Acesso e empregabilidade para população trans foi tema de Psicologia em Foco

Nesta quarta-feira, 17, o ciclo de debates do Psicologia em Foco realizou atividade com o tema “Identidades diversas na prática organizacional”, no Conselho Regional de Psicologia – Minas Gerais (CRP-MG). O evento foi mediado por Dalcira Ferrão, psicóloga, especialista em Administração Pública na Fundação João Pinheiro, conselheira e coordenadora das comissões de Psicologia, Gênero e Diversidade Sexual e de Psicologia e Relações Étnico-Raciais do CRP-MG.

Para dar início as falas, a psicóloga Isabella Santos, que é pós-graduada em Gestão de Pessoas (PUC Minas) e compõe a frente de trabalho do primeiro Programa de Socioaprendizagem no sistema prisional do Brasil, com jovens adultos, sendo eles também pessoas com deficiência (PcD) que estão inseridos na Penitenciária Público Privada de Ribeirão das Neves, contextualizou suas vivências profissionais e os impactos de sua formação acadêmica no trabalho com a população trans.

Contou que durante sua graduação questionou a forma como a população trans se insere no mercado formal de trabalho. “Se essa população não está na prostituição, onde estão e como estão? ”, contestou. Desde então, trabalha em projetos e empresas que fomentam a empregabilidade de pessoas trans, e busca a partir de suas experiências estruturar e atender da melhor maneira possível as demandas da população trans. “Mais do que precisar do trabalho é um direito ter um trabalho. É promover a cidadania através do trabalho”, disse.

Laura Nazareth, falou em seguida. Ela é mulher trans e estudante de Engenharia Ambiental na Universidade Federal de Minas Geiras (UFMG). Destacou que os principais direitos negados a população trans são as suas identidades e o nome social. Citou nomes importantes para a luta, dentre eles, João W. Nery, que possibilitou que pessoas trans conseguissem ter o seu nome social. “O direito de ter meu corpo, minha identidade e meu nome foi um direito conquistado. Eram várias situações que eu passava, parecia que meu nome não era legitimado”, afirmou.

A estudante destacou, ainda, que muitas pessoas dizem que tem sorte em ser acolhida por sua família, no entanto, ela chamou a atenção para a afirmação “amor não é privilégio. Muitas pessoas dizem que se minha família me aceita é um privilégio, mas todas as pessoas merecem ser amadas. Da a noção de que somos sujas, que somos pessoas que não merecemos ser amadas. A sociedade nos coloca como pessoas loucas, nós não temos nem nosso nome reconhecido”.

Nathan Neubaner, homem trans, estudante de Engenharia de Transportes do CEFET/MG, militante pelos direitos da população trans e jovem trabalhador do Programa de Aprendizagem Profissional da Rede Cidadã, também compartilhou suas vivências no evento. Disse que já passou por situações constrangedoras no mercado devido a questões de gênero. Para ele, os estudos foram uma forma de inserção no trabalho formal, e também, a maneira de fortalecer seus laços com sua família, que não lidava bem com a transexualidade.

Compartilhou sua experiência no ensino superior, mais especificamente em uma faculdade privada, e contou que a alteração do seu nome social seria somente na chamada. Nos demais espaços, como biblioteca e no sistema acadêmico, o nome da documentação ainda seria usado, não respeitando sua verdadeira identidade. Nathan afirmou que só após entrar em uma faculdade pública foi realmente respeitado. “Se não fosse em uma federal não seria de forma alguma”, destacou.

Os ciclos de eventos Psicologia em Foco do mês de julho integram a programação da 6ª Jornada LGBTI de Belo Horizonte, e trazem temas relacionados à diversidade sexual.



– CRP PELO INTERIOR –