A assustadora realidade de jovens negros no Brasil

As atrocidades com indígenas e africanos, durante a escravidão no Brasil, foram muitas. Oficialmente, em 13 de maio de 1888, essa condição foi abolida. Entretanto, nos dias atuais, o Brasil vive uma “falsa democracia racial” que, dia após dia, revela um Estado indiferente às desigualdades produzidas pela escravidão de séculos passados. “As estatísticas denunciam a assustadora realidade de jovens negros no país”, disse Marta Soares, terapeuta ocupacional e gerente do Centro de Convivência São Paulo, que coordenou a última mesa da Semana da(o) Psicóloga(o).

Com o tema “Extermínio da juventude negra no Brasil: pela construção de uma cultura de paz e inclusão social”, as palestrantes trataram das ações e práticas para reverter o cenário da alta mortalidade de jovens negros, vítimas de homicídios no Brasil. Realizada no dia 22 de agosto, o debate contou com a participação da diretora do Programa de Controle de Homicídios – Fica Vivo! Núcleo de Promoção Social da Juventude, Michele Duarte; da coordenadora do Núcleo Psicoterapêutico do Instituto AMMA Psique e Negritude, Maria Lúcia Silva; e da psicóloga e integrante da coordenação do Plano Juventude Viva: Plano de Prevenção à Violência contra a Juventude Negra da Secretaria Nacional de Juventude, Larissa Amorim Borges; além da coordenação de Marta Soares.

A diretora do “Fica Vivo”, Michele Duarte, apresentou aspectos importantes presentes nas periferias brasileiras, entre eles, a atuação policial. Para Michele, a ação violenta exercida pelo poder policial só enaltece os danos da desigualdade, deixando a concepção de justiça totalmente revirada. Ela destaca que é preciso constituir uma força policial que realmente respeite os direitos e trabalhe junto à sociedade.

Duarte ainda chamou a atenção para o perigo da “naturalização de morte de jovens negros”, dando como exemplo a criação de “uma certa expectativa” de vida para essa população. Michele também reforçou que não devemos abandonar os jovens, nem os envolvidos com o tráfico, e defendeu a construção de um discurso que aloje a todos, que extrapole as classificações, como marginal e bandido. “Que tenha, em seu horizonte, perspectivas distintas da segregação e da morte, para que seja construída uma prática, que trabalhe no sentido da valorização da vida e direitos”.

No início de sua fala, Maria Lúcia Borges apresentou dados alarmantes da mortalidade da juventude negra no país. Só em 2010, foram assassinados, no Brasil, 34.983 mil jovens negros. Ela ainda acrescentou que o número de vítimas de homicídios subiu de 23.952 para 34.983, aumentando 29,8% a morte entre essa população. A psicóloga questionou a falta de políticas públicas para reverter esse quadro. “Os jovens negros não são o futuro da nação”, ressalta. Para Maria Lúcia, parte da sociedade vive impune, sabendo que não há nenhuma medida que combata a violência contra os negros. Ela explica que o racismo e a falta de políticas contra essa violência significam desumanizar os negros.

A última palestrante, Larissa Amorim Borges, apresentou um vídeo intitulado “O menino Joel”, que trata da história de uma criança negra e moradora da periferia, morto por ação policial violenta, ressaltando os frequentes assassinatos causado por uso excessivo de força policial. Larissa integra a equipe de coordenação do Plano Juventude Viva, coordenado pela Secretaria Nacional de Juventude, em parceria com a Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir), que atua no enfrentamento da violência contra a juventude brasileira, especialmente, os jovens negros.

No combate aos altos índices de homicídios entre esses jovens, Larissa destaca a luta para a aprovação da PL 4471/2002, projeto de lei que tem como objetivo criar mecanismos específicos para investigação de mortes resultantes da ação policial,questionando os autos de resistência, que muitas vezes são usados para mascarar lesões corporais e homicídios cometidos por policiais. Outra luta dos movimentos sociais no enfrentamento ao extermínio da juventude negra é contra a redução da maioridade penal. Para Larissa, essa medida tornará, ainda mais profunda, a desigualdade de direitos para os jovens negros.

Assista AQUI o vídeo.

Durante toda a Semana da(o) Psicóloga(o), o CRP-MG homenageou movimentos sociais que se destacaram na trajetória em defesa dos Direitos Humanos. O homenageado no último dia de debate foi o Grupo de Amigos e Familiares de Pessoas em Privação da Liberdade, representado por Grazielle Arcanjo.

Confira AQUI mais fotos do debate “Extermínio da juventude negra no Brasil: pela construção de uma cultura de paz e inclusão social”.



– CRP PELO INTERIOR –