Saúde mental da mulher preta: desafios e práticas para o atendimento antirracista no consultório

“Quer violência maior do que você gastar o tempo da sua terapia para convencer o profissional sobre o seu estado emocional e a sua dor?”. A questão perpassou o diálogo proposto no Psicologia em Foco desta quarta-feira, 11/3, que compõe a programação especial do Mês das Mulheres.

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Questões de gênero, raça e classe nortearam a fala das psicólogas convidadas, Rozangela Leite e Jeanyce Araújo. A vice-presidenta do Sindicato das Psicólogas de Minas Gerais (Psind-MG), integrante da Comissão Mulheres e Questões de Gênero do CRP-MG e mediadora do encontro, Monalisa Alcântara, destacou a importância da atividade para psicólogas(os) já formada(os) e em graduação.

Os desafios no atendimento à população negra, em específico às mulheres negras, é um problema que vem desde a formação universitária. A mestra em Psicologia Social, Rozangela Leite, enfatizou a importância do arcabouço teórico e metodológico para lidar com o atendimento às pessoas negras. “A Psicologia Clínica é muito recente, então o processo terapêutico ainda está sendo construído. Por isso que nós falamos da Psicologia Preta enquanto disciplina, ela não deve ser uma bandeira só de quem é preto e vai estudar o recorte de raça”, afirmou.

Os estudos acadêmicos, majoritariamente feitos por homens brancos, não contemplam a realidade de mulheres e homens negros, segundo Jeanyce Araújo, que é psicóloga clínica e integrante da Comissão Mulheres e Questões de Gênero no CRP-MG. “Não tem como fazer uma leitura psicológica, sobre subjetividades sem ter uma formação específica sobre raça. Se nós não estudamos essas categorias como nós vamos fazer intervenções clínicas? ”, questionou.

Sofrimentos psíquicos e físicos advindos do racismo, como: ansiedade, hipertensão arterial, úlcera gástrica, ataques de pânico, depressão, sentimento de culpa e vergonha, se relacionam à hipervigilância de sofrer ou não discriminação, explicou Rozangela.

A hipersexualização de mulheres negras, bem como a ideia associada de “mulher forte” que se origina do “lugar” de matriarca da família, são estereótipos sociais que propiciam o sofrimento de mulheres negras, disse Rozangela. A responsabilidade afetiva e financeira dada a estas mulheres no ambiente familiar impactam diretamente quando falado sobre saúde mental da mulher preta.

Referências:

Materiais de consulta foram citados durante atividade, dentre eles:

Referências Técnicas para a Prática da(o) Psicóloga(o), produzidas pelo Centro de Referência Técnica em Psicologia e Políticas Públicas (Crepop);
Nota Orientativa “Convite a tirar o racismo do vocabulário”, do Conselho Federal de Psicologia;
Artigo “Psicoterapia, raça e racismo no contexto brasileiro: experiências e percepções de mulheres negras”, de Marizete Gouveia e Valeska Zanello.



– CRP PELO INTERIOR –