25 out Psicologia em Foco ressalta a articulação do cuidado na redução dos desastres

Às vésperas dos 3 anos da tragédia de Mariana, CRP-MG promove reflexão sobre a Psicologia nas Emergências e Desastres

“Articulação do cuidado na redução dos desastres”. Esse foi o título do Psicologia em Foco desta quarta-feira, 24/10, realizado pelo Conselho Regional de Psicologia – Minas Gerais (CRP-MG), em Belo Horizonte. O evento integra um ciclo permanente de debates semanais, sempre às 19h, na sede do CRP-MG, trazendo temas de interesse da categoria e da sociedade.

Assista ao vídeo. 

Nesta edição foram convidadas as psicólogas Lilian Garate, especialista em Salud Mental en Emergencias, Catástrofes y Desastres; integrante da Comissão de Psicologia de Emergências e Desastres do CRP-MG; e Júnia Lara, conselheira e coordenadora da Secretaria de Orientação e Ética do Conselho Federal de Psicologia (CFP). Mediou a mesa, Tárcia Dutra, coordenadora da Associação Brasileira de Medicina de Emergências e também integrante da Comissão de Psicologia de Emergências e Desastres do Conselho.

Antes de compor a mesa, a conselheira coordenadora da Comissão de Psicologia de Emergências e Desastres do CRP-MG, Mariana Tavares, explicou que o Psicologia em Foco, a partir deste mês de outubro, também funciona como evento preparatório do 10º Congresso Nacional de Psicologia (CNP).  Por essa razão, em cada momento como este a categoria é convidada a pensar propostas para serem discutidas nacionalmente.

Lilian Garate abriu a fase de apresentações promovendo uma reflexão sobre quando é possível dizer que um resgaste foi bem-sucedido, ressaltando que do ponto de vista psicológico e social ainda há muitos processos depois do resgate técnico. “É exatamente a partir disso que o trabalho da psicóloga(o) começa”, disse.

Segundo a psicóloga, o sismo que aconteceu no Chile, em 2010, demandou uma forte presença de profissionais da Psicologia, porque o nível de sequelas psicológicas foi grandioso. Para ela, a Psicologia permite que o processo pós-acidentes seja mais leve e fluido, pois é o momento em que o indivíduo pode voltar a dar movimento à vida, retomando suas redes e projetos. “Não é algo que pode ser esquecido, mas não será mais o eixo da vida”, completou.

Para finalizar sua fala, Lilian reiterou que “uma das boas possibilidades que as(os) psicólogas(os) têm na articulação de emergências e desastres não é só no atendimento, mas na facilitação da comunicação entre os envolvidos e no apoio à construção de empatia”.

Atuação – Júnia Lara mostrou os marcos lógicos e legais da profissão de psicóloga(o) que apontam para a importância da sua atuação nas Emergências e Desastres. A conselheira apresentou um mapeamento dos locais onde a categoria está presente em Minas Gerais: Coordenadoria Estadual de Defesa Civil, 696 coordenadorias Municipais de Defesa Civil, Corpo de Bombeiros, Secretaria de Obras e Infraestrutura da Prefeitura de Belo Horizonte, Companhia Urbanizadora e de Habitação de Belo Horizonte, e Núcleo de Alerta de Chuvas-BH.

“Em relação ao exercício profissional da(o) psicóloga(o), no que diz respeito ao protagonismo social das pessoas afetadas, sugere-se especial atenção na prática psicológica para não promover a vitimização ou patologização dessas pessoas, assumindo uma conduta ética baseada na defesa da garantia de direitos”, explicou a conselheira do CFP. Para ela, é preciso “pensar estratégias de aprimoramento e fortalecimento do papel do psicólogo nas emergências e nos desastres e articular junto às Instituições de Ensino ações de inserção da temática nos cursos de graduação em Psicologia”.

Carta de psicóloga que atua em Mariana

Durante o debate, Mariana Tavares leu a mensagem da psicóloga Cecília Ribeiro, que integra a equipe Psicossocial da Assessoria Técnica da Cáritas:

“Se aproxima o 5 de novembro, quando se completa três anos do rompimento da barragem do Fundão, de propriedade da Samarco, Vale e BHP. Nesses 3 anos muita luta foi feita pelos atingidos em busca de justiça.

Em Mariana, os atingidos conquistaram um cadastro que abarca todos as perdas e danos sofridos. O reassentamento de Paracatu de Baixo teve o projeto urbanístico aprovado pela comunidade, mas muito ainda precisa ser feito. Já são 3 anos do maior crime socioambiental do país e as famílias ainda não têm suas casas. Não receberam indenizações justas e muitas ainda sequer foram reconhecidas como atingidas. Não há dúvida que a demora no processo para uma reparação justa é uma estratégia para que as famílias se cansem, se desarticulem da luta coletiva. Mas não deixaremos que esse crime seja esquecido, seguimos nos fortalecendo em busca por justiça”.

A Cáritas Regional de Minas Gerais desenvolve o projeto de Assessoria Técnica aos atingidos pelo rompimento da barragem de Fundão da Samarco por meio de uma equipe multidisciplinar desde novembro de 2016.