A realidade da mulher negra foi a tônica do debate no Conselho, neste 20 de novembro

O Conselho Regional de Psicologia – Minas Gerais (CRP-MG) promoveu, em sua sede, neste 20 de novembro, Dia da Nacional de Zumbi e da Consciência Negra, o Psicologia em Foco “Realidades das violências: saúde e existência da mulher negra”.

O registro da mesa, na íntegra, está disponível em vídeo.

As convidadas para o debate foram Isadora Celestino, médica, atuante na Estratégia Saúde da Família do município de Contagem, integrante do Coletivo Negrex; e Jeanyce Araújo, psicóloga social, atuante na Saúde Mental como psicóloga clínica e acompanhante terapêutica, integrante da Comissão Mulheres e Questões de Gênero do CRP-MG. O evento foi mediado por Joice Castro, graduada em Psicologia, pós-graduanda em Clínica Psicanalítica na Atualidade e integrante da Comissão de Psicologia e Relações Étnico-Raciais do Conselho.

Ao começar sua apresentação, Isadora Celestino desconstruiu o conceito corrente de “saúde” dizendo que não é a ausência de doenças, mas é determinada pelo acesso à educação, trabalho, lazer, habitação, renda e cultura, entre outros. Expôs uma série de pesquisas e reportagens para ressaltar que “as pessoas morrem por condições que não conseguem resolver”. A médica também abordou as questões da gravidez e parto de mulheres negras.

“A redução da mortalidade materna é o objetivo do milênio e as mulheres negras são as que mais morrem na gravidez e no parto por uma série de fatores, tais como o acesso dificultado aos serviços de saúde, a qualidade da assistência prestada, a predisposição a doenças, o estresse e as vulnerabilidades sociais”, explicou Isadora Celestino. Ela afirmou que as estratégias de solução passam pelo combate institucional ao racismo, pela equidade de direitos e implementação de políticas específicas. “As mulheres negras morrem porque estamos decidindo quais vidas importam”, concluiu.

Mulheres e pessoas negras são desprivilegiadas – Jeanyce Araújo discorreu, na sequência, sobre o estereótipo de louca dado às mulheres desde o século XIX, que parte do pressuposto que é orgânico, que há uma predisposição, e que todas as que buscavam autonomia e liberdade se enquadravam como detentoras de transtornos mentais. Segundo a psicóloga, são aquelas que não seguem as normatizações sociais: não têm desejo de ter filhos, casar, entre outras.

“Além disso, o sexo é usado para constituir as hierarquias e, a partir disso, nós mulheres e negras fomos desprivilegiadas”, pontuou a convidada, que concluiu a ideia citando texto da filósofa norte-americana Angela Davis, que apresenta a mulher negra como uma criatura sem valor e, por consequência, seus filhos também.

A psicóloga fez referência, então, às Recomendações nº 5 e nº 6, do Ministério Público de Minas Gerais, que orientavam profissionais de saúde, agentes comunitários, gerentes e responsáveis por unidades básicas a avisar à Vara da Infância e da Juventude sempre que uma mulher mãe que fizesse uso de álcool e outras drogas ou estivesse em situação de rua, de violência doméstica fosse dar à luz, com o objetivo de encaminhar o bebê para casas de acolhimento e futura adoção.

“Muitas mães perderam suas crianças e em sua maioria são negras e pobres. Essas recomendações caíram, mas os casos de retirada continuam acontecendo com a justificativa que essas mulheres não têm condições de cuidar, porque a lógica de cuidado dela é diferente da lógica de cuidado burguesa. Mas organizamos uma rede para protegê-las”, avisou, Jeanyce Araújo.



– CRP PELO INTERIOR –