30 nov Sistema Conselhos de Psicologia lança Campanha Nacional de Direitos Humanos
Durante o lançamento em Brasília, foram apresentados os objetivos centrais da campanha e as ações previstas. CRP-MG integrou a ação
Representantes de todo o Brasil se reuniram na capital federal nos dias 22 e 23 de novembro para o Encontro Nacional das Comissões de Direitos Humanos do Sistema Conselhos. Na ocasião, foi lançada a Campanha “Descolonizar Corpos e Territórios: Reconstruindo Existências Brasis”.
O presidente do Conselho Federal de Psicologia (CFP), Pedro Paulo Bicalho, introduziu o tema explicando que, mais do que marcar um tempo histórico, o verbo “colonizar” se refere a uma tecnologia de poder que produz concretudes no mundo, a exemplo da desigualdade social. “Hoje o Brasil é considerado o segundo país mais desigual do mundo. Aqui, 1% da população acessa 28,3% do PIB. Só não somos mais desiguais do que o Catar”, destacou o conselheiro, que continuou: “A desigualdade também se expressa na violência. Somos o país que mais mata pessoas travestis e transexuais no mundo. Também somos o quinto em feminicídio e o sétimo em assassinato de jovens. E quando travestis e transexuais, mulheres e jovens são negras e negros, as chances de morrer são muito mais altas. Portanto, temos muitos motivos para afirmar que é necessário descolonizar”, avaliou.
A coordenadora da comissão de Direitos Humanos do CFP, Andreza Costa, contou que a campanha foi construída de forma coletiva: “A gente sabe que, dentro desse campo dos Direitos Humanos, estar sozinho é luta perdida”, ponderou. De acordo com a psicóloga, dentre os objetivos da Campanha está entender os atravessamentos e a pluralidade do Brasil, considerando a interseccionalidade nas leituras: A lente pela qual enxergamos o mundo é atravessada pelas construções sociais e pelas histórias de vida. Cada um aqui parte de um lugar para enxergar um fenômeno ou uma situação, portanto esse descolonizar inicia com nós mesmos”, defendeu a conselheira.
O Presidente do Conselho Nacional de Direitos Humanos, André Leão, participou do evento e destacou a pertinência da Campanha: “O momento é muito oportuno, pois, apesar de grandes marcos simbólicos normativos de Direitos Humanos, como a celebração dos 75 anos da Declaração Universal de Direitos Humanos e dos 35 anos da Constituição Federal completados em 2023, continuamos a ver situações gravíssimas de violações dos Direitos Humanos no Brasil e no exterior”, lamentou.
Também presente, o diretor de Promoção dos Direitos da População em Situação de Rua, do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC), Léo Pinho, ressaltou a trajetória do CFP na promoção dos Direitos Humanos no Brasil: “O Conselho nunca abriu mão dos seus princípios. O próprio Código de Ética da profissão, nos seus princípios fundamentais, afirma que psicólogas e psicólogos basearão o seu trabalho no respeito e na promoção da liberdade, da dignidade, da igualdade e da integridade do ser humano, apoiado nos valores que embasam a Declaração Universal dos Direitos Humanos”, lembrou.
Representante do Ministério dos Povos Indígenas na solenidade, Jecinaldo Sateré compartilhou sua reflexão sobre o tema da Campanha: “Nós, povos indígenas, população negra, população quilombola, os que vieram e formam as estrutura das raças brasileiras, sentimos esse impacto da colonização nas nossas mentes desde a colonização, afetando nas nossas vidas e nossa cultura”. Na sequência, o líder indígena frisou o papel da resistência, da força e da espiritualidade na superação das dificuldades, comparando com a Psicologia. “Na minha opinião, a psicologia e a espiritualidade indígena se parecem muito. Elas representam o equilíbrio. Se não houver equilíbrio, comete-se grandes erros. Grandes líderes estão cometendo erros, por exemplo, promovendo guerras. Então parabéns, psicólogas e psicólogas, por ajudarem a equilibrar o mundo tão desequilibrado e tão turbulento em que nós vivemos hoje”, saudou.
CRP-MG
Na ocasião, psicólogas e psicólogos representantes das Comissões de Direitos Humanos dos Conselhos Regionais de Psicologia (CRPs) apresentaram o trabalho desenvolvido
em seus territórios, compartilhando experiências e desafios. Minas Gerais foi representada pela conselheira Isabella Lima, membra da coordenação colegiada da Comissão de Direitos Humanos do Conselho Regional de Psicologia – Minas Gerais.
Sobre as atividades desenvolvidas em Minas, Isabella destacou o trabalho conjunto das Comissões de Direitos Humanos, de Orientação e Ética e de Orientação e Fiscalização nas construções internas e nas atividades de orientação em Direitos Humanos para a categoria. “Além disso, iniciaremos um diálogo com as pessoas que representam o CRP-MG nos conselhos de direitos, com o intuito de manter o trabalho que está sendo realizado e alinhar nossas estratégias de promoção dos direitos humanos”, acrescentou a conselheira. Por fim, a psicóloga apresentou iniciativas de trabalho em colaboração com outras instituições: “Não obstante os diversos desafios, essas parcerias demonstram o reconhecimento da Comissão de Direitos Humanos do CRP-MG como um órgão que atua na promoção e defesa dos direitos humanos em Minas Gerais”, concluiu.
Além de Isabella, participou do encontro em Brasília a membra da Comissão de Direitos Humanos do Conselho Federal de Psicologia indicada pelo CRP-MG, Paula Gonzaga. A psicóloga conduziu a palestra “Interseccionalidade: complexificando ciência e a práxis psicológica”.
Assista a solenidade de lançamento da campanha na íntegra: