19 jul Adoção, devolução e construção da parentalidade foram discutidos em evento do CRP-MG
O Psicologia em Foco desta quarta-feira, 18/7, debateu o “Processo de adoção: os impasses que envolvem o ‘desejo de adotar’ e a devolução”. Veja o encontro na íntegra.
A psicóloga da Vara da Infância de Belo Horizonte, Letícia Greco, pós-graduada em Psicologia Clínica e pós-graduanda em Psicanálise Clínica da Criança e Adolescente falou sobre o processo de adoção. A psicóloga enfatizou a adoção tardia (acima dos 3 anos), explicando que é nesses casos que ocorrem o maior número de devoluções. “Nós consideramos adoção tardia a partir dos 3 anos, essa adoção deve ser tratada com muito cuidado, pois muitos casais querem, mas na hora de criar os vínculos percebem que não é algo tão simples”, disse.
Letícia Greco explicou que é necessária a preparação para os casais no processo de adoção, mas há entraves: “temos uma equipe técnica muito pequena para fazer preparação de casais em caso de adoção tardia. Os casais precisam ter um momento para entender esse processo e como essa criança pode se desenvolver”.
A psicóloga também pontuou que para a criança esse é um processo muito complicado devido à ausência de confiança no adulto por toda a história de abandono que ela traz da família biológica. Ela também falou sobre o temor dos casais em adotar uma criança: “há muitos casos em que os pais têm receio da bagagem que a criança carrega, por isso, preferem bebês”, explicou Letícia Greco.
A psicóloga Marina Otoni, mestre em Psicanálise e idealizadora do blog e projeto Pais em Cena, trouxe um pouco de suas pesquisas e experiências sobre parentalidade. “Quando a Letícia fala das questões que os pais adotantes enfrentam é impressionante como se assemelham às questões dos pais biológicos que eu recebo na clínica”, contou a psicóloga. Ela ainda acrescentou que a cada dia fica mais evidente para ela que todo casal ou pessoa que quer ter uma relação parental precisa fazer análise. “A gente precisa, sim, se preparar para ser pais”, afirmou.
“Paternidade e maternidade, ao contrário do que nossa cultura insiste em dizer, é uma construção cultural. Nós estamos em uma cultura em que o mito do instinto materno é muito vivo, essa ideia de que nós mulheres nascemos para ser mães, que isso é algo natural, inerente à nossa condição física e que todo mundo vai ter filhos e vai amá-los de forma incondicional. Mas na verdade não é bem assim”, disse Marina Otoni.
A mediação da mesa foi feita por Lieny Francis, pós-graduanda em Psicologia Jurídica, com experiência no atendimento psicossocial e intervenções com famílias no campo das Políticas Públicas e integrante da Comissão de Psicologia e Relações com a Justiça do CRP-MG.