15 jun Psicologia em Foco realça implicações da categoria Psi no combate ao trabalho infantojuvenil
Atividade retomou o ciclo de eventos criado pelo CRP-MG em 2015
Compartilhamento de saberes a partir de mais de 20 anos de experiências no combate ao trabalho infantojuvenil foi a tônica do Psicologia em Foco Especial, realizado nesta quarta-feira, 14, em Belo Horizonte.
O ciclo de eventos criado pelo Conselho Regional de Psicologia – Minas Gerais (CRP-MG), em 2015, está de volta para reunir presencialmente profissionais e estudantes em um espaço de diálogo sobre assuntos que afetam o fazer Psi. A agenda das próximas atividades pode ser conferida no calendário de eventos do site e também nos perfis do CRP-MG no instagram e no facebook.
“Desafios e Perspectivas do Combate ao Trabalho Infantojuvenil” foi o tema que reinaugurou o Psicologia em Foco, por meio da Comissão de Orientação em Psicologia, Criança e Adolescente do CRP-MG. O encontro contou com as exposições da integrante da Comissão de Orientação em Psicologia do Trabalho e Organizacional do Conselho, Diana Ferreira, e do membro da comissão propositora da atividade, Manuel Muñoz. A conselheira do CRP-MG, referência da Comissão de Direitos Humanos, Isabella Lima, mediou o evento.
Confira a seguir principais trechos das apresentações:
“Uma coisa que não aparece no meu currículo Lattes, mas que levo com muita importância, é que já são 33 anos de militância na área da criança e do adolescente, na luta pelos direitos delas. Cheguei no Brasil em 1990, quando o Estatuto da Criança e do Adolescente, ECA, foi promulgado e acompanhei desde o início o crescimento e a implementação ao longo desses anos. Por isso vou falar desse lugar de quem viu ao longo de três décadas crianças e adolescentes morrerem por falta de políticas públicas adequadas. Especificamente hoje estamos falando da questão do trabalho infantojuvenil e quero deixar aqui explícito que estamos falando de um tipo de trabalho que atrapalha de fato a vida das crianças. Que não as deixam ser crianças, nem adolescentes e causa um dano ao desenvolvimento. E é qualquer tipo de trabalho. As responsabilidades familiares, a ajuda na família em casa, por exemplo, que vão além do sentido de tarefas educativas, que atrapalham a frequência na escola e o seu desenvolvimento emocional, quando não deixa a criança brincar, são um tipo de trabalho infantil que tem que ser combatido. Infelizmente temos hoje no Brasil mais de um milhão e meio de crianças e adolescentes que estão nessa situação de trabalho. Os números já foram maiores e reduziram graças às políticas públicas. Mas ainda são altos.
Manuel Muñoz
Clique aqui para ver o documento apresentado pelo convidado
“As consequências e as sequelas geradas pelo trabalho infantojuvenil têm sido mantidas invisíveis aos olhos da sociedade – e não importa a quantidade – representando com muita nitidez que cada uma e cada um que aqui está nesta noite tem a responsabilidade de ampliar essas informações, onde estiver. O que temos acompanhado no CRP-MG sobre o trabalho escravo dá conta dos horrores que isso significa. Vemos, por exemplo, crianças que são adotadas e liberadas aos 40 ou 50 anos após uma vida de trabalho escravo. A realidade é muito extensa e é um desafio para cada pessoa aqui. Se não temos coragem para enfrentar desafios é algo a ser pensado com a profissão que nós escolhemos. Não é fácil auxiliar condutas humanas a ficarem melhores. Os índices são muito altos e por isso temos o ECA, temos campanhas, mas não temos noção de como isso tem sido usado, além da própria subnotificação. Os números aqui apresentados hoje não mostram a realidade das crianças que estão sob abuso pelo trabalho. É muito maior. A exploração pelas condições de pobreza da família e dentro dos lares a partir daquelas crenças limitadoras de educar pelo trabalho, tirar da rua, é muito acima do que conhecemos. Temos poucos agentes para fazer fiscalização e retirar essas crianças e adolescentes do trabalho. Mas venho aqui contar e compartilhar que tem jeito de resolver isso. É fantástico acreditar que a gente pode contribuir para transformar essa realidade. Por isso que somos psicólogas.”
Diana Ferreira