30 out Uso de telas na infância: CRM-MG mobiliza sociedade e profissionais da saúde com campanha Juventude Segura
Especialistas alertam para perda de habilidades sociais e danos psíquicos, defendendo a psicoeducação de pais e escolas como forma de prevenção

As(os) conselheiras(os) do CRP-MG Fabiana Alcântara (à direita) e Lucas Ayres (à esquerda) cumprimentam o Dr. Hermann Tiesenhausen
O Conselho Regional de Psicologia de Minas Gerais (CRP-MG) participou, na última quinta-feira (23), do lançamento da campanha Juventude Segura, porque a realidade vale mais, idealizada pelo Conselho Regional de Medicina de Minas Gerais (CRM-MG). A iniciativa do Dr. Hermann Tiesenhausen, médico e conselheiro do CRM-MG, pretende criar um movimento de longo prazo, a fim de mobilizar a sociedade sobre um dos maiores desafios da saúde pública contemporânea: os impactos do uso excessivo e precoce de tecnologias digitais no desenvolvimento de crianças e adolescentes.
A iniciativa, que reflete um compromisso com a saúde, o bem-estar e a ética, surge em um momento crítico. Dados da pesquisa TIC Kids Online Brasil 2025, divulgados também no dia 23 de outubro, realizada pelo Cetic.br/NIC.br, revelam que 92% das crianças e adolescentes brasileiros estão conectados, totalizando 24,5 milhões de jovens. O celular é o dispositivo principal para 96% deles, usado várias vezes ao dia por 74%. Mais do que um instrumento de comunicação, a tecnologia se tornou uma ferramenta multifuncional: 65% já utilizam Inteligência Artificial, seja para pesquisas escolares (59%), busca de informações (42%) ou, alarmantemente, para conversar sobre questões pessoais e emocionais (10%).
Da informação à ação: os riscos à saúde integral

Dr. Marco Antônio Gama
Durante o evento de lançamento, o médico Dr. Marco Antônio Gama apresentou uma visão neuropsicológica em relação ao uso das telas. “Antes tínhamos: Impulso – Pensamento – Ação. Agora vemos: Impulso – Ação”, ilustrou, destacando a perda da capacidade de reflexão e o prejuízo no desenvolvimento motor, psíquico e social das crianças. Os danos, conforme alertado, podem ser irreversíveis, incluindo desde a pressão estética até o suicídio. A exposição a conteúdos perigosos, como sites que fazem apologia a anorexia e ao suicídio, e a publicidade digital massiva, vista por 84% dos jovens, acendem um sinal de alerta.
O papel crucial da Psicologia: psicoeducação e fortalecimento de vínculos
É neste cenário que a Psicologia se insere como pilar fundamental. Representando o Conselho Regional de Psicologia – Minas Gerais (CRP-MG), o conselheiro Lucas Ayres manifestou sua preocupação. “A saúde integral das crianças e adolescentes da nossa sociedade deve ser um dos nossos norteadores”, afirmou. “A Psicologia tem um papel crucial, não só nos tratamentos de crianças e adultos, mas também na conscientização dos pais e na defesa pelo desenvolvimento saudável psíquico, social e comportamental”, afirmou.
A fala do conselheiro ecoa as necessidades apontadas pela pesquisa TIC Kids: apenas 44% dos pais conversam com seus filhos sobre suas atividades online, e só 37% usam recursos para limitar o tempo de tela. A Psicologia, portanto, atua na base, na psicoeducação, um termo-chave citado por Lucas. Isso significa orientar gestantes, mães e pais sobre os riscos e o uso consciente das telas, capacitando-os a detectar problemas antes que se agravem. Além disso, a campanha enfatiza a necessidade de fortalecer vínculos familiares. “A perda de vínculo dos pais” e a “perda da capacidade de brincar” foram citadas como fatores agravantes. A Psicologia oferece ferramentas para reconstruir essas conexões, promovendo a comunicação, o desenvolvimento de habilidades sociais, a empatia e a criação de um ambiente familiar acolhedor, que previne a busca por válvulas de escape prejudiciais no mundo digital.
Outro ponto abordado pelas perspectivas psicológica e médica é o perigo dos rótulos. “O estrago que um rótulo pode fazer na vida de uma criança e adolescente” e “diagnósticos feitos sem cumprir os protocolos necessários” foram falas do Dr. Marco Antônio Gama, pediatra e hebiatra. A atuação qualificada da(o) psicóloga(o) é essencial para avaliações precisas e para evitar a patologização de comportamentos típicos da infância e da adolescência.
Uma corrente positiva pela juventude fora das telas
A campanha Juventude Segura propõe uma mudança de cultura, transformando a prevenção em um hábito social. As iniciativas visam resgatar essa habilidade por meio de brincadeiras presenciais, lembrando que “a tecnologia aproxima, mas também isola”.
Para contribuir com essa mudança, a campanha convoca todos a se engajarem em uma série de ações. É importante mobilizar famílias, escolas e sociedade em torno do objetivo comum de construir uma rede de proteção à infância e adolescência. Isso se inicia com uma conversa aberta e constante sobre o tema, transformando a informação em uma corrente positiva que alcance todos os ambientes. Dentro de casa, a atitude prática é fundamental, priorizando o exemplo de um uso consciente das telas e o resgate de momentos de interação sem dispositivos digitais. Por fim, é muito importante que as crianças participem ativamente de ações que promovam a saúde integral, o brincar livre e o desenvolvimento de habilidades socioemocionais, fundamentos para uma juventude verdadeiramente segura.
A Juventude Segura é, no fim, um chamado à responsabilidade coletiva. Como concluiu o conselheiro do CRP-MG, é preciso “auxiliar a psicoeducar a sociedade sobre o uso de telas”. Cuidar das crianças e adolescentes de hoje, mediando sua relação com a tecnologia e fortalecendo seus vínculos com a realidade, é cuidar do futuro da sociedade na totalidade.







