabalho, comissões e as pessoas podem nos procurar para darmos toda orientação necessária”, frisou.



– CRP PELO INTERIOR –